Dugin na Mídia Brasileira: As Difamações do “Observatório da Extrema Direita”

Com a popularização de Dugin no Brasil surgem inúmeros “especialistas” para explicar seu pensamento. Alguns tentam simular neutralidade, outros nem se dão ao trabalho. Se encaixa no segundo caso David Magalhães, propagandista ultraliberal e coordenador do chamado “Observatório da Extrema Direita”, que conseguiu reunir em uma matéria todos os clichês e mentiras possíveis contra o filósofo russo e a Nova Resistência.

Há alguns dias, o militante e propagandista liberal-globalista David Magalhães, coordenador do chamado “Observatório da Extrema Direita”, publicou em seu Twitter um texto (reproduzido depois no portal esquerdista Diário do Centro do Mundo) abordando o dilema que a crise ucraniana impôs ao bolsonaristas: Biden/Zelensky ou Putin, Ocidente/Ucrânia ou Rússia.

Não comentaremos sobre o tema da “ucranização” do Brasil, defendida por Olavo de Carvalho, Sara Winter e uma ampla parcela do olavo-bolsonarismo brasileiro ou da presença da de símbolos e instrutores do Pravy Sektor no Brasil (ou, também, da atuação da SBU [o serviço secreto ucraniano] em nossas terras), porque aqui não é o espaço e, de modo geral, esses são temas claros e já amplamente debatidos.

Nos interessa a abordagem que Magalhães faz do “outro lado”. Infelizmente, como tem sido costumeiro na mídia brasileira, não há qualquer apreço pela verdade nessa peça de propaganda (e é disso que se trata).

Magalhães parte de uma afirmação categoricamente falsa, a de que Dugin pediu a morte de todos os ucranianos. Na prática, essa não passa de uma narrativa propagandista atlantista, que não é referendada por qualquer fonte primária. Pouco após o 2 de Maio de 2014, quando dezenas de cidadãos foram massacrados e queimados vivos na Central Sindical de Odessa por uma horda de hooligans e neonazistas, Dugin comentou em uma entrevista que não era mais possível dialogar com os responsáveis pelo massacre e que, a partir daquele momento, “matar, matar, matar” era a única resposta possível.

Quanto às referências a um “ocultismo neonazi” e a um “perenialismo”, lançadas no ar, também é necessário contrariar. Dugin é um leitor voraz e absolutamente privado de preconceitos. De modo que tal como ele foi influenciado por Deleuze e Derrida também foi influenciado Herman Wirth. De resto, óbvio, Dugin é um grande leitor de René Guénon e apesar das influências guenonianas não é um perenialista por rejeitar a tese fundamental da “unidade transcendente das religiões”.

Quanto a Rafael Lusvarghi, ele nunca foi membro da Nova Resistência. Quando ele saiu do Brasil a Nova Resistência ainda não existia. E quando ele retornou não estava muito interessado em militância política. Desnecessário dizer que ele não foi membro de grupos paramilitares, mas de milícias populares voluntárias. A informação de que ele era “frequentador de fóruns neonazi” vem sem fonte ou referência. E evidentemente fizemos campanha para libertá-lo. O “certo” e o “errado”, na política, é definido pelo lado pelo qual se luta. Se ele fosse fascista, comunista, anarquista ou monarquista pouco importaria.

Necessário avançar esclarecendo que o filósofo italiano Julius Evola nunca rompeu com Mussolini por acusa-lo de “trair o fascismo”. Ele, na verdade, nunca nem mesmo “rompeu com Mussolini”. Ele apenas mantinha uma postura de crítica distante em relação ao fascismo, considerando-se (tal como dito em sua autodefesa perante um tribunal) suprafascista. E Dugin não foi recepcionado no Brasil por militantes da Ação Integralista Brasileira, que não existe há décadas. Simplesmente havia entre os palestrantes um membro da Frente Integralista Brasileira.

Desnecessário dizer que o ideólogo dessa peça de propaganda superestima o livro de Benjamin Teitelbaum, cuja tese pretende forçar uma comunalidade entre Bannon, Dugin e Olavo que é inexistente.

Não é que Dugin e Olavo “tinham suas divergências”. Os dois estavam situados em lados opostos em uma guerra metafísica que ambos consideravam fundamental, ontologicamente constitutiva da realidade. Eles eram inimigos naquilo que Dugin considerava como “A Grande Guerra dos Continentes”, com Olavo sendo um agente consciente de Cartago (refigurada nos EUA) e Dugin sendo um agente consciente de Roma (refigurada na Rússia).

Naturalmente, para quem é liberal e globalista convicto, qualquer coisa que não seja apologia servil da ideologia dos direitos humanos, do Estado de Direito, da democracia liberal e do capitalismo (desenfreado ou moderado).

Finalmente, o ideólogo Magalhães lança a falsa simetria da narrativa dos “neonazistas dos dois lados”. O Regimento Azov, hoje com mais de 3.000 membros, possui segundo sua própria liderança aproximadamente 20% de neonazistas entre seus membros, o que daria no mínimo 600 neonazistas. Quanto ao lado pró-russo, só se consegue oferecer imagens isoladas e antigas de um punhado de combatentes que, em algum momento de suas vidas, foram neonazistas.

Simetria evidentemente falsa, quando os neonazistas declarados e reconhecidos estão institucionalizados no lado ucraniano como membros da Guarda Nacional, enquanto os supostos neonazistas individuais do lado pró-russo eram membros de milícias voluntárias irregulares.

De modo geral, se esse é o trabalho do “Observatório da Extrema-Direita”, não parece estar observando bem.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

Artigos: 597

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