Se no mundo tradicional havia passagens claras entre a infância e a idade adulta e toda a pedagogia estava preparada para encaminhar os jovens rumo à maturidade, na pós-modernidade tudo está construído ao redor da manutenção da imaturidade como busca pela satisfação individual.
Rivarol: Em seu primeiro ensaio, você apresenta brilhantemente uma sociedade onde a infantilização triunfa. Em que o permanecer na infância é a marca de nossa época?
Thomas Boussion: Esta é não apenas a marca de nossa época, mas também da nossa zona geográfica. O Ocidente contemporâneo é atingido pela infantilização, mas não acredito que possamos dizer o mesmo da Índia, da China, da Rússia, da Arábia Saudita, do Irã…
As “democracias liberais” deram à luz um modelo de sociedade onde um número crescente de indivíduos recusa qualquer tipo de restrição, esforço e sofrimento. Focada no prazer, na leveza, no jogo, no consumo, na despreocupação, na irresponsabilidade, essa população se desvia do que constitui o ideal adulto – o trabalho, a construção, a produção, o sentido coletivo, a tomada de responsabilidades, a abnegação, ou até mesmo o sacrifício pela comunidade – e adota atitudes próximas às da infância.
Essa transformação é encorajada por uma promoção massiva, e isso por todos os canais. No Ocidente, tudo é feito agora para promover a imaturidade, com a ideia central de que a infância e o mundo adulto devem estar no mesmo plano, sendo um tão valioso quanto o outro em termos de capacidades e moral. A imaturidade não é mais uma falha, mas tornou-se um traço positivo da juventude e o veículo principal do “progresso”.
Essa inversão de valores não é nova, pois, em sua parte visível e espetacular, data pelo menos dos anos 60. Mas também podemos remontá-la a muito mais longe: explico no livro que ela é, na realidade, constitutiva da lógica do Capital, e portanto ligada em potência – e agora em ato – ao nosso sistema de produção.
Você descreve como a Tradição quer superar a criança. Em que a sociedade tradicional se baseia na maturidade e que sentido você dá a essa noção de Tradição?
Para dar uma definição muito simples, chamo de Tradição a visão de mundo segundo a qual o passado deve servir de modelo para o presente. Esta definição implica diretamente a ideia de uma transmissão intergeracional, e portanto, necessariamente, da autoridade dos mais velhos sobre os mais jovens.
No livro, lembro que o objetivo principal de uma educação tradicional é transformar as crianças em adultos. Nessa perspectiva, a infância é vista como um conjunto de defeitos – impaciência, egoísmo, narcisismo, violência, incontinência emocional, irresponsabilidade, incompetência, etc. – que a educação tem como missão corrigir, principalmente pela transmissão de um conjunto de conhecimentos e preceitos morais. Nesse sentido, a educação tradicional visa eliminar a infância em cada criança.
Mas é preciso notar uma dimensão essencial: essa visão da infância como o lugar da fraqueza e da heteronomia é justamente o que leva as sociedades tradicionais a protegerem as crianças. Pelo contrário, ao considerar as crianças como iguais aos adultos, as sociedades ocidentais progressistas as expõem a violências contra as quais são incapazes de se defender. É essa ideologia absolutamente mortífera que leva alguns “adultos”, por exemplo, a encorajar seu filho a mudar de sexo. Em uma sociedade saudável, esses pais seriam acusados de maus-tratos e abuso de fraqueza; nas sociedades ocidentais, eles agora recebem o aval e os aplausos do poder.
O catolicismo é um elemento que incentiva a sair da infância?
A transcendência em geral afasta da infância. Ela convida a sair de sua minúscula esfera individual e a considerar a humanidade como apenas uma parte do mundo, e não como sua totalidade. Isso já é em si um convite à humildade, que se opõe ao egocentrismo infantil.
Além disso, parece-me que a humildade pregada por Cristo também é um convite a aceitar o sofrimento inerente ao trabalho, e portanto à produção da civilização. Não serei muito original, mas um dos meus quadros preferidos é “O Angelus” de Millet: ele representa com uma precisão e completude excepcionais esse mundo constituído pela igreja, a fé cotidiana, o árduo trabalho da terra, o ritmo natural ou ainda a complementaridade homem-mulher (a união, mas também a diferença). Esse mundo construído em torno da fé cristã e respeitoso da ordem natural ensinava às crianças que nada se obtém sem esforço, que a vida e a construção do mundo têm um preço, que nada se obtém sem sofrimento. Nesse sentido, sim, o catolicismo, com sua mensagem centrada na humildade e na abnegação, incentiva a sair da infância.
O Capital, pelo contrário, utiliza a imaturidade das massas modernas como alavanca para o consumo e seu controle. Quais são as consequências psicológicas desse condicionamento sobre as pessoas?
A infância é nosso primeiro contato com o mundo, e ela nunca desaparece completamente. Toda a nossa vida, lutamos contra os reflexos infantis que ameaçam constantemente retomar o controle sobre nossa vontade. A civilização consiste justamente em compensar essa inclinação natural estabelecendo estruturas coletivas capazes de nos obrigar a sair da infância.
Uma vez que você destrói essas estruturas coletivas que nos elevam, a humanidade desce a ladeira e muitos indivíduos, que nada mais os obriga a sair do egoísmo, do narcisismo e do parasitismo, não conseguem mais se libertar de sua infância.
A lógica mercantil do Capital mina permanentemente as estruturas coletivas fornecedoras de civilização. Ela tem de fato essa capacidade deprimente de transformar todas as atividades humanas em trocas comerciais. Ao fazer isso, ela rompe os laços que os homens, por meio da Tradição, haviam tecido entre si, com o Céu ou ainda com a terra, e que lhes permitiam elevar-se acima de sua dimensão material e animal primitiva. Essa ruptura tem grandes consequências sobre os indivíduos: como não estão mais ligados aos outros (nem no tempo nem no espaço), sua vida perde seu sentido coletivo. Resta então ao indivíduo explorar dois poços sem fundo, que doravante servirão para ele como “sentido da vida”: a busca pelo prazer, por um lado, e a busca pelo poder, por outro. Trata-se de duas molas centrais do impulso de consumo.
A crise do Covid-19 foi um campo de aplicação concreto dessa vasta infantilização. Como explicar a submissão da população à opinião de especialistas e políticos sem nenhum espírito crítico?
De onde vem o espírito crítico? Ele é o produto tanto da experiência quanto de um aparato teórico sólido. No entanto, a “crise” do Covid constituiu uma fraude em grande escala, de uma magnitude nunca vista antes, combinada com um choque quase carcerário, além de um tsunami de mentiras midiáticas. Para entender os detalhes e as implicações no momento, mas também para conseguir articulá-los e produzir uma crítica eficaz, era necessário uma experiência e um aparato teórico fora do comum.
Acredito que não devemos culpar ninguém por ter ficado perdido, ter sentido medo, ter mudado de posição e ter sido enganado pelos golpistas que desfilavam na televisão. O Capital gerou um mundo onde as manipulações político-financeiras-midiáticas agora atingem uma complexidade muito superior à capacidade crítica média da população. No caso do Covid, uma dimensão de “expertise” foi adicionada à farsa e não ajudou em nada, pois a indústria farmacêutica e o aparato político puderam se revestir das aparências da ciência para vender suas ideias.
Para entender o mecanismo que nos leva a seguir a opinião dos especialistas, é preciso entender a relação com o mundo da infância. Uma criança não tem as capacidades cognitivas para formular um problema, definir precisamente os termos, confrontar ideias aparentemente contraditórias, relacioná-las e produzir uma síntese complexa e rica que possa explicar os fenômenos que observa. Para reduzir a complexidade do mundo a um nível acessível, ela procura não sintetizá-lo, mas simplificá-lo. Para isso, além de ignorar partes inteiras da realidade, ela recorre, em particular, à inteligência por delegação: como não é capaz de entender o mundo por si mesma, delega essa tarefa a outra pessoa – um tutor, por assim dizer. Assim, seu mundo se torna mais simples, pois sua reflexão pode agora se limitar à escolha dos especialistas a quem seguir.
Muitos adultos ainda pensam como crianças, na medida em que procuram se alinhar com uma ou outra figura de autoridade, em muitos domínios. Em vez de se obrigarem a ouvir todos para depois construir sua própria visão do mundo, preferem eliminar uma parte da realidade e das análises possíveis, classificando algumas pessoas, por exemplo, na categoria de “charlatães”. Com isso, evitam o trabalho intelectual de síntese, que é desconfortável porque obriga a aceitar um período de incerteza desestabilizadora. Mas não esqueçamos também a dimensão social desse tipo de escolha: um especialista sempre incorpora um certo sistema de valores, bem como uma certa posição social, e através dele, é também isso que é validado por aqueles que lhe delegam a explicação do mundo.
Você percebe que o reinado da infantilização leva a comportamentos histéricos assim que um elemento questiona as certezas da maioria. Esse recuso ao outro e à contradição tornou-se a marca de uma moral progressista juvenil?
O recuso à contradição é a extensão intelectual da vontade mais geral de eliminar toda constrição, o que é efetivamente uma característica da infância. No Ocidente, há uma tendência geral à eliminação pura e simples do que pode contradizer o modelo progressista dominante. Passamos gradualmente de um ideal de debate livre, baseado na “seleção natural” dos melhores argumentos, para uma sociedade literalmente totalitária, onde uma visão de mundo tem a ambição de preencher a totalidade do espaço social e de se impor a todos, de bom grado ou à força.
Não devemos nos iludir sobre a abrangência do fenômeno: ela é muito maior do que se imagina à primeira vista. O recuso à contradição não está circunscrito a uma comunidade de “esquerdistas” de cabelo verde ou a alguns políticos rápidos na censura de opiniões. Na França, esse fechamento sobre si – e pela primeira vez, o termo é apropriado – atinge infelizmente uma grande parte da população, e é bem provável que seja o mesmo na Alemanha, na Suécia, no Reino Unido, etc. Imbuída de si mesma, essa população “progressista” se considera moralmente superior a dois outros grupos: a seus próprios ancestrais, por um lado, e ao resto do mundo, por outro. Esse sentimento de superioridade se traduz em um fechamento intelectual quase total, que a impede de se interessar tanto pela Tradição quanto por outros modelos civilizacionais.
As consequências da tomada de poder por essa ideologia no Ocidente são catastróficas: ela nos leva a atacar tudo o que não se parece conosco e, portanto, nos conduz simplesmente à guerra. Uma guerra que, pessoalmente, espero que percamos, e rápido, como uma criança arrogante esbofeteada por um adulto sem paciência.
O esquerdismo afirma que é preciso transformar a sociedade em vez de si mesmo. Da mesma forma, os fanáticos da cultura do cancelamento reescrevem a história para torná-la compatível com sua visão ideológica. Essa abordagem não é um terrível reconhecimento de fracasso em relação à realidade de certa esquerda?
Sim, claro. As tentativas do progressismo de transformar a história a seu favor são tantos reconhecimentos de sua incapacidade de aceitar a realidade do passado.
O esquerdista deseja eliminar todas as restrições que poderiam convidá-lo – ou até forçá-lo – a sair da infância. É por isso que ele rastreia e denuncia tudo o que, em seu cotidiano, o lembra que existem outros universos ideológicos, outros sistemas de valores, e especialmente um mundo adulto, onde as crianças são colocadas em seu devido lugar, não são autorizadas a fazer as leis e são educadas para se tornarem capazes um dia de assumir responsabilidades. Quando ele cruza com a estátua de um marechal do império, passa em frente a uma igreja ou encontra uma pintura que exalta a feminilidade, o sangue do esquerdista ferve, pois tudo isso o convida a refletir, a crescer, a se ligar ao destino de uma comunidade e, portanto, a sair do conforto do jogo e da irresponsabilidade.
A cultura do cancelamento é, no final, uma empresa de destruição de tudo o que nos serve de apoio para sair da infância.
A atualidade política dá total razão às suas análises. Como você vê as recentes eleições com sua grade de análise?
O voto me parece a expressão mais fraca do engajamento político. Não totalmente inútil, não sem impacto, mas a mais fraca. Pode acontecer, por uma conjunção de circunstâncias particulares e historicamente raras, que uma eleição provoque a derrubada do poder. Mas, em regra geral, e especialmente nos países ocidentais, parece-me mais uma palhaçada sem impacto no poder real, que surge mais do confronto de redes nos bastidores.
Contudo, o ato de votar não é problemático em si, nem mesmo infantil. O que é problemático é fazer acreditar que se trata de uma ação decisiva, de grande impacto, à altura das questões políticas. Isso é uma mentira, muitas vezes usada para ocultar um desconhecimento das redes de poder, e, consequentemente, uma ausência de engajamento real. Mais uma vez, a ausência de engajamento não é problemática em si; fazer acreditar que se está engajado quando se faz apenas votar é muito mais, porque é desonesto.
As eleições são, portanto, um momento penoso em que muitas pessoas fingem se envolver, sem ter a menor ideia do preço que custa o real envolvimento. Quanto aos candidatos, eles são cada vez mais jovens e sua coluna vertebral parece cada vez mais flexível, o que torna cada vez mais evidente o fato de que as eleições não são algo sério.
Quais são as ferramentas que podem permitir recuperar uma autonomia intelectual e um poder político?
Poderíamos escrever cem páginas sobre a questão, mas para ser breve, vou mencionar apenas uma ferramenta, que detalho nas duas últimas partes do livro: a dialética.
A abordagem dialética é, entre outras coisas, o que permite sair do essencialismo, ou seja, da busca de essências nos diferentes fenômenos e atores políticos. Muitos comentaristas políticos procuram, de fato, saber se tal pessoa “está do nosso lado” ou, ao contrário, “faz parte do problema”. Essa abordagem binária e essencialista é um insulto à inteligência e, de maneira muito previsível, não produz nada além de um espetáculo de radicalidade perfeitamente estéril. Em vez de uma busca idiota pela pureza, uma abordagem adulta à política consiste em recolher de todos os lados fragmentos de análises interessantes e, em seguida, fazer uma síntese para construir uma visão de mundo coerente e, assim, deduzir uma hierarquia das lutas a serem travadas.
Fonte: Rivarol