A Modernidade representa uma série de desafios e o mundo da arquitetura e do habitar humano não estão alheios às problemáticas modernas, especialmente no que concerne as relações com o espaço.
Seguindo as teses da “Kunstwissenschaft”, que definiu a nova ciência da arte, uma nova abordagem do espaço arquitetônico foi buscada no século XX. De acordo com Riegl, um historiador de arte austríaco, todo estilo arquitetônico baseava-se em um novo design de espaço. A Art Nouveau, que envolvia as artes aplicadas e também a arquitetura, propôs uma interpretação psicológica das formas arquitetônicas, em especial com ênfase nos aspectos decorativos. O interesse pelo espaço facilitou ainda mais essa ruptura com o uso de formas e arquétipos históricos.
Arquitetura: nasce o estilo internacional
Depois de muitos altos e baixos, chegamos a Walter Gropius, arquiteto e teórico alemão, que tentou definir uma “ciência do design” ao fundar a Bauhaus. Essa era uma escola cujo objetivo principal era unificar a arte e o artesanato, recorrendo também ao uso de novas tecnologias. Gropius distinguiu diferentes tipos de espaços – ilusórios, matemáticos, táteis e artísticos – e acreditava que o movimento e o deslocamento do observador desempenhavam um papel importante em sua percepção. Essa tese ecoou as ideias de Adolf Hildebrand, o escultor alemão que desenvolveu a teoria da visibilidade pura. Assim, Gropius introduziu o tempo como um fator essencial na percepção do espaço arquitetônico e, ao mesmo tempo, propôs o uso de superfícies de vidro. Em sua opinião, elas possibilitaram a compreensão do espaço arquitetônico em toda a sua complexidade, respeitando o contínuo espaço-tempo facilitado pela transparência dos volumes. As ideias de Gropius foram posteriormente adotadas pelo pintor e fotógrafo húngaro Lázló Moholy-Nagy em 1928. Assim, o espaço e a visão em movimento tornaram-se a base teórica do funcionalismo e do “estilo internacional”.
É importante mencionar neste ponto Theo Van Doesburg, expoente do neoplasticismo, pois ele atribuiu um papel central ao espaço no processo criativo, estendendo esse conceito à formação do indivíduo. Em 1920, ele escreveu uma frase em um manifesto: “Eu sou o espaço”. Com essa premissa e declaração de princípio, ele passou a definir as “leis do espaço”, tendo-as estudado também em suas “variações infinitas”. Ele especificou que o papel do arquiteto era entender essas variações para criar um espaço unificado e equilibrado. Ele acrescentou que, no projeto, a interrupção e a fragmentação das paredes possibilitaram a superação da dualidade interior/exterior.
A modernidade se baseia no desejo declarado de romper com as tradições artísticas do passado. Mas, no início, alguns expoentes da modernidade na arquitetura não teorizaram clara e conscientemente suas propostas espaciais. De acordo com Frankl Giedion, historiador da arquitetura, o século XIX representa uma fase de transição que mantém, ainda que de forma atenuada, os princípios dos períodos anteriores.
Um novo conceito de espaço é estabelecido
Até então, a historiografia arquitetônica tratava principalmente dos aspectos técnicos da construção. Com Giedion, o espaço moderno, nascido com o uso de novas técnicas e novos materiais, introduz uma visão mais ampla e dita novas regras de construção.
Mas é com a arquitetura “orgânica” de Frank Lloyd Wright que chegamos a uma visão de superfícies abertas e comunicantes, por meio da eliminação da distinção entre espaço interno e externo. Esses são elementos que se sobrepõem e formam uma parte integral da unidade do projeto e são ativados em momentos de relacionamento. Pode-se dizer que o exterior se torna outro interior e vice-versa, sem uma ruptura entre as partes. Um novo conceito de relação homem-natureza.
Mas logo surgem novas demandas. Isso aconteceu com o surgimento do pensamento funcionalista no final da década de 1920, que levou os arquitetos do movimento moderno a responder à demanda urgente por moradia, que já havia se tornado um problema a ser resolvido naquela época. O objetivo estético se dissolve parcialmente, se não desaparece por completo, em favor da busca e da procura pela rentabilidade máxima do espaço. Assim, prevalece uma função utilitária e funcionalista.
A esse respeito, é preciso fazer uma observação sobre a maneira como o estudo geral é abordado. Durante meio século, o espaço da arquitetura foi estudado mais por sociólogos, etnólogos e geógrafos do que por historiadores da arquitetura. Entretanto, os arquitetos, em suas análises teóricas e práticas profissionais, não se desviaram da valorização do espaço. Isso fica evidente nas inúmeras publicações daquele período, que apresentavam coleções de modelos tipológicos exibidos de forma abstrata, sem nenhuma contextualização histórica.
As ciências sociais no centro das atenções
A partir do final da década de 1960, a sociologia entrou como protagonista na consideração de arquitetos e historiadores que estavam preocupados com o projeto de novas cidades. Na Europa, a pesquisa em “ciências sociais para arquitetura” teve um forte desenvolvimento. Isso mostra que os modelos culturais predominantes determinam a configuração da produção em massa na arquitetura. A questão do uso do espaço está sempre na vanguarda do design e leva os arquitetos a considerar a coexistência de aspectos técnicos e construtivos com a ideia de viver.
Christian Norberg-Schulz, tendo sido fortemente influenciado pelos ensinamentos de Giedion, é um dos principais protagonistas da evolução do conceito de espaço na arquitetura. No início da década de 1960, com base em sua observação da crise do funcionalismo, ele tentou fundar uma teoria científica da arquitetura inspirada na psicologia da Gestalt, ou seja, a psicologia da forma. Em seguida, sob a influência da fenomenologia de Husserl, mas também de Heidegger por seus trabalhos sobre o conceito de vida, ele aprimorou suas reflexões com o objetivo de colocar o homem novamente no centro do espaço. Nasceu um conceito de espaço, por assim dizer, existencial, que se refere ao fato de que toda ação humana reflete uma determinada ideia de espaço. Christian Norberg-Schulz estava interessado em redescobrir a função simbólica da arquitetura, além de aprimorar o próprio espaço. Nesse sentido, ele introduziu o conceito de “lugar”, uma visão mais evoluída e incisiva do que a do espaço.
Fonte: Il Primato Nazionale