A Profecia de Ratzinger sobre Putin

Morreu o Papa Emérito Bento XVI, grande teólogo e defensor da cultura europeia contra o avanço do niilismo. Em sua cruzada antiniilista, Bento XVI iniciou uma aproximação entre o Vaticano e a Rússia, apontando para os EUA como núcleo de difusão da degeneração cultural na pós-modernidade.

A extrema resistência de Ratzinger e da Igreja conduzida por ele ao abismo niilista desenfreado foi medida não apenas por seu magistério filosófico-teológico, que se baseava na tradição, mas também pelas posições que eram tudo menos alinhadas na esfera geopolítica. As posições de Ratzinger foram um sinal decisivo da relutância de sua Igreja à normalização niilista. Emblemática foi a crítica elegante, mas impiedosa, ao Presidente Obama, o ícone global do progressismo neoliberal americano.

Enquanto o mundo inteiro cedia a uma exaltação conformista de Obama, a nova máscara do imperialismo atlantista, Ratzinger não escondeu sua dissensão integral em relação àquele que encarnava plenamente a ruptura da família natural. Igualmente emblemática foi a abertura de Ratzinger a Vladimir Putin e à Rússia, que havia voltado com força a encarnar o princípio do multipolarismo e da resistência ao imperialismo.

Em 2016, foi assim que Ratzinger relatou sua própria reunião com Putin, que ocorreu em 13 de março de 2007. Ele disse que conversaram em alemão e encontrou um homem tocado pela profundidade da fé. Isto é interessante: Ratzinger havia exaltado a Rússia de Putin e a havia valorizado tanto em seu papel geopolítico, seu papel como grande potência, quanto no apelo de Putin à Igreja Ortodoxa e à transcendência.

Ratzinger estava ciente das relações de poder no tabuleiro de xadrez geopolítico internacional e sabia que a Rússia de Putin desempenhava o papel de fortaleza e resistência ao niilismo da globalização atlantista. Putin, insinuou Ratzinger, tinha entendido bem como o conflito contra o niilismo globalista e traiçoeiro dos EUA deve passar necessariamente também pela recuperação de um senso de transcendência, cuja comercialização foi uma das principais razões que levaram o Papa Ratzinger a se proclamar distante de Obama.

Era da identidade ortodoxa de Putin, a Rússia, mais do que da América de Obama, que Ratzinger se sentiu mais próximo. Ratzinger estava bem ciente de que a inimizade entre a civilização atlantista do nada e a Rússia de Putin representava um choque cultural. Ao nada da americanização, da ditadura do relativismo, se opunha a tendência telúrica de uma Rússia indisponível a se deixar reduzir a sucursal de estrelas e listras. Esta foi também a motivação por trás da crescente idiossincrasia dos mercados em relação ao pontificado de Ratzinger.

A este respeito, há um artigo de Germano Dottori: “Por que precisamos do Vaticano”, que apareceu na quarta edição de Limes, em 2017. Dottori argumenta que esta foi a verdadeira causa da aversão da ordem globalista a Ratzinger. Confirmando isso vemos o desejo expresso pelo Pontífice com o Patriarcado de Moscou. Quiçá talvez Ratzinger tenha caído em 2013 também por essa sua abertura à Rússia ortodoxa.

Fonte: Radio Radio

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Diego Fusaro

Analista político e ensaísta italiano de orientação nacional-revolucionária. @DiegoFusaro

Artigos: 47

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