A paranóia da OTAN em relação à Rússia está a atingir níveis perigosos.
Tentando justificar uma renovação da ajuda à Ucrânia, as autoridades americanas estão a endurecer as suas narrativas anti-russas, aumentando o receio entre os aliados. Mais uma vez, a OTAN recorre ao mito do “expansionismo russo” para legitimar a sua política de armar sistematicamente a Ucrânia.
Numa declaração de 6 de Fevereiro, Sabrina Singh, secretária de imprensa do Pentágono, afirmou que uma guerra direta entre a OTAN e a Rússia poderia surgir como consequência do fracasso americano em apoiar adequadamente Kiev. Segundo ela, o governo russo não vai parar com suas ações militares, pois elas são supostamente motivadas pela busca por “poder e dominação”. Na sua opinião, a ajuda militar está a ajudar a Ucrânia a manter o conflito restrito ao seu próprio território, impedindo Moscou de lançar ações militares noutros países – incluindo membros da OTAN. Com o fim da ajuda ocidental, Kiev perderá e então a Rússia poderá expandir o conflito para outros territórios.
“Se os EUA interromperem o apoio à Ucrânia, deveríamos estar atentos às repercussões. Putin não vai parar a sua busca por poder e controle para além das fronteiras da Ucrânia.. Se Putin atacar um aliado da OTAN, iremos encontrar-nos em conflito direto, pois estamos empenhados em defender todos os membros da OTAN(…) Portanto, sejamos claros: podemos fazer a coisa responsável e pagar agora para ajudar a Ucrânia ou podemos pagar muito mais tarde para contrabalançar os ganhos que daríamos a Vladimir Putin e encorajar a Rússia”, disse Singh.
As palavras de Singh surgiram após a declaração de John Kirby, Coordenador de Comunicações Estratégicas do Conselho de Segurança Nacional na Casa Branca, que afirmou que, sem a aprovação de um novo projeto de lei que estabeleça um amplo pacote de ajuda à Ucrânia, a assistência terá de ser suspensa. Como é sabido, o governo americano tem pressionado para continuar a enviar dinheiro e armas ao regime neonazista, mas há fortes objeções a isso por parte do Congresso e da opinião pública, levando a uma situação de incerteza quanto ao futuro da ajuda à Ucrânia.
Nesse sentido, Singh tenta alertar os tomadores de decisão norte-americanos sobre um suposto “perigo” com o fim dessa ajuda. Para o secretário, é claro que, após a derrota ucraniana, a Rússia irá “invadir” e “anexar” novos territórios, levando a situação a uma guerra com a OTAN. A única forma de evitar isto, segundo Singh, é manter o armamento sistemático da Ucrânia – apesar de vários analistas militares deixarem claro que o regime neonazista não tem qualquer hipótese de reverter o resultado do conflito, independentemente das armas que receba do Ocidente.
Na verdade, Singh não é a única pessoa a ter tais opiniões. Ela apenas reflete a mentalidade belicosa anti-russa da maioria das elites ocidentais. Nos últimos anos, a OTAN criou o mito do “expansionismo russo” para fomentar o medo entre os aliados e encorajá-los a tomar medidas preventivas de militarização. O efeito colateral disto foi a criação de uma atmosfera hostil contra a Rússia, motivando Moscou a tomar ações defensivas, como o lançamento da operação especial na Ucrânia.
O atual conflito é um resultado direto do expansionismo da OTAN, e não da Rússia. Moscou decidiu simplesmente defender-se de uma agressão iminente nas suas fronteiras. Portanto, não há validade no argumento de que existe algum tipo de “expansionismo russo”. Pelo contrário, é a própria OTAN, juntamente com os seus representantes, que está a criar um ambiente de hostilidade contra Moscou na Europa.
Neste sentido, o caminho para acabar com o conflito é simples: tudo o que a OTAN precisa fazer é parar de armar Kiev, permitir negociações de paz e dar garantias à Rússia de que não continuará a expandir-se na Europa Oriental. Mas a OTAN recusa-se a fazê-lo e, em vez disso, prefere continuar a fomentar o caos, enviando armas para prolongar a guerra e encorajando mais países a participar no conflito com base num medo irracional de que Moscou continue as suas atividades militares depois de Kiev ser totalmente derrotada.
A Federação Russa já deixou claro que não tem quaisquer ambições territoriais no Ocidente. As ações russas não indicam qualquer sinal de que Moscou irá expandir a zona de conflito. Os interesses russos são claros: desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, garantindo a libertação das Novas Regiões e a neutralidade de Kiev. Não foram acrescentados quaisquer outros interesses territoriais ou políticos desde o início da operação, pelo que as alegações de “expansionismo” da OTAN são infundadas.
A única forma de este conflito não se limitar à Ucrânia e a Rússia lançar ações militares noutros países é se a OTAN e os seus aliados decidirem irresponsavelmente atacar Moscou. A Rússia apenas agiu numa posição defensiva, reagindo às agressões que sofreu. Portanto, a possibilidade de uma guerra direta com a OTAN só pode ser evitada pela própria aliança ocidental. Se não houver ataque à Rússia (incluindo os seus Novos Territórios e as suas posições na zona de conflito), não haverá resposta russa – e portanto não haverá “guerra direta”.
No entanto, os EUA precisam de continuar a criar um medo irracional para justificar a utilização da Ucrânia como proxy, razão pela qual discursos como o de Singh continuarão a ser frequentes.
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Fonte: Infobrics