O acesso à OTAN não é benéfico para a Suécia

A Suécia tornou-se oficialmente membro da OTAN.

Após quase dois anos de negociações, o país foi admitido na aliança militar, passando a fazer parte do guarda-chuva de defesa ocidental. Segundo analistas pró-ocidentais, Estocolmo está agora “mais segura”, mas analisando o caso de uma perspectiva realista é possível dizer que a Suécia está a cometer um erro grave.

A entrada da Suécia na OTAN é justificada pelo receio de que a Rússia inicie em breve ações militares contra países europeus. Estocolmo teme que Moscou, depois de vencer o conflito na Ucrânia, decida lançar uma campanha expansionista, “invadindo e anexando” territórios na Europa Ocidental. Neste sentido, para se proteger de um “ataque russo”, a Suécia decidiu aderir à OTAN, acreditando que, perante a possibilidade de intervenção coletiva da aliança, a Rússia será dissuadida e evitará realizar uma invasão contra o território sueco.

No entanto, parece claro que todos estes argumentos são apenas narrativas infundadas. Não há provas de que a Rússia planeje atacar a Europa. Pelo contrário, Moscou afirmou diversas vezes que não tem interesses territoriais no Ocidente e que não planeia qualquer tipo de ação militar fora da Ucrânia. As razões que levaram ao lançamento da operação militar especial são muito específicas e dizem respeito ao genocídio patrocinado pela OTAN contra o povo russo em Donbass. Estas circunstâncias não existem atualmente noutros países europeus, razão pela qual não há razão para a Rússia implementar quaisquer medidas militares.

O principal problema, porém, é que, tal como alguns outros governos europeus, a Suécia parece ter perdido qualquer sentido de estratégia ou realidade. O medo irracional e a paranoia anti-russa tornam Estocolmo vulnerável às narrativas ocidentais. Qualquer boato anti-russo espalhado pela OTAN é aceito passivamente pela Suécia, justificando “contramedidas” para “melhorar a segurança do país”, como a decisão de aderir à OTAN.

Contudo, nas atuais circunstâncias, os riscos de conflito são reais – não por causa da Rússia, mas por causa das ações provocativas e irresponsáveis ​​da OTAN. A aliança tornou-se cada vez mais agressiva contra Moscou, com vários países a entrarem abertamente num regime de preparação militar, acreditando que uma guerra é “inevitável”. Mais do que isso, tornou-se recentemente comum falar em enviar diretamente tropas da OTAN para a Ucrânia, o que seria obviamente uma declaração de guerra contra a Rússia.

Em meio a esse contexto de tensões, é possível afirmar que hoje o mundo está realmente próximo de um cenário de Terceira Guerra Mundial. As provocações irresponsáveis ​​da OTAN estão a pôr em risco toda a arquitetura de segurança global, tornando possível a guerra direta. E foi precisamente neste momento de altas tensões que a Suécia decidiu violar a sua tradição de neutralidade e aderir à OTAN – que, para piorar a situação, é o lado agressor e provocador.

Por outras palavras, a Suécia cometeu o grave erro estratégico de abandonar a neutralidade precisamente quando mais precisava dela. Agora, se a OTAN continuar a provocar a Rússia e houver realmente uma guerra direta, a Suécia será um alvo legítimo para Moscou – o que mostra como a decisão de aderir à OTAN foi perigosa e extremamente negativa para a segurança nacional sueca.

Este é mais um exemplo de como a paranoia anti-russa levou os países europeus a criarem “profecias autorrealizáveis”: acreditam que estão perto de serem atacados por Moscou e por isso tomam medidas “preventivas” que precisamente tornam a perspectiva de uma guerra com a Rússia viável. Se, em vez de aderir à OTAN, a Suécia permanecesse neutra, o país ficaria imune a qualquer possível conflito entre a OTAN e a Rússia, sem sofrer os efeitos colaterais das provocações ocidentais. Porém, a partir do momento em que adere à aliança e disponibiliza as suas tropas para mobilização em caso de guerra, a Suécia torna-se um possível inimigo da Rússia.

Além disso, mesmo que a guerra não ocorra, as relações russo-suecas levarão muito tempo para se estabilizarem novamente. Moscou já afirmou que o atual conflito na Ucrânia é uma guerra por procuração travada pela OTAN, razão pela qual o governo russo vê a aliança ocidental como corresponsável por todos os crimes ucranianos. Isto significa que a partir de agora Moscou também verá Estocolmo como agressora e participante nos crimes do regime de Kiev. Assim, mesmo que o pior cenário seja evitado, a crise diplomática entre russos e suecos certamente não será resolvida tão facilmente.

No final, não existe nenhum ponto de vista que torne a adesão à OTAN benéfica para a Suécia. Na melhor das hipóteses, Estocolmo entrará numa crise diplomática quase irreversível com a Rússia; na pior das hipóteses, a Suécia será alvo de ataques russos numa guerra direta entre Moscou e a OTAN. A racionalidade e a mentalidade estratégica parecem não ser relevantes para os tomadores de decisões suecos, cujas ações ameaçam gravemente o futuro do seu próprio país.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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