Debate Trump-Harris: Circo da Idiocracia Estadunidense

O debate entre Donald Trump e Kamala Harris exemplifica perfeitamente a decadência intelectual e moral das elites estadunidenses.

Do ponto de vista do entretenimento, o primeiro debate entre Donald Trump e Kamala Harris foi bem menos divertido do que o debate entre Trump e Biden. E eu comecei comentando sobre o valor “cômico” do debate porque esse é o único proveito que se pode tirar desse tipo de circo político-eleitoral.

Como temos apontado há muito tempo, debates não servem para absolutamente nada. São apenas arenas em que se tenta decidir quem é o melhor sofista. E os debates usualmente fracassam inclusive nisso, porque a tendência é sempre que os apoiadores de cada lado saiam cantando vitória.

De resto, em primeiro lugar, Trump não estava debatendo apenas com Kamala Harris. Não foi um debate entre duas pessoas. Foi um debate entre Trump, de um lado, e Harris e os apresentadores do outro. A cada tópico, os apresentadores interrompiam para contra-argumentar contra Trump, o que é um tanto ridículo e demonstra com clareza que as empresas de mídia não são meros “espaços informacionais”, tendo interesses políticos específicos nas eleições.

O conteúdo do debate propriamente dito foi medíocre. Ambos são palhaços de circo, de pouca amplitude intelectual e de péssima articulação discursiva. A classe política estadunidense só é comparável à brasileira em sua tosquice.

Por uma parte, ambos ficaram se acusando mutuamente de não servirem Israel o suficiente, demonstrando uma vez mais que a prioridade da elite estadunidense é Israel, e não o próprio povo. Foi quase na mesma linha o tema ucraniano, com Harris acusando Trump de ser putinista, e Trump acusando Harris de ser apoiada por Putin.

A única diferença aí é que Harris diz que se Trump estivesse na presidência Putin estaria já em Kiev, enquanto Trump acusa Harris de não estar interessada na paz. De fato, Harris deixou claro que ela considera a defesa da Ucrânia vital para os interesses dos EUA na Europa. Mas não se deve acreditar na noção de que sob Trump o conflito ucraniano acabaria rapidamente. Trump não cessaria as remessas de uma hora para a outra e tentaria fazer “jogo duro” diplomático com Putin pra mostrar que é um “bom negociador”.

A realidade é que mesmo que Trump reduza o nível de engajamento dos EUA na Ucrânia, as elites europeias tentarão compensar isso de outras formas, o que inclusive pode acelerar a escalada.

Outros tópicos estiveram permeados por previsibilidade. Trump mencionou o caso da inundação repentina de imigrantes haitianos em Springfield, Ohio, mencionando os boatos de que os imigrantes estariam comendo animais de estimação. Harris não tem nenhuma postura clara em relação à imigração, exceto de que ela é “boa”, se for “legal”. Quanto a Trump, ele esteve 4 anos no poder, mas não fez nada de significativo contra a imigração, então a sua abordagem desses temas não passa de populismo eleitoral.

Trump, aliás, enfatizou que no seu governo ele pretende erguer barreiras protecionistas contra bens importados. Isso é interessante porque significa que sob Trump, o “desacoplamento” econômico tende a acelerar. Ele também parece querer impor barreiras alfandegárias a países que se desdolarizem, o que também é ótimo. Quanto a Harris, não há nenhum projeto claro e específico exceto dar continuidade à “Bidenomics”, que fracassou (e fracassou inclusive por causa da péssima política externa).

O resto foram acusações mútuas bastante toscas e sem sentido.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

Artigos: 45

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