A eleição francesa pode desferir um duro golpe no globalismo

Depois de Emmanuel Macron abraçar o globalismo à revelia dos interesses nacionais durante cinco anos, sua principal rival, Marine Le Pen, se aproxima.

Por Rachel Marsden

Os franceses se encaminham para as urnas nesse domingo, 10 de abril, pela primeira de duas rodadas eleitorais para a presidência do país. Não mais sobre “direita vs. Esquerda”, a eleição engalfinha a camisa de força do establishment globalista contra a verdadeira independência e liberdade. O resultado possui o potencial não só de estremecer o solo francês, mas toda a Europa, causando um grande impacto na ordem do “legalismo” globalista. Mas será que os franceses aproveitarão a oportunidade?

Existe há bastante tempo a crença de que a candidata da direita, Marine Le Pen (Rassemblement National), jamais poderia vencer contra o candidato do establishment — neste caso, o incumbente Emmanuel Macron.

Tradicionalmente, eleitores interessados na segurança social pela qual Le Pen advoga voltam-se para a extrema-esquerda. Enquanto isso, aqueles que buscam maior proteção do estado da exploração globalista sempre à espreita voltam-se para o candidato de establishment da direita mais convencional, que advoga pelo livre mercado e governo limitado enquanto joga um osso para protecionistas da extrema-direita ao prometer conter a globalização. Eles nunca o fazem.

O atual presidente, Emmanuel Macron, chegou ao poder em 2017 ao se posicionar como candidato da “globalização inteligente”. Apesar de servir como ministro da economia, indústria e questões digitais do então presidente Francois Hollande, o fato de ter se licenciado do cargo para se preparar na sua primeira eleição deu-lhe a oportunidade de se posicionar como “nem direita, nem esquerda”, fora do establishment. Montou seu próprio partido, aglutinando personalidades dos dois lados do espectro político, criando a ilusão de um anti-establishment não convencional.

Macron chegou a dizer ao Financial Times, em abril de 2020 que a globalização “estava chegando ao fim do seu ciclo, estava comprometendo a democracia.” Não obstante, quando chegou o momento de traduzir palavras em ações, ele ligou a França à toda e qualquer iniciativa multilateral imaginável.

Ele teve cinco anos para pender a balança em favor dos franceses, em vez disso, cegamente alinhou-se com posições ianques contra Rússia, Irã, China e outros tradicionais ‘adversários’ dos EUA. A falta de liderança de Macron compromete a capacidade da indústria francesa em tomar decisões bilaterais do seu interesse enquanto aumenta o custo de vida médio do cidadão francês. Agora, no fim de seu mandato, Macron está enrascado tentando convencer os franceses de que estão melhor depois do que antes dele.

Macron também tinha uma escolha ao lidar com a crisw do Covid. Sem surpresas, novamente, ele escolheu o globalismo. Ele duplicou as medidas que resultaram na perda do ganha pão entre os franceses por causa da vacina obrigatória. Aconselhado por firmas de consultoria globais no meio de uma crise sanitária que custou milhões de euros aos cofres públicos, de acordo com um relatório do senado francês, Macro favoreceu a abordagem do establishment Ocidental. E conquanto não sabemos os detalhes dessas consultorias e seus contratos, ou o que acontece por trás das portas fechadas e acordos de confidencialidade, podemos ao menos atestar o resultado: passes vacinais ligados a identificadores digitais que podem ser impostos a qualquer momento e lugar conforme a vontade de Macron e o interminável “estado de emergência”.

Tais firmas globais, que empregam ex-oficiais de alto escalão e representam tanto multinacionais quanto clientes do governo, estão em posição de armar sistemas governamentais inteiros para o benefício de seus clientes privados, com o custo caindo sobre contribuintes. Imagine, por exemplo, a vacinação de um cliente da Big Pharma ligado à sua identidade digital de uma Big Tech de forma mandatória dentro de um sistema global harmonizado e pago pelos impostos.

Sob Macron, esses facilitadores irresponsabilizáveis e benfeitores da globalização se ligaram firmemente ao bolso público como se fosse um buffet livre.

Macron fracassou em desenhar um caminho independente para a França em todas as crises que o país enfrentou. E agora os franceses estão pagando o pato — o que explica algumas pesquisas apontarem Le Pen na perseguição direta ao atual presidente no segundo turno, em 24 de abril.

Ao nos aprofundarmos nas informações das pesquisas do fim de março e começo de abril, duas tendências aparecem. Primeiro, a inicialmente fraca esquerda anti-establishment (representada por Jean-Luc Melenchon do La France Insoumise) ganhou terreno às custas da esquerda pró-establishment. Segundo, o apoio da direita pró-establishment desertou significativamente para lado de Le Pen, antes tendo apoiado Valerie Pecresse do Les Républicains (que já descreveu a si como uma híbrida de Angela Merkel e Hillary Clinton). Dentre estes tradicionais apoiadores do establishment de direita, Pecresse caiu de 44% do apoio em março para atuais 29%, enquanto Le Pen subou de 3% para 17% no mesmo período, de acordo com a pesquisa Ipsos.

É revelador que tanto Le Pen quanto Melenchon compartilhem do desejo de retirar a França da OTAN e favorecer maior independência para os membros da UE. É impossível superestimar o impacto que uma França verdadeiramente independente teria nas instituições de governança global, e o momentum destes dias pré-eleição sugerem uma nova mudança contra o establishment conforme os cidadãos franceses começam a sentir os efeitos das ações mais recentes do establishment em suas vidas cotidianas.

Não estamos mais no campo do debate abstrativamente ideológico, mas confrontados com uma escolha existencial entre continuar sob a mesmo “ordem legalista” veiculada às elites globalistas, que continua a aproveitar seu padrão de vida enquanto aquecem conflitos intermináveis e caos, ou desembarcar dessa montanha-russa masoquista de uma vez por todas.

Enquanto Macron teve cinco anos para aprender como dizer não para os interesses particulares daqueles que sistematicamente afligem as democracias ocidentais e falhou, se não piorou o problema. Essa eleição deteminará se a França realmente se cansou da charada que continuamente os fez votar contra seus próprios interesses.


Fonte: RT
Tradução: Augusto Fleck

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Rachel Marsden

Colunista, estrategista política e apresentadora de talk-shows sobre política em francês e inglês.

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