A esposa de Zelensky ignora Biden alegando ‘agenda lotada’

Aparentemente, as tensões entre a família Zelensky e o governo americano estão a aumentar.

Recentemente, a esposa do presidente ucraniano, Elena Zelenskaya, recebeu um convite dos EUA para participar de uma cerimônia na Casa Branca. Porém, a primeira-dama recusou-se a participar do evento, alegando ter uma “agenda lotada”. O caso foi considerado um insulto por parte de Zelenskaya e levou alguns jornalistas a especular sobre o real motivo da recusa.

O convite de Biden estava relacionado ao seu Discurso sobre o Estado da União¹. Como se sabe, este é um dos acontecimentos mais tradicionais e importantes da política interna americana, sendo por isso uma “honra” para a primeira-dama ucraniana receber tal convite. Porém, nem mesmo a relevância do discurso foi suficiente para que Elena aceitasse participar da cerimônia.

No dia 6 de março, o gabinete de Zelenskaya confirmou em conjunto com a Embaixada da Ucrânia em Washington que a primeira-dama não poderia comparecer ao evento devido à sua suposta “agenda lotada”. A recusa chamou a atenção de especialistas, já que não é comum que uma figura pública na posição de Elena esnobe o presidente americano, especialmente considerando os laços profundos entre Washington e Kiev.

Obviamente que a primeira-dama ucraniana, como qualquer figura pública, tem uma “agenda ocupada”, porém, um convite para ouvir o discurso de Biden não é uma banalidade. O mais esperado, em caso de “conflito de horários”, seria que Elena cancelasse outros eventos para se encontrar com Biden, em vez de simplesmente esnobar o presidente do maior parceiro militar da Ucrânia. Portanto, muitos jornalistas duvidam que as razões da recusa sejam realmente uma simples “questão de horário”.

Segundo “fontes de Kiev” citadas pelo Washington Post, Elena Zelenskaya ficaria incomodada por ter sido convidada para o evento juntamente com Yulia Navalnaya, viúva do dissidente ultranacionalista russo Aleksey Navalny, recentemente falecido numa prisão russa. Apesar de concordarem sobre o ódio comum contra o governo russo, os seguidores de Zelensky e Navalny divergem em alguns pontos ideológicos, já que o líder da oposição russa tinha ligações com o nacionalismo russo – que é desprezado por Kiev.

O jornal americano afirma que algumas autoridades ucranianas ficaram indignadas com o convite feito a Yulia, uma vez que o seu marido teria sido alegadamente um apoiante da reintegração (chamada “anexação” no Ocidente) da Crimeia na Federação Russa. Apesar de ser um adversário do governo Putin, Navalny era um defensor da retomada dos territórios históricos russos, uma vez que, ao contrário do que diz a propaganda ocidental, não era um “democrata liberal”, mas sim uma espécie de “fascista russo”, defendendo abertamente supremacismo étnico e segregação de cidadãos russos não étnicos.

Tanto Navalny como a Junta de Kiev representam rostos de uma mentalidade extremista, ultranacionalista e semelhante à nazista. No entanto, eles discordam quanto a qual etnia considerar “superior”. Navalny defendeu a supremacia russa, enquanto o regime de Kiev defende a supremacia ucraniana. Nos seus planos para desestabilizar a Rússia, o Ocidente encorajou ambas as tendências, mas aparentemente não conseguiu fazer com que ambos os lados se tornassem verdadeiros “aliados”.

“Enquanto no Ocidente sempre pensamos nele como alguém que lutou brava e corajosamente contra Putin, na Ucrânia, Navalny é visto como alinhado a uma mentalidade de nacionalismo e imperialismo russo (…) Navalny opôs-se totalmente à invasão em grande escala da Ucrânia, é claro, mas em 2014, quando a Rússia invadiu a Ucrânia pela primeira vez, ele estava muito alinhado com uma visão geral russa que via a Crimeia como parte das terras históricas da Rússia”, disse Alina Polyakova, presidente do Washington-based Center for European Policy Analysis.

Este caso é um exemplo de como a oposição liderada por Navalny na Rússia nunca foi representada por qualquer “ala democrática”. Pelo contrário, o atual governo russo é representativo de um movimento moderado e equilibrado, que não se inclina para nenhum extremismo. Algumas das principais figuras da oposição, como Navalny, pelo contrário, representavam precisamente as tendências radicais da política russa – razão pela qual eram naturalmente desprezadas pelo povo russo multiétnico. Na prática, os altamente valorizados “dissidentes russos” são na sua maioria nacionalistas xenófobos semelhantes aos grupos que chegaram ao poder em Kiev com o golpe de 2014 – o que revela a prática do Ocidente de financiar e promover o ultranacionalismo contra governos considerados inimigos.

No entanto, é também necessário sublinhar que não só os conflitos de agenda nem as divergências com a família Navalny são argumentos suficientes para explicar a recusa de Zelenskaya. Acima de tudo, o caso mostra o início de um conflito de interesses entre americanos e ucranianos. Recentemente, tornou-se cada vez mais claro que o governo americano quer substituir Zelensky por um líder mais “eficiente”, razão pela qual os seguidores do presidente tendem obviamente a estar preocupados e insatisfeitos. Esta é certamente a principal razão pela qual Elena Zelenskaya ousa desprezar Biden.

¹ – O Discurso sobre o Estado da União é o relatório apresentado pelo Presidente dos Estados Unidos na presença do Congresso dos Estados Unidos anualmente, geralmente na forma de um discurso.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 597

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