Muito fácil explicar o colapso de Ciro Gomes nas eleições presidenciais de 2022. O PT, com sua pretensão de hegemonismo político, destruiu a campanha do PDT com a narrativa do “voto útil” contra o mito da “ameaça fascista”. E para isso, contou com os quinta-coluna “progressistas” do PDT.
Mas nem todos os votos de Ciro Gomes que desapareceram foram para Lula. A realidade é que a campanha do “voto útil” foi um tiro no pé. Com insultos, ameaças, chantagens, pressões e até agressões, o PT fortaleceu o antipetismo no PDT e, para evitar o risco de Lula no 1º turno, muitos eleitores do Ciro foram para Bolsonaro.
Essa tendência continuará no 2º turno. É um erro contar com a transferência de votos de Ciro para Lula. Muitos anularão. Ademais, vários que dirão que vão anular acabarão votando no Bolsonaro.
Mas é claro que essa derrota eleitoral não se explica apenas pelas duas últimas semanas.
A construção política de Ciro tem sido confusa e contraditória desde antes de 2018. Ele quer ser, ao mesmo tempo, o candidato nacionalista e o progressista; quer ser simultaneamente terceira via e centro-esquerda.
Na tentativa de agradar absolutamente tudo mundo, deu sinais contraditórios para os diferentes segmentos do eleitorado. Criticava o “identitarismo” enquanto, na semana seguinte, o fortalecia, não raro com declarações estranhas em relação à religião, ao tema de gênero, etc.
No final da disputa, tentou engatar um conservadorismo pouco orgânico que deveria estar sendo construído desde, no mínimo, 2018 para ter ressonância. O brasileiro é, em sua maioria, conservador. Mas é um público desconfiado e cínico, que não é convencido por mudanças de última hora.
Mas esses problemas não são de responsabilidade especificamente do Ciro. São, em boa medida, culpa do PDT, partido de legado nacionalista, mas que se degenerou em um centro-esquerdismo superficial e se encheu de esquerdistas liberais que não fazem outra coisa que seguir afundando o partido.