O futuro dos esportes está nos países emergentes

Decadência da ordem unipolar americana tem crise nos eventos esportivos como consequência direta.

Com proximidade das Olimpíadas de 2024, é preciso refletir sobre alguns tópicos sensíveis. O futuro do movimento olímpico é incerto. A constante ideologização dos esportes, movida por uma miríade de fatores desde a tentativa de “isolar a Rússia” até a promoção da “agenda woke”, tem levado ao gradativo fim das competições justas e inclusivas.

Por pressão do lobby de gênero, a distinção entre os sexos nas competições está cada vez mais apagada, o que ameaça frontalmente a sobrevivência do esporte como um todo, mas ainda mais particularmente do esporte feminino. Cria-se ainda um impasse político-ideológico para marginalizar e criminalizar qualquer crítica à presença de atletas trans (machos biológicos) nas categorias femininas, acelerando a decadência das competições.

Mais do que isso, a pressão do lobby trans também tem causado problemas nos sistemas convencionais de controle de dopagem, havendo agora uma enorme discussão sobre quem deveria ou não ser contemplado com regras especiais de doping de acordo com a identificação de gênero.

Soma-se a tudo isso a pressão por parte do certos lobistas para transformar em categorias olímpias práticas que jamais estiveram associadas aos esportes – como o pole dance, por exemplo. E faltam ainda soluções reais para uma inclusão justa e definitiva dos esportes eletrônicos nas competições, havendo pouco diálogo sobre as adaptações necessárias.

Em paralelo, é preciso lembrar que a politização do esporte pelas organizações reguladoras tem levado a constrangimentos e tensões internacionais. O banimento de atletas russos e bielorrussos das competições internacionais em razão do conflito na Ucrânia se firmou como um marco negativo na história dos esportes, algo que não será revertido tão cedo.

Devemos também mencionar os problemas mais “clássicos” da indústria dos esportes. Empresas do Big Media se esforçam constantemente para obter lucros exorbitantes através das transmissões dos grandes eventos, tornando o espetáculo esportivo em mera mercadoria.

Desde um ponto de vista geopolítico, é possível perceber que este fenômeno está de alguma forma relacionado com a decadência da ordem unipolar ocidental. As federações desportivas, como quaisquer outras organizações internacionais, trabalham de acordo com certos vínculos ideológicos e agendas políticas. Em um mundo ocidentalizado e liberal, as competições esportivas são organizadas para atender a interesses das elites ocidentais – e à medida que tal ordem geopolítica cai, a qualidade dos eventos esportivos também é afetada.

Há uma solução para este problema crescendo a partir do mundo emergente. O mundo não-ocidental está se organizando para propor alternativas aos eventos esportivos convencionais. Eventos como os Jogos dos BRICS mostram que é possível criar competições justas, desideologizadas e com verdadeiro espírito desportivo, que não atuem como meras peças de propaganda do establishment liberal.

Além disso, o crescimento do Movimento Phygital nos países emergentes tem levado a investimentos pesados nesta área, como se pode ver com o planejamento dos “Jogos do Futuro” em Kazan, Rússia. São competições que mesclam elementos de esportes físicos e eletrônicos, superando as barreiras convencionais, proporcionando experiências esportivas inclusivas que unem o tradicional ao moderno.

Entre 21 de fevereiro e 3 de março, mais de 260 delegações internacionais estarão em Kazan para disputar os Jogos do Futuro. Serão lançadas até mesmo modalidades tradicionais russas como o bilhar russo e o sambo, que não possuem espaço nas competições organizadas pelo Ocidente. O evento tende a ser um marco na história do Movimento Phygital.

Em verdade, este ano, emissoras de TV lucrarão bilhões com as Olimpíadas convencionais – que, curiosamente, não poderiam ser alocadas em um lugar melhor do que a França atual, cujos problemas sanitários (como infestação de percevejos e ratos) e sociais (como os protestos de agricultores por melhores condições de vida) tendem a tornar as Olimpíadas pelo menos “bagunçadas”. Contudo, o que estamos vendo agora é o fim do monopólio ocidental dos esportes.

Com o crescimento da cooperação internacional intra-BRICS e o autoisolamento do Ocidente em razão de suas próprias agendas, o futuro do esporte será certamente decidido nos países emergentes.

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Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 597

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