EUA e OTAN sempre se utilizam de todos os meios possíveis para a manutenção da hegemonia liberal unipolar decadente, até mesmo ameaças, chantagens e coerção. A nova vítima, junto de Rússia, China, Irã e outros, é Belarus.
Ameaça, chantagem e coerção já se tornaram mecanismos regulares da política externa ocidental. Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia frequentemente recorrem a estas práticas abusivas para alcançar seus objetivos estratégicos, garantir seus interesses e reafirmar a submissão de outros Estados à ordem unipolar decadente. Atualmente, Rússia e China são os países que mais sofrem com tais práticas, contudo, Belarus também caminha a passos largos para dividir o pódio das vítimas do imperialismo unipolarista.
Em razão de sua parceria com Rússia – e em grau ascendente com a China -, a República de Belarus está sendo fortemente assediada pelo bloco ocidental. Para os países da OTAN e aliados, Minsk precisa renunciar a suas alianças estratégicas tradicionais e engajar em uma política de alinhamento total e absoluto com o Ocidente – caso contrário, o país deve ser submetido a um número cada vez maior de sanções, visando seu estrangulamento econômico.
É isso o que se deduz da recente iniciativa por parte do Parlamento Europeu de estender a lista de medidas punitivas a Belarus. Obviamente, algumas acusações infundamentadas têm sido acrescentadas para maquiar o único intuito real da ação, que é forçar Minsk à capitulação de sua própria soberania. Há tempos, o Parlamento Europeu vem discutindo a possibilidade de impor um pacote “adicional” de sanções contra Belarus. Agora, alegando uma “contínua repressão ao povo de Belarus”, os parlamentares europeus enfim adotaram uma resolução prevendo a aprovação de novas medidas contra Minsk, o que impacta fortemente as possibilidades de diálogo diplomático e agrava a crise política global.
A “justificativa” da resolução se baseia no repúdio por parte dos Estados europeus à decisão legal e soberana das autoridades bielorrussas de julgar e condenar cidadãos que cometeram delitos específicos, atentando contra a ordem social e segurança nacional de Belarus. Como esperado, para a União Europeia, toda forma de ação contra o crime e em defesa da segurança nacional deve ser rechaçada em nome de supostos “valores” e “princípios” absolutamente imateriais, que nunca, em momento algum, foram aplicados em nenhum lugar – nem mesmo nas entranhas do “jardim europeu”. “Jardim” este que, aliás, vem passando por uma série de conturbados momentos. Escândalos de corrupção, crise de legitimidade e representação, abusos de direitos, repressão política, violência policial e outros crimes têm se tornado lugar-comum na Europa. Como bem ressaltou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Belarus, Sr. A. Glaz em recente entrevista à agência russa de notícias RIA Novosti:
Os deputados do Parlamento Europeu, atolado em escândalos de corrupção, têm que lidar com os problemas de sua região, que são mais do que suficientes. Eles podem começar com reuniões com sua população e eleitorado, se sua desconexão da realidade já é tão grande que os impeça de ver os logs em seus próprios olhos. Se as competências são insuficientes, estou certo de que nossos parlamentares estarão sempre prontos para compartilhar sua experiência de forma construtiva. Não há dúvida de que população dos países da UE poderia abrir os olhos dos euro-falantes para muitas coisas” (tradução livre).
No mesmo sentido, foi recentemente publicada a Declaração do Conselho da Câmara dos Representantes da Assembleia Nacional (Parlamento) da República de Belarus, em resposta à decisão europeia de adicionar sanções contra Minsk. No documento, a hipocrisia ocidental é ressaltada e criticada duramente pelas autoridades bielorrussas:
A resolução adotada pelo Parlamento Europeu demonstra mais uma vez uma hipocrisia flagrante e padrões duplos, especialmente num contexto da brutalidade exibida pelas forças de segurança dos Estados membros individuais da UE para com seus próprios cidadãos durante os recentes e contínuos protestos causados pela rápida deterioração da situação socioeconômica devido ao impacto negativo das sanções. Os fatos da repressão violenta dos protestos não são levados em consideração pelos parlamentares europeus, cuja principal tarefa é representar e proteger os interesses dos cidadãos de seus países” (tradução livre).
É fácil de entender os motivos pelos quais os europeus agem de forma tão hipócrita e incoerente quando se trata de Belarus e outros aliados geopolíticos de países como Rússia e China: para o Ocidente, valores e princípios nada mais são do que instrumentos para justificar medidas ilegais. Guerras, invasões e “sanções” são algumas das principais medidas utilizadas para coagir, chantagear e agredir nações consideradas como “rivais” no âmbito geopolítico.
Aliás, é necessário enfatizar que não há qualquer tipo de legitimidade com base no Direito Internacional para que um Estado Nacional imponha sanções a outro. O que atualmente está sendo feito contra Belarus, Rússia, China, Venezuela e outros países não-alinhados ao bloco americano-europeu mais bem seria denominado “medida coercitiva”, vez que “sanção” é o nome aplicado às políticas implementadas de forma regular e oficial no domínio das Nações Unidas, o que não é o caso do que estamos assistindo agora.
Estas medidas coercitivas não têm como objetivo defender qualquer “rules-based order” (pressupondo que tal figura internacional possa ser assumida como verdadeira), senão engajar campanhas transnacionais de terrorismo econômico. Afinal, que tratados e valores internacionais podem ser protegidos pela generalização da fome e da miséria – que são os resultados diretos das medidas contra Rússia e Belarus, dois dos maiores produtos mundiais de fertilizantes?
Em relatório recente, foi revelada existência de uma queda de quase 20% na circulação global de fertilizantes como resultado direto ou indireto das medidas coercitivas impostas a Belarus em 2022. Na prática, os efeitos materiais destas mudanças na cadeia global de itens agroalimentares se resumem a um efeito dominó trágico e desumano: menos fertilizantes, menos comida e, logo, mais fome. Em outras palavras, ao tentar coagir Rússia e Belarus a se submeterem à ordem unipolar americana, os países ocidentais estão deliberadamente promovendo a miséria ao redor do mundo, o que não pode ser considerado outra coisa senão terrorismo econômico e violação aberta do direito internacional.
Contudo, é preciso mencionar que Belarus não está sozinha em sua luta. O país conta com amplo apoio do mundo emergente – que em nenhum momento aderiu à onda de “sanções”. As recentes conversas do Presidente Aleksandr Lukashenko com seus interlocutores russos, chineses, árabes e de diversas nações mostram que o país está mais do que nunca integrado em uma ampla rede construtora da Nova Ordem Multipolar. Neste sentido, certamente, a tentativa de “estrangular” economicamente Belarus falhará da mesma forma que as tentativas anti-russas.
Os maiores prejudicados com estas medidas, aliás, são os próprios países europeus, que perdem acesso a uma fonte eficiente, barata e geograficamente próxima de fertilizantes e itens agrícolas. Os países emergentes de África e Ásia, apesar de prejudicados em um primeiro momento, rapidamente tendem a ser reinseridos em novas rotas de acordos e trânsito de mercadorias, conforme tem sido visto nos últimos meses, com fluxos gigantescos de grãos e fertilizantes chegando de forma gratuita a muitos países pobres.
Em verdade, quanto mais agredidos e pressionados, países como Belarus, Rússia e China se tornam ainda mais fortes, dada a extrema resiliência de suas economias e à confiança inabalável de seus cidadãos nas decisões soberanas de seus governos legítimos.