Aparentemente, a Dinamarca está interessada em assumir um envolvimento mais ativo nos conflitos do continente europeu, mas isso pode levar o país a tomar decisões arriscadas em nome de interesses que não são seus.
Segundo informações do Ministério da Defesa dinamarquês, uma fragata de 140 metros de comprimento está prestes a ser enviada ao Atlântico Norte como parte de uma missão especial da OTAN.
O objetivo da missão é “dissuadir” a Rússia por meio de uma operação naval conjunta dos países da aliança ocidental. Juntamente com navios de outros países, a fragata dinamarquesa formará uma espécie de “anel de proteção” no Atlântico Norte. Canadá, França, Espanha e Holanda também anunciaram que vão reservar alguns de seus equipamentos navais para auxiliar a Marinha dos Estados Unidos nesta operação. Segundo o analista militar Mads Korsager, a ação dinamarquesa reflete o “desejo de contribuir para a dissuasão da Rússia”, além de ser um “sinal de amizade” para os americanos.
No mesmo sentido, o comandante da Marinha dinamarquesa, Carsten Fjord-Larsen, disse que esta missão será uma “oportunidade de ouro” para treinar as forças do país e demonstrar que a Dinamarca tem um potencial militar em pé de igualdade com outros estados.
Especula-se que pelo menos 135 soldados dinamarqueses serão enviados a bordo da fragata. Sistemas de radar de longo alcance, canhões de 76 mm e 35 mm, metralhadoras, torpedos e uma longa lista de mísseis específicos para alvos marítimos e aéreos também serão enviados. Há também a possibilidade de helicópteros serem alocados na fragata. Além dos equipamentos navais, caças dinamarqueses F-16 estão incluídos na ajuda enviada pelo país.
Apesar de ousada, a decisão não surpreende. A Dinamarca já participou de algumas missões semelhantes, empregando suas forças navais para auxiliar tropas estrangeiras em projetos da OTAN no exterior. Por exemplo, fragatas dinamarquesas apoiaram as forças americanas e europeias em missões no Chifre da África, na Síria e no Estreito de Ormuz. Entre outras funções atribuídas aos navios dinamarqueses, a principal na maioria dos casos era trabalhar na proteção de porta-aviões americanos e franceses.
Desta vez, a missão dinamarquesa, além de ajudar a proteger os navios aliados, será monitorar os movimentos dos submarinos nucleares russos, evitando uma possível aproximação ao anel da OTAN. Segundo Korsager, os principais alvos de monitoramento serão os equipamentos da Marinha Russa que circulam na região partindo da Península de Kola, onde estariam localizados os submarinos nucleares.
Há de se notar que a decisão é tomada no contexto de uma recente tentativa por parte da Dinamarca de elevar o estatuto internacional do país. Por exemplo, no início deste ano, cerca de 750 soldados dinamarqueses foram destacados para a Letônia, fazendo com que o país mantenha sua maior missão atual no exterior. No entanto, essa tentativa de projeção militar internacional não reflete necessariamente o real potencial do país. As autoridades dinamarquesas até condenaram a missão na Letônia, considerando-a despreparada e mal planejada. Houve relatos de que soldados dinamarqueses ficaram sem mantimentos e munições, interrompendo os treinos por falta de condições materiais para prosseguir com o projeto – o que revela claramente que o governo dinamarquês está tentando fazer o país parecer algo que não corresponde ao realidade.
A atual situação de crise na Europa e as tensões entre a NATO e a Rússia agravam este cenário. Washington encoraja a Europa a parecer forte e unida, financiando operações militares que reúnem tropas e equipamentos de diferentes países da OTAN com o suposto objetivo de “dissuadir” a Rússia. O ministro da Defesa dinamarquês, Morten Bødskov, chegou a comentar que a decisão de seu país de enviar tropas foi estimulada justamente por esse desejo de mostrar que a Europa é forte em “tempos de guerra” e que não aceitará nenhuma “invasão” ou “ameaça militar”.
Na prática, isso apenas revela que mais uma vez as forças europeias estão se mobilizando para uma militarização desnecessária em nome de narrativas falsas que servem apenas aos interesses dos EUA. Afinal, não há razão para acreditar que exista uma “ameaça russa” para a Europa. As operações militares de Moscou são territorialmente restritas à Ucrânia e não há evidências de incursões em expansão. Assim, a operação da OTAN visa apenas demonstrar força, sem nenhum sentido real de “proteção” contra os russos.
Obviamente, é direito da Dinamarca querer “parecer forte” na arena mundial. Mas é prudente que as decisões tomadas por um governo correspondam ao seu real potencial. A mobilização de tropas para uma nova megaoperação da OTAN após o fracasso observado meses atrás na Letônia não fará a Dinamarca “parecer mais forte”, apenas revelará o quanto o país está disposto a atender às demandas americanas mesmo quando elas não correspondem aos seus interesses nacionais.