O Novo Capitalismo Absoluto-Totalitário – Filho do Maio de 1968

O liberalismo pós-moderno possui uma natureza claramente totalitária, negando até mesmo a possibilidade de imaginar um outro mundo para além do hedonismo consumista sem fronteiras. Para compreender de onde vem essa expressão atual da ideologia da classe dominante mundial é necessário estudar o Maio de 1968 e suas reivindicações cosmopolitas infantis.

O novo espírito do capitalismo é a) totalitário, pois ocupa a realidade material e imaterial de forma total e totalitária, tornando-se como o ar que respiramos, saturando o espaço do mundo (globalização) e o da consciência, com uma colonização do imaginário, de modo que tudo é pensado através da forma-mercadoria (dívidas e créditos nas escolas, útero de aluguel, investimentos afetivos, etc.). É também b) absoluto, pois ele agora está perfeitamente “concretizado” (absolutus), ou seja, realizado em seu próprio conceito (tudo, sem resíduos, tornou-se mercadoria): e é perfeitamente concretizado precisamente porque está “liberado de” (solutus ab) toda limitação que ainda poderia impedir, deter ou até retardar seu desenvolvimento.

Ilusoriamente saudado como um processo revolucionário de oposição à ordem capitalista, o maio de 1968 – como mostrado em O Futuro é Nosso – deve ser interpretado de forma diametralmente oposta, como o mito da fundação do turbocapitalismo: e, mais precisamente, como o ponto decisivo de passagem da fase dialética à fase especulativa e, portanto, como um momento inteiramente inserido na lógica dialética do próprio capitalismo. Em uma fórmula, 1968 marca a emancipação não em relação ao capitalismo, mas do capitalismo: o capitalismo se liberta, uno motu, da consciência infeliz burguesa (substituída pela inconsciência feliz do consumidor hedonista) e das lutas pelo reconhecimento do trabalho servil.

Estas últimas são substituídas pelas novas lutas de liberalização individualista dos consumos e dos costumes (que reforçam em vez de enfraquecer a ordem de produção) e pela economicização do conflito, ou seja, por lutas que não contestam o capitalismo, mas que, simplesmente exigindo melhores condições salariais dentro dele, o assumem como um horizonte insuperável. Assim entendido, 1968 é o momento genético do novo capitalismo absoluto-totalitário aterrorizador, que dissolve todas as identidades – inclusive de classe – e produz uma massa amorfa de consumidores que se relacionam com o ente em sua totalidade sob a forma de consumo: é o ponto decisivo de passagem para a individualização atual pós-burguesa, pós-proletária e ultracapitalista.

O 68, ao lutar contra a burguesia, sua consciência infeliz e seu legado ético, lutava, por isso mesmo, não contra o capitalismo, mas a favor dele, se considerarmos que era coerente com a própria lógica do desenvolvimento dialético do capitalismo destruir tanto a burguesia quanto o proletariado como obstáculos à ampliação ilimitada da forma-mercadoria e de suas patologias. Mais precisamente, o movimento de 1968, ao promover uma ordem política de tipo anárquico e libertário, avesso às grandes organizações como intrinsecamente opressivas, favoreceu em vez de contrastar a gênese da desregulamentação neliberal e da nova figura dialética do capitalismo absoluto-totalitário, pelo qual foi logo reabsorvido. Isso constituiu, além disso, uma das muitas provas de que, como Marx já sabia, o capital é proteano e adaptável, desde que as formas de extorquir mais-valia estejam garantidas.

O capitalismo supera dialeticamente as reivindicações antagônicas do proletariado (luta de classes, espírito de divisão, organizações partidárias, paixão revolucionária) e, ao mesmo tempo, a consciência infeliz burguesa. Esta última também representa uma contradição dentro do capitalismo, nada menos que as reivindicações antagônicas e potencialmente revolucionárias do proletariado, se considerarmos que a burguesia a) tem sua própria vocação universalista que pode levá-la – como no caso de Marx – a desafiar o mundo capitalista histórico no qual é a classe dominante, e b) tem uma esfera de valores e ética que não pode ser mercantilizada e é, portanto, em última análise, incompatível com os processos de omnimercantilização próprios do capitalismo absoluto.

A burguesia e o proletariado, em seu conflito dialético, haviam se desenvolvido dentro do quadro da eticidade no sentido hegeliano, ou seja, dentro do espaço real e simbólico das sólidas e solidárias “raízes” da vida comunitária, ligadas à família e à escola, ao sindicato e ao Estado soberano nacional. O capitalismo absoluto-totalitário deseticiza o mundo da vida, aniquilando toda comunidade residual que não seja a intrinsecamente comunitária do efêmero do ut des mercantil: ele desconstrói a família e os sindicatos, a escola e o Estado soberano, produzindo o open space do mundo reduzido a um mercado e habitado unicamente por consumidores desenraizados e homologados, sem consciência antagônica proletária e sem consciência infeliz pós-moderna.

Deseticizada, a sociedade se torna uma simples sociedade de consumo, um mercado cosmopolita povoado não por cidadãos de Estados-nações e pais e mães, mas apenas por competidores; competidores que, na ausência de qualquer espírito comunitário, se relacionam apenas com base nos princípios teorizados pela Riqueza das Nações de Adam Smith – a dependência omnilateral da necessidade e do egoísmo aquisitivo – em relação ao cervejeiro, ao açougueiro e ao padeiro.

Mais forte porque passou pelo “imenso poder do negativo” da cisão e do conflito revolucionário entre a burguesia e o proletariado, o capitalismo torna-se capitalismo absoluto-totalitário: absoluto, porque – como mencionado – corresponde plenamente a seu Begriff; totalitário, porque subsumiu sob si todas as esferas de produção, de existência e imaginação, do real e do simbólico.

Da mesma forma, do lado da produção intelectual, a “consciência infeliz” se dissolveu e, no lugar da classe dialética da burguesia, uma global class tomou seu lugar, que não é mais burguesa, mas ultracapitalista, inclinada a aceitar casualmente o “politeísmo de valores” e estilos de vida dentro da “jaula de aço” do monoteísmo idolátrico do mercado.

Fonte: AVIG

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Diego Fusaro

Analista político e ensaísta italiano de orientação nacional-revolucionária. @DiegoFusaro

Artigos: 596

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