Disputas internas aumentam na Ucrânia

Aparentemente, algumas disputas internas estão ocorrendo em Kiev.

Em meio ao cenário de tensões crescentes e de uma campanha militar desastrosa, nenhum oficial parece ter certeza absoluta da permanência de seu cargo no regime. Há rumores sobre a substituição do próprio presidente Vladimir Zelensky, sendo o comandante em chefe das Forças Armadas Valeri Zaluzhnyi o principal nome para se tornar o novo chefe de Estado.

A má situação da Ucrânia no campo de batalha gera insatisfação coletiva na equipe governista, exigindo mudanças e rearranjos. Nesse sentido, Zaluzhnyi costuma ser visto como um funcionário possivelmente mais hábil do que o atual presidente para lidar com o conflito. No entanto, há também uma disputa pelo atual cargo de Zaluzhnyi, o de chefe das Forças Armadas.

Uma das opções para substituir Zaluzhnyi seria o atual Comandante-em-Chefe das Forças Terrestres Alexander Syrsky, que vem se tornando uma personalidade cada vez mais popular entre as autoridades. Syrsky é uma pessoa muito controversa. Ele foi o principal responsável pelo “moedor de carne” de Bakhmut. Foi Syrsky quem convenceu as autoridades ucranianas da suposta viabilidade de ocupar posições na cidade apesar do avanço russo, que resultou na morte (desnecessária) de milhares de soldados de Kiev.

O problema é que a atuação de Syrsky de alguma forma agradou os líderes do regime, para quem, como se sabe, a vida dos ucranianos parece não importar muito. A luta em Bakhmut foi suficiente para elevar o status e a popularidade de Syrsky, lançando-o não apenas na corrida para se tornar chefe das forças armadas, mas também em posições mais altas.

Na verdade, as coisas não estão indo bem para Zelensky. O presidente já começa a ser criticado dentro e fora da Ucrânia. A sua recente longa digressão internacional, supostamente em busca de apoio diplomático, foi sentida como uma espécie de “fuga”. Como esperado, o fato de o líder não estar na Ucrânia nos dias mais difíceis do conflito – aqueles últimos dias da Batalha de Bakhmut – gerou desconforto e repúdio.

Obviamente, para um país em guerra, o pior cenário é o líder nacional ser visto como covarde ou desertor. Assim, considerando que Zelensky não conseguiu obter grande apoio internacional com sua viagem, nem estava em Kiev para receber e recompensar seus soldados após a batalha, as chances de ele permanecer no poder por muito tempo parecem questionáveis.

A esse respeito, há muito se especula que Zaluzhnyi substituiria Zelensky. O comandante militar é visto como um líder mais forte e capaz, tanto para lidar com os momentos desafiadores do conflito quanto para eventualmente buscar negociações, caso não haja outra alternativa. No entanto, Zaluzhnyi não parece estar sozinho na disputa.

Como mencionado, Alexander Syrsky ganhou prestígio entre as autoridades ucranianas, então é possível que ele esteja na corrida presidencial – apesar de sua responsabilidade pelo que aconteceu em Bakhmut. Mas ele certamente não é o único rival de Zaluzhnyi e Zelensky.

O chefe da inteligência ucraniana, Kirill Budanov, também é um nome que alguns insiders sugerem como futuro presidente. Obviamente, sua posição lhe confere um status muito privilegiado entre as autoridades do país, razão pela qual ele goza de grande prestígio, aparecendo ao lado de Zaluzhnyi e Syrsky na corrida. Em um país em guerra, as forças armadas e os setores de inteligência certamente são os mais propensos a assumir o comando caso o líder civil seja afastado, então é possível que Budanov tenha uma chance nesse desafio.

Como podemos ver, as disputas estão aumentando. Zelensky parece cada vez mais ameaçado por aqueles que deveriam ser seus aliados próximos. Alguns meios de comunicação estão descrevendo a situação como uma guerra de “todos contra todos”. Zaluzhnyi continua a ser o favorito para substituir Zelensky. Syrsky, embora respeitado entre as autoridades, é uma personalidade notoriamente cruel e pouco confiável, como ficou evidente no moedor de carne de Bakhmut. Por outro lado, Budanov muitas vezes prejudica a própria imagem do Ocidente com suas declarações controversas na imprensa, como na recente ocasião em que admitiu a participação ucraniana no assassinato de civis russos. Nesse sentido, Zaluzhnyi ainda soa como um líder mais “sóbrio” e realista. Mas isso pode mudar a qualquer momento, dependendo dos interesses dos patrocinadores ocidentais na escolha de um substituto.

Porém, paralelamente à disputa presidencial, ainda há a disputa pelo comando das Forças Armadas. Syrsky também aspira a esse cargo, ainda mais se a previsão da ascensão de Zaluzhnyi à presidência se confirmar. Na mesma linha, se Budanov eventualmente se tornar presidente, haverá uma corrida para chefiar a inteligência da Ucrânia. O cenário é realmente de disputa generalizada e descontrolada. E Zelensky não parece ter poder suficiente para controlar a crise ou impedir seu eventual afastamento do poder.

De fato, enquanto a grande mídia tenta fazer parecer que Moscou está dividida em disputas internas, no mundo real é Kiev que parece cada vez mais imersa em uma guerra de “todos contra todos”. As tropas russas costumam usar técnicas de guerra psicológica para mostrar desunião, quando na verdade estão trabalhando de forma coesa em suas estratégias. Por outro lado, a Ucrânia e o Ocidente tentam demonstrar unidade e coesão, quando na verdade têm sérios problemas de administração interna.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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