Ao contrário de muitas expectativas, Maduro saiu fortalecido das eleições venezuelanas e o país confirma a sua caminhada rumo à multipolaridade.
Este 28 de Julho de 2024 será outro dia histórico para o Povo Venezuelano, e por extensão para todo o Povo Indo-Iberoamericano; pois mais uma vez, e apesar das diatribes e invectivas da imprensa ocidental (e ocidentalizada por extensão) hegemonizada pela narrativa da declinante unipolaridade atlantista anglo-americana, o Povo Venezuelano de maneira livre e soberana através de um ato de genuína e real democracia popular, voltará às urnas eleitorais, para decidir mais uma vez, os destinos da Venezuela, um país assediado e acossado pelos poderes ultramarinos de sempre (ontem Inglaterra, hoje Estados Unidos -e subordinados-), e que hoje como ontem continuam vendo com grande apetite os ingentes recursos estratégicos em matéria energética que este país sul-americano possui, a saber e por dizer apenas algo: as maiores reservas de petróleo provadas (300.000 milhões de barris de petróleo) do planeta, e sem contar reservas de gás, ouro, etc.; e ao que sobretudo não se perdoa, que desde a chegada do Comandante Hugo Chávez Frías como grande condutor nacional, naquele glorioso 02 de fevereiro de 1999 em que o Povo Venezuelano lhe confiou seu destino, tenha tido a dignidade de marchar pelo caminho da autonomia, independência, e soberania.
Dando conta de que pela própria dinâmica dos processos histórico-políticos das últimas décadas marcadas pela ascensão da ideologia liberal, que como aponta o Prof. Alexander Dugin; está essencialmente ancorada em uma errônea concepção antropológica que absolutiza o indivíduo como um fim em si mesmo, totalmente desarraigado de toda ideia de comunidade (família, religião, nação, cultura, civilização, etc.), e é hegemônica em todo ocidente (e em boa parte do mundo ocidentalizado por extensão); assim pois, atualmente as fronteiras ideológicas do cada vez mais obsoleto eixo que prevaleceu na Bipolaridade da Guerra Fria (1945-1992); “esquerda vs. direita”, praticamente se desvaneceram, ou seja, nos dias de hoje, praticamente são meros slogans irrelevantes, esvaziados de conteúdo, pois de fato hoje em dia as denominadas esquerdas têm claudicado em sua luta pela verdadeira e genuína justiça social e a consequente luta pela libertação dos povos oprimidos, pois como alguma vez assinalou o relevante sociólogo francês Alain Soral (2018); graças às correntes filosóficas pós-modernas enquadradas dentro do globalismo liberal (político e cultural), a esquerda terminou por se tornar mero suplemento cultural da direita neoliberal no econômico, e fiel subordinada à unipolaridade atlantista anglo-saxônica (OTAN) no geopolítico; e assim pois temos, a um Gabriel Boric no Chile (de esquerda) e a um Javier Milei na Argentina (de direita), em teoria “rivais ideológicos”, mas que na prática, despotricam abertamente e sem ambages contra a Venezuela de Maduro, e contra a Rússia de Vladimir Putin. E nem se fala de toda a fauna existente dentro da União Europeia.
Como apontam relevantes marxólogos contemporâneos em chave patriótica e soberanista, como o italiano Diego Fusaro, hoje as esquerdas já não são vermelhas, mas sim fúcsias; ou seja, estão neutralizadas e/ou esterilizadas em sua confrontação contra as elites tecno-plutocráticas do capitalismo financeiro (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, etc.), entes materiais que em última instância sustentam e propagam o globalismo (tanto de esquerda quanto de direita), e diante do qual claudicaram, ao assumir por completo todas as suas prerrogativas, plasmadas na Agenda 2030 (ecologismo catastrófico, feminismo radical, abortismo irrestrito, LGBTismo, animalismo antihumanista, etc. etc.), na realidade uma agenda eugenésica-neomalthusiana de controle populacional em escala global; e ao suplantar as históricas bandeiras vermelhas da classe trabalhadora pela pós-moderna bandeira LGBTI; evidenciando com isso, que a atual “confrontação” entre esquerda vs. direita acontece unicamente no plano supraestrutural (cultural, ou seja, entre o progressismo pós-modernista de esquerda e o conservadorismo reacionário de direita), mas não no estrutural (econômico); pois total e a fim de contas, é muito mais fácil e barato vender a ficção (“novos direitos”, p.e.) como suposta “necessidade”, antes que atender à realidade dolorosa de milhões de pessoas com necessidades materiais concretas (água, luz, esgoto, etc.).
Tudo isso acontecendo no marco de transição sistêmica para o Novo Cenário Global do Século XXI, marcado pelo rápido declínio da Unipolaridade Anglo-Americana (EUA e subordinados), e a firme emergência da Multipolaridade Eurasiática (China, Rússia, Irã, Índia, etc.), isto é, e para dizer de outro modo, que hoje evidenciamos o fim de cinco séculos de domínio ocidental em geral, e o declínio de dois séculos de domínio anglo-saxão em particular. Assistimos, pois, à emergência de um novo mundo marcado pelo protagonismo de múltiplos polos de poder geopolítico/geoestratégico ancorados em perspectivas civilizatórias/cosmovisionais próprias, que em sinergia (através de plataformas como os BRICS), hoje vêm minando e acelerando o desgaste da hegemonia ocidental, que como ensina o Prof. Alexander Dugin, é a “Civilização do Anticristo”, pois é ali onde acontece, a negação e/ou destruição de tudo aquilo que nos faz humanos, começando pela destruição da família (pedra angular de toda ideia de comunidade), em nome do mais recalcitrante dos individualismos.
O mestre Norberto Ceresole, relevante sociólogo sul-americano, a respeito da globalização, entendida não apenas como um processo histórico, mas, sobretudo, como um processo de dominação das minorias contra as maiorias, alguma vez sentenciou:
“A globalização como modelo de governo mundial é uma estrutura oligárquica que condena à marginalidade o vasto «país» mundial dos excluídos, aos pobres e sem poder, dentro e fora dos países centrais, dentro e fora do espaço branco-ocidental. No plano político interno opera deixando grandes vazios na ordenação democrática, de tal maneira que a capacidade de decisão siga nas mãos dos que Adam Smith, no século XVIII, chamou de «os senhores do universo», que se manejam «com o vil princípio: Tudo para nós, nada para os outros».” (Ceresole, N. p.28: 1999)
Nesse contexto, a Venezuela volta a se posicionar como um farol para a ascensão da multipolaridade na América do Sul, pois atualmente é o único país com capacidades e condições concretas (recursos estratégicos, forças armadas soberanas, moral nacional, etc.), com possibilidade real de catalisar processos multipolares em nossa região, e a partir daí conseguir o que alguma vez nossos grandes pensadores continentais (Manuel Ugarte, Antenor Orrego, J.E. Rodó, Vasconcelos, Haya de la Torre, Mariátegui, etc.) tanto haviam anhelado, ou seja, a unificação do nosso “Povo Continente” em um polo civilizatório com identidade própria, que possa estar à altura dos grandes desafios que apresenta um século XXI convulsionado e inquietante, onde o declínio do ocidente vem acompanhado, de múltiplos conflitos com implicações globais nas três placas geopolíticas mais importantes (Ucrânia na Europa Oriental, o Genocídio Palestino no Oriente Médio, a próxima crise no Indo-Pacífico com Taiwan), e com o agravante da ameaça real de conflagração nuclear, porque “todo império morre matando”.
O ideal é grande e o caminho é longo, no entanto, enquanto continuarem existindo líderes que reivindiquem a Pátria Grande, ou seja, nosso destino comum como povos do Sul da América, sempre haverá uma esperança, enquanto se reivindicarem as bandeiras da Soberania Nacional, sempre estará acesa a chama da libertação dos nossos povos; assim pois, enquanto o legado do Comandante Hugo Chávez ainda guiar os passos da Venezuela, ainda haverá esperanças para Nossa América, pois como Ceresole acertadamente apontou a respeito do Comandante:
“… líder de toda a América hispano-crioula. Mas isso não quer dizer que esse processo de «internacionalização» do «modelo venezuelano» se produzirá automaticamente. Que cairá da árvore, simplesmente, como uma fruta madura. Essa projeção só poderá ser o resultado de um laborioso trabalho de edificação político-estratégico dentro de um entorno altamente favorável em quase todos os movimentos populares da região. Em termos de poder, a projeção regional-internacional da liderança de Hugo Chávez dará ao processo venezuelano interior um grau de proteção (contra conspirações interiores-exteriores) do que hoje carece.” (Ceresole, N. p.11: 1999)
Nos espera um longo caminho ainda a percorrer para cristalizar a libertação da Nossa América, e ainda restam muitas tarefas a fazer, comecemos pois por apoiar a Venezuela de Chávez, hoje sob condução do Presidente Nicolás Maduro.
Fonte: Geopolitika.ru