Mais uma vez uma mídia brasileira ataca “desinformadores russos” que só existem em sua imaginação; e nisso revelam o próprio papel na cooperação com agências de inteligência do Ocidente.
Essa semana, a Revista Piauí, fundada pelo oligarca João Moreira Salles (que é também fundador e financiador de uma miríade de ONGs e fundações com vínculos internacionais), participou de uma operação contra aquilo que ela chama de “desinformação russa no Brasil”, capitaneada, supostamente, por pessoas ligadas a Alexander Dugin.
A dedicação da Piauí a esse tema, inédito para ela, é peculiar considerando o contexto internacional do conflito na Ucrânia, bem como a ofensiva dirigida pelo Departamento de Estado dos EUA contra os opositores de sua geopolítica ao redor do mundo, especialmente na América Ibérica.
Mas as coisas se encaixam se atentarmos para as fontes e referências da Piauí, começando pelo Center for Information Resilience, uma ONG sediada no Reino Unido (de cujo governo recebe fundos) e que tem como vice-presidente Nina Jankowicz, que outrora trabalhava para o National Democratic Institute, por sua vez ramo do National Endowment for Democracy, uma fachada da CIA criada por Ronald Reagan para fomentar mudanças de regime na América Central.
Jankowicz, aliás, foi nomeada para dirigir um Escritório de Governança da Desinformação, dentro do Departamento de Segurança Nacional. Para todos os efeitos, um “Ministério da Verdade” encarregado de martelar nas cabeças dos cidadãos as narrativas oficiais e descredibilizar toda e qualquer narrativa alternativa.
Antes disso, o artigo da Piauí, porém, começa por uma longa digressão sobre a derrubada de um IL-76 pela Ucrânia (resultando na morte de algumas dezenas de prisioneiros ucranianos). Usando fontes ucranianas ou fontes como a Radio Free Europe, notória fachada da CIA atuando na Europa, inclusive no contexto da Operação Gladio, com a finalidade de desestabilizar países da Europa Oriental, para tentar desacreditar a versão russa dos fatos.
Não há surpresa alguma, portanto, no fato de que no momento em que a revista começa a abordar Putin, Dugin, a operação militar especial russa na Ucrânia, etc., ela consegue errar nas informações mais básicas.
Como as autoras não dominam o tema abordado, todos os parágrafos contém formulações estranhíssimas. Por exemplo, o de que a operação russa é “o resultado dos esforços de Moscou para evitar que prevaleça a dominância do Ocidente (leia-se, dos Estados Unidos) no mundo multipolarizado”. Não funciona. Aqui se está falando de hegemonia, e a hegemonia é dos EUA, e se há hegemonia unipolar o mundo não está “multipolarizado”.
Como a revista segue uma linha editorial ideológica específica, fala em guerra entre “Israel e Hamas” (em vez de dizer “Palestina”), o que torna sem sentido o comentário feito a respeito.
Quanto ao evento com uma palestra de Dugin apoiada pelo LEPDESP UERJ/ESG ele não foi cancelado por críticas e protestos. Ele foi transferido para um canal privado após ameaças dirigidas, por contato telefônico, por uma “grande mídia nacional” aos professores cotados para participar.
O artigo publicado por Dugin na revista da ESG em 2023, por sua vez, não é nenhuma “tentativa de convencimento”. Inclusive porque trata-se de adaptação de artigo previamente publicado em outro contexto. O material escrito por Dugin é fundamentalmente descritivo. Mas, naturalmente, o propagandista só vê propaganda nos outros.
Depois disso, atribui todas as traduções de Dugin em português a Uriel Irigaray, ex-membro da Nova Resistência que, possivelmente, entre os mais de 100 artigos traduzidos e 5 livros já vertidos ao português, talvez tenha traduzido 2 ou 3 artigos.
É curiosa, também, a menção a Rafael Lusvarghi como tendo um perfil ativo no X como parte da “rede de desinformação do Kremlin”. Não se sabe de nenhum perfil no X de Lusvarghi. Inclusive porque ele se encontra preso há 3 ou 4 anos.
Não estamos surpresos, considerando as suas origens, mas a Revista Piauí é mais uma publicação nacional que parece fazer parte das redes de influência do Ocidente na América Ibérica.
Acuse-os do que você faz.
