As 5 Principais Tendências Geoestratégicas da Nova Ordem Mundial de Biden

Quem acha que os EUA foram, simplesmente, derrotados no cenário atual e que vão se recolher na América do Norte está enganado. A elite estadunidense já está calculando suas perdas e se reorganizando para assumirem a liderança do mundo pós-Ucrânia e pós-pandemia.

O Presidente dos EUA Joe Biden declarou na segunda-feira que “Vai haver uma nova ordem mundial lá fora, e nós temos que liderá-la, e temos que unir o resto do mundo livre para fazê-lo”. Até este ponto, a própria frase “Nova Ordem Mundial” (NOM) era tratada como uma suposta “teoria da conspiração” e impiedosamente suprimida no discurso da mídia hegemônica, apesar do ex-presidente dos EUA George H. W. Bush ter sido responsável pela introdução deste conceito por volta do final da Velha Guerra Fria. Entretanto, agora que Biden pronunciou publicamente essa frase, não é mais “politicamente incorreto” discuti-la. Na verdade, ela pode até se tornar parte da narrativa oficial no futuro próximo. O que a presente peça pretende fazer é identificar as cinco principais tendências geoestratégicas da Nova Ordem Mundial de Biden e prever sua trajetória futura.

O Bloco Ocidental liderado pelos EUA se consolidou

A reação sem precedentes e pré-planejada do Ocidente liderado pelos EUA à operação militar especial da Rússia na Ucrânia serviu para consolidar este bloco sob a hegemonia dos Estados Unidos. A UE sacrificou sua soberania estratégica a seu patrono transatlântico sob o pretexto de “defender-se contra a ameaça russa”, apesar de isso levar a enormes consequências econômicas autoinfligidas. Esse resultado será explorado pelo Eixo Anglo-Americano para expulsar os concorrentes de suas empresas, comprar algumas das que restam e prejudicar permanentemente a competitividade abrangente do bloco no futuro próximo. O modelo hegemônico que está sendo implementado ativamente pelos EUA nos dias de hoje também pode eventualmente ser empregado para reduzir e, por fim, cortar as relações entre a China e a UE também.

A Rússia Acelerará sua Grande Reorientação Estratégica

A Grande Potência Eurasiática vem reorientando seu grande foco estratégico para o Sul Global desde o início das sanções do Ocidente liderado pelos EUA em 2014, mas irá acelerar esta tendência, uma vez que literalmente não tem mais alternativa. No entanto, para seu crédito, a Rússia deu passos impressionantes em toda a região não ocidental nos últimos oito anos. Em resumo, ela se coordena com a China como motores duplos da emergente Ordem Mundial Multipolar (OMM); conta com uma combinação de seu Pivô Ummah com países majoritariamente muçulmanos como o Paquistão e sua parceria estratégica reafirmada com a Índia, co-líder do Neo-NAM, para evitar de forma preventiva uma dependência desproporcional na República Popular; tornou-se fazedora de reis da Ásia Ocidental devido a seu papel insubstituível na Síria; e está expandindo rapidamente sua influência também na África e na América Latina.

A Neutralidade Renasceu

O fato de a grande maioria da comunidade internacional ter se recusado a sancionar a Rússia, apesar da imensa pressão americana para fazê-lo, fala de seu desejo de permanecer neutra no teatro da Nova Guerra Fria da Eurásia Ocidental entre a Rússia e os EUA. Grandes países como China, Índia, Irã e Paquistão também não votaram contra a Rússia na UNGA, nem alguns países africanos. O renascimento da neutralidade principiológica nas Relações Internacionais, que também será previsivelmente praticada quando o teatro eurasiático oriental da Nova Guerra Fria entre a América e a China aquecer inevitavelmente na linha do modelo eurasiático ocidental com a Rússia, prova que os EUA não são mais capazes de exercer unilateralmente sua vontade sobre todos os outros como durante os anos 90 e início dos anos 2000.

As alternativas não ocidentais serão priorizadas

O armamento de plataformas e sistemas ocidentais contra a Rússia como parte da Guerra Híbrida de espectro total dos EUA contra ela incentivará o resto do mundo que ainda está fora da recém-formalizada “esfera de influência” americana (isto é, países não ocidentais) a priorizar o rápido desenvolvimento de alternativas não ocidentais. Isso porque eles temem, com razão, que possam acabar se tornando “a próxima Rússia” se continuarem afirmando de forma independente seus interesses nacionais e permanecendo estrategicamente autônomos. O efeito a longo prazo desta tendência é que o domínio dos EUA sobre plataformas, sistemas e padrões irá inevitavelmente desaparecer, o que, por sua vez, poderia provocá-lo a iniciar a “balcanização” do sistema internacional, até então amplamente globalizado, antes que isto aconteça numa tentativa desesperada de instrumentalizar o caos.

As Dimensões Ideológico-Sistêmicas da Nova Guerra Fria

A tendência final se torna evidente a partir das quatro acima mencionadas e essa é a indiscutível divisão do mundo no “Bilhão de Ouro” do Ocidente, liderado pelos EUA, e no Sul Global, não Ocidente, que estão lutando para reafirmar a hegemonia unipolar declinante da América sobre as Relações Internacionais ou para finalmente implementar a Nova Ordem Mundial que foi consagrada na Carta das Nações Unidas, mas que nunca teve a chance de entrar em prática devido à Velha Guerra Fria, e então o breve “momento unipolar”. Atualmente, a ordem mundial transitória pode ser descrita como bi-multipolar de acordo com o modelo introduzido por Sanjaya Baru, que coloca as superpotências americana e chinesa no topo do sistema seguido pelas grandes potências, então comparativamente menores, mas é incerto qual será sua forma futura.

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As cinco principais tendências geoestratégicas que foram identificadas nesta análise também estão ocorrendo de forma importante dentro do “Grande Reset”/”Quarta Revolução Industrial” (GR/4IR) em andamento, cujos processos de mudança de paradigma de espectro total foram acelerados pelos esforços descoordenados da comunidade internacional para conter a COVID-19 (“Guerra Mundial C”), que até mesmo a Rússia abraçou em certa medida de acordo com seus próprios interesses como sua liderança os entende. Os observadores não devem esquecer este contexto socioeconômico, apesar dos assuntos geopolíticos e militares terem precedência na consciência do público de hoje. No conjunto, estes fatores irão remodelar tudo e, portanto, constituirão sem dúvida o núcleo da Nova Ordem Mundial de que Biden falou no início desta semana.

Fonte: Oriental Review

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Andrew Korybko

Analista político e jornalista do Sputnik, é também autor do livro "Guerras Híbridas".

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