A Escolha de Vance por Trump

A escolha de J.D. Vance para ser vice-presidente de Donald Trump já dá alguns indícios do direcionamento que um hipotético governo Trump terá.

A escolha de J.D. Vance como vice-presidente diz muito sobre qual será a trajetória geopolítica do próximo (eventual) governo Trump. Ultrassionista e sinofóbico, Vance apoiou a tese de que Israel deve encerrar a “guerra” em Gaza em pouco tempo para mirar diretamente no Irã, em cooperação com as monarquias do Golfo ligadas aos chamados “Acordos de Abraão” (curiosamente, a CNN, sem qualquer prova, levantou a hipótese de um envolvimento iraniano na tentativa de assassinato de Donald Trump, encobrindo a óbvia divergência/conflito entre os aparatos de poder em Washington).

É claro que, nessa nova fase do conflito, Israel desfrutará de todo o apoio que os EUA podem oferecer, livre do fardo ucraniano. Na verdade, Vance novamente defende a necessidade de os EUA se desligarem progressivamente do teatro de operações da Europa Oriental, talvez transferindo o ônus da guerra para a Europa (enquanto os fundos de investimento norte-americanos aproveitarão os dividendos para a reconstrução do oeste da Ucrânia).

O dossiê sobre a China também é interessante. Nesse caso, Vance defende a ideia de que um conflito próximo com Pequim é preferível a um conflito daqui a dez ou quinze anos, quando a capacidade militar da RPC estará muito maior. E para o confronto com a China, o apoio indiano não pode ser dispensado (não por coincidência, Vance também tem boas relações com o lobby indiano em Washington).

Não é preciso dizer que um conflito com a China, mesmo que localizado no Mar do Sul da China, poderia ser muito mais destrutivo do que o da Ucrânia. Também não é preciso dizer que as provocações dos EUA na área e as vendas de armas para Taiwan aumentarão exponencialmente.

Isso é um lembrete de que Donald Trump não é um “pacifista” nem um “campeão do multipolarismo”. Ele não foi assim durante seu primeiro mandato (durante o qual, entre outras coisas, preparou o terreno para o confronto com a Rússia – Iniciativa dos Três Mares, retirada unilateral do Tratado INF) e será ainda menos assim em seu segundo mandato.

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Daniele Perra

Formado em Ciência Política pela Università DI Cagliari, é colaborador da Rivista Eurasia.

Artigos: 40

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