A Visão e o Legado de Daria Dugina

Por ocasião do que seria o aniversário de 31 anos de Daria Dugina, é fundamental recordar a sua visão de mundo e o legado deixado por ela para os que anseia pela multipolaridade.

“O fundamento da Quarta Teoria Política é o Dasein; a essência da Quarta Teoria Política é a visão do Sagrado; a substância profunda da Quarta Teoria Política é a realidade da Alma.” – René-Henri Manusardi

Ao homenagear Daria Dugina, que completaria 31 anos hoje, lembramos dela como uma figura profundamente inserida no cenário político e filosófico da Rússia contemporânea.

A jornada profissional de Dugina fez com que ela se tornasse uma porta-voz do eurasianismo. Ela sempre falava da Europa como uma “Rimland”, presa entre as esferas de influência americana e eurasiática, e defendia um império liderado pela Rússia para combater o domínio ocidental. Essa visão de um império era vista por Dugina como uma aliança voluntária que defendia a soberania de seus membros, enfatizando as raízes eslavas orientais compartilhadas por russos, bielorrussos e ucranianos, ao mesmo tempo em que reconhecia a crescente resistência a essa ideia, principalmente na Ucrânia.

Seus escritos frequentemente abordavam o declínio do liberalismo, celebrando o que ela considerava o fim de eras simbolizadas por líderes como Emmanuel Macron, da França, e esperando um redirecionamento do foco global americano sob Donald Trump. Dugina imaginava a Rússia como uma “ilha de liberdade” contra o que ela percebia como o totalitarismo da democracia liberal. Sua Rússia ideal mesclava a economia de esquerda com o conservadorismo de direita, uma combinação que ela acreditava ser especialmente adequada ao contexto russo, apesar de suas aparentes contradições no pensamento político ocidental.

Dugina acreditava que vivíamos no Kali Yuga, uma era mundial que significava o fim de vários paradigmas culturais e ideológicos. Ela considerava esse período como caracterizado pela decadência dos valores tradicionais, um fenômeno que ela associava à ascensão do liberalismo e à fragmentação do espírito e da cultura humana que o acompanhava.

Sua crítica à modernidade está enraizada na crença de que o tempo atual representa um afastamento das estruturas hierárquicas tradicionais e da ordem divina, com a modernidade levando a uma desintegração desses valores. Essa degeneração é mascarada por conceitos modernos atraentes, porém superficiais, como “direitos humanos”, que ela considerava como imperialismo cultural. Dugina argumentava que esses conceitos são exclusivos das culturas ocidentais, e sua aplicação em todo o mundo sugere um senso subjacente de superioridade cultural ou racismo.

Dugina discutia regularmente a Quarta Teoria Política, vendo-a como uma síntese que incorpora os aspectos positivos de ideologias passadas – democracia do liberalismo, solidariedade e anticapitalismo do comunismo e hierarquia do fascismo – ao mesmo tempo em que abordava suas respectivas deficiências.

Com relação a gênero e idade, Dugina achava que cada pessoa, independentemente desses fatores, tem maneiras únicas de se conectar com a tradição e desafiar a modernidade. Ela rejeitava os valores promovidos pela juventude globalista e, em vez disso, propagava um retorno às normas tradicionais e à realização espiritual.

Em sua perspectiva comparativa entre o Oriente e o Ocidente, Dugina inicialmente percebia a Europa como irremediavelmente dominada pelo liberalismo, mas depois descobriu movimentos antiglobalistas na região. Isso a levou a distinguir entre uma Europa liberal, atlantista, e uma Europa alternativa, tradicionalista, alinhada com o eurasianismo.

A mensagem de Dugina para os ativistas norte-americanos enfatizava a importância de usar meios modernos para combater o paradigma moderno, inspirando-se na noção de “homem diferenciado” descrita por Julius Evola, que defende o envolvimento com a sociedade moderna ao mesmo tempo em que preserva internamente os valores tradicionais. Ela acreditava no engajamento em uma guerra espiritual contra a modernidade para defender a verdade da Tradição Perene.

Dugina relacionou a luta política pela Quarta Teoria Política com o estabelecimento de uma ordem metafísica, afirmando que a política é uma manifestação de princípios metafísicos fundamentais que são a base do ser.

A posição de Dugina em relação à invasão russa da Ucrânia foi inequivocamente de apoio. Ela considerou a invasão como uma manifestação do império que ela havia imaginado há muito tempo, interpretando-a como o desafio final à hegemonia ocidental. Ela se recusou a acreditar nos supostos “crimes de guerra” atribuídos às forças russas, que, segundo ela, foram encenados para manipular o público ocidental e intimidar os ucranianos. Essa posição fez com que ela fosse sancionada pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha em julho de 2022, uma medida que ela criticou, afirmando sua identidade como jornalista.

A morte de Dugina em agosto de 2022 foi um evento significativo que despertou a atenção e a controvérsia internacionais. As circunstâncias que envolveram sua morte foram objeto de vários relatórios e alegações, levando a uma narrativa complexa e multifacetada.

De acordo com um relatório do The New York Times, as agências de inteligência dos EUA acreditam que partes do governo ucraniano autorizaram o ataque com carro-bomba perto de Moscou que matou Dugina. Essa avaliação sugere que elementos do governo ucraniano podem estar envolvidos no que parece ser um assassinato político. Após o assassinato, Vladimir Putin concedeu postumamente a Dugina a Ordem da Coragem, um prestigioso prêmio estatal, por sua coragem e abnegação no desempenho de suas funções profissionais.

DARIA, PRESENTE!

Fonte: Arktos

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Constantin von Hoffmeister

Cientista político e tradutor alemão.

Artigos: 47

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