Marden Samuel explora as profundas lições espirituais de Star Wars, destacando a batalha entre tradição e modernidade através dos Jedi e Sith. Em sua análise, ele revela como a saga espelha conflitos reais do nosso mundo, ressaltando a luta entre valores coletivistas e individualismo extremo.
Apesar de muitos não perceberem isso, Star Wars é uma das obras mais espiritualmente relevantes atualmente, com intensos paralelos com nosso mundo atual. Abordaremos nesse texto o porquê disso.
A Força e o dualismo entre Tradição e Modernidade
A Força é uma entidade complexa em Star Wars, seria um certo equivalente de Deus no nosso mundo.
Em cima da Força, duas filosofias opostas foram desenvolvidas. O grupo que veio a se desenvolver como os Jedi, focaram no chamado Lado Luminoso da Força; o outro grupo que veio a se tornar os Sith, focaram no chamado Lado Sombrio da Força.
O lado da luz e da sombra são respectivamente paralelos da Tradição (Luz) e da Modernidade (Trevas). Percebemos nisso nas práticas e no próprio código dos Jedi e dos Sith.
Os Jedi e o Mundo da Tradição
Os Jedi representam o Mundo da Tradição, da transcendência, da espiritualidade, da religião. O código Jedi ensina os seguintes princípios:
“Não há emoção, há paz.
Não há ignorância, há conhecimento.
Não há paixão, há serenidade.
Não há caos, há harmonia.
Não há morte, há a Força.”
A lógica do código Jedi é coletivista, segue uma lógica do sacrifício da vontade individual à Força. O Jedi não tem vontade própria, mas é um agente de Deus, da Transcendência, da Tradição.
O Jedi é um cavaleiro honroso, ele se sacrifica sempre pelo bem comum, pela sua Ordem, pela Força, pela República. Os Jedi são o oposto do individualismo, eles são escravos de uma Lei Eterna que é inegociável. Os Jedi são um avatar de Cristo, são amorosos, gentis, pacíficos e misericordiosos.
Os Sith e a Modernidade
Os Sith por sua vez são a representação plena do que é o Liberalismo e o Capitalismo, vemos isto muito claro em seu código:
“Paz é uma mentira, só existe paixão.
Através da paixão, ganho força.
Através da força, ganho poder.
Através do poder, ganho a vitória.
Através da vitória, minhas correntes se rompem.
A Força me libertará.”
Os Sith já representam o total oposto do código Jedi. Enquanto os Jedi negam a sua vontade em favor da vontade da Força, e se tornam seus avatares; os Sith subjugam a Força à sua vontade individual.
A Força para o Sith não é uma fonte de Transcendência, mas tão somente uma forma de se conseguir poder e saciar sua vontade individual. Deus é então reduzido à mera dimensão carnal, perdendo qualquer efetividade espiritual.
O Liberalismo defende a liberdade individual, e isso é literalmente o centro do código Sith. A paixão é o mais de importante no código Sith, e a paixão nada mais é que seus desejos animalescos, sua vontade individual que você renega pelo bem da sociedade.
Na lógica Sith não há sociedade, não há ética, nem moralidade, tão somente a minha paixão, a minha vontade por poder, e Deus me serve apenas como uma fonte de poder para alcançar esse objetivo.
Isso é plenamente a lógica com o qual o Liberalismo funciona. O indivíduo é senhor sobre sua própria vida. Normas sociais e coletivas não tem o direito de impedir seu objetivo de satisfazer seu ego.
A conclusão óbvia disso é o niilismo absoluto dos Sith, onde é legítimo pisar em tudo e todos para alcançar seus objetivos, pois não existe transcendência, já que Deus é uma mera fonte de poder. Essa lógica Sith é literalmente a evolução da lógica liberal que vemos hoje na Nova Esquerda, que defende a quebra de toda norma coletiva que limite o indivíduo de fazer o que quer com seu corpo e vida. Na Nova Esquerda, a religião, os costumes e hábitos dos povos não tem valor nenhum, pois isso é somente um limitador do indivíduo ser seu próprio Deus; é também a lógica da Direita Liberal, que defende o mesmo individualismo com outra roupagem, a pauta do Estado mínimo, da ausência de ética e moral na economia, onde apenas o egoísmo empresarial de conseguir o lucro absoluto é o importante. Não há moral, Deus ou religião que regulamente a economia, é o próprio mercado que rege a si próprio.
A República dos Jedi
A República igualmente representa o governo da Tradição. É o governo dos direitos e deveres, da constitucionalidade, da liberdade iliberal, da moralidade e da ética.
A República tem por base religiosa a Ordem Jedi e os Jedi como seus protetores e cavaleiros. Os Jedi servem como protetores da República e como conselheiros de seus governantes.
A República é uma democracia moral, pautada numa meritocracia moral de seus líderes e no respeito dos mesmos por suas normas, leis e na base religiosa que os Jedi fornecem.
O Império dos Sith
O Império Sith representa a lógica oposta, é a tirania, o Império das máquinas, a tecnocracia e o materialismo.
O Império Sith funciona na lógica do pragmatismo e do utilitarismo, suas decisões são pautadas no progresso tecnológico absoluto, mesmo que isso contrarie a Lei Eterna (a Estrela da Morte é o melhor exemplo disso).
O Império Sith é o absolutismo, o elitismo, a falta de representatividade popular e democracia. É o governo dos poderosos.
É o domínio satanista, de uma elite sádica, cruel e niilista, que não aceita nenhum senso de responsabilidade pelos seus súditos. Que pisa em todos, subjuga os povos, mata os que consideram inferiores e reduzem a santidade da vida a mero uso e descarte.
Darth Vader e o Imperador Palpatine matam gratuitamente pessoas que falham com eles. O valor da vida é vinculado a utilidade de alguém para as elites, e quando sua utilidade é perdida, você é descartado como lixo.
A Estrela da Morte é a plenitude do relativismo da vida na filosofia Sith. Para o Sith, é válido destruir um planeta com bilhões de pessoas pelo fato de uma simples rebelde não dar uma informação que o governo queira.
No Império Sith não há moral absoluta, nem verdade absoluta, tão somente os comandos e diretrizes da elite niilista, egoísta e tecnocrática dos Sith.