Alexander Dugin explora, com base na dialética senhor-escravo de Hegel, as origens da escravidão moderna e do racismo nos ideais iluministas e progressistas da Modernidade e a distingue fundamentalmente da escravidão como praticada em sociedades pré-modernas tradicionais.
30 de julho é considerado o dia mundial contra a escravidão. Podemos dizer que a escravidão é um fenômeno muito importante na hora de organizar a sociedade. Hegel baseou sua teoria sociopolítica mais relevante na dialética senhor-escravo.
O Senhor só se torna Senhor na medida em que enfrenta a morte cara a cara e desafia seu destino. Essa é a essência do guerreiro segundo Hegel: somente aqueles que são capazes de desafiar a morte podem alcançar um alto status social e, portanto, pertencer à nobreza. Aristocrata é qualquer pessoa que tem vontade de ir à batalha para matar e sacrificar sua vida.
Heráclito disse que a guerra é o pai de todas as coisas, pois transformava escravos em escravos e homens livres em homens livres.
O escravo tem medo da morte e, portanto, prefere a segurança a ter que arriscar sua vida. Um escravo é um escravo porque não quer enfrentar a morte. A valentia de um Senhor não o torna imortal, mas o faz ganhar um escravo. O Escravo consegue sobreviver evitando, assim, as garras da morte, mas paga pela sobrevivência perdendo a liberdade: para viver é preciso submeter-se a quem está disposto a morrer voluntariamente.
Marx e Kojève construíram suas teorias filosóficas sobre este princípio dialético. Marx disse que chegaria o tempo em que o Senhor acabaria dependendo completamente do Escravo e quando isso acontecer, o Escravo deveria derrubar o Senhor. O Escravo, que não é nada, matará seu Senhor, que é tudo. No entanto, a realidade veio a contradizer Marx, uma vez que os escravos nunca realizaram tal ato. Não é por um Escravo tomar o lugar de seu Senhor que ele, por sua vez, se torna Senhor. Pelo contrário, ele se torna nada…
Kojève argumentou que o liberalismo e a burguesia como classe social eram uma espécie de síntese entre o Escravo e o Senhor. A sociedade civil nada mais é do que uma mistura entre um Senhor covarde e ganancioso com um Escravo agressivo e rancoroso.
No entanto, o contexto histórico atual da luta contra a escravidão tem um significado muito mais concreto. A maioria das pessoas hoje não sabe que nos tempos antigos e na Idade Média cristã, a escravidão como instituição não era baseada na raça. Naquela época, os guerreiros capturados na batalha acabavam se tornando escravos, mas tinham um papel insignificante na economia, na produção e na vida social. Homens fortes e livres não gostavam da escravidão e, portanto, era uma prática muito marginal.
Foi durante a Modernidade que a escravidão floresceu como instituição social, ou seja, precisamente na época em que ocorreram as revoluções científicas e nasceram as democracias burguesas. Foi justamente nesse contexto que nasceu o racismo na Europa Ocidental, que não existia na Idade Média.
Os povos da África, Ásia ou América, que haviam sido recentemente conquistados pelos europeus, eram considerados criaturas selvagens por carecerem de desenvolvimentos científicos e tecnológicos, que eram considerados critérios para medir o progresso de uma sociedade: nesse sentido, eram considerados como porcos ou ovelhas. A escravidão moderna surgiu do Iluminismo, do progresso, da democracia liberal e da imagem científica do mundo.
Tudo isso nos leva a dizer que a escravidão atual é um fenômeno que nasceu da Modernidade capitalista ocidental e não é uma instituição residual arcaica, já que novas tecnologias foram utilizadas para escravizar industrialmente as massas e exterminar povos inteiros, requisitos necessários da revolução industrial e ganância comercial. Afinal, o trabalho escravo era gratuito e proporcionava grandes benefícios para uma burguesia calculista e astuta.
O progresso, a racionalidade científica e a reorganização da produção lançaram as bases para o racismo e a escravidão como os conhecemos hoje. Desta vez, no entanto, não se tratava mais de guerreiros valentes que se tornaram Senhores durante a guerra, mas de burgueses empreendedores, covardes e gananciosos que agora dominavam o mundo. Estes últimos exterminaram a população de continentes inteiros – como aconteceu com os índios norte-americanos – e tiraram milhões de africanos de suas casas para transformá-los em negros subumanos, desprovidos de qualquer idioma, cultura, religião ou comunidade.
Posteriormente, os liberais concluíram que era mais lucrativo libertar os escravos, porque a cor da pele não era mais um indicador de progresso. Por outro lado, os brancos também se tornaram massas escravizadas pelo Capital. A emancipação daqueles que antes eram escravos levou à escravidão de todos os demais.
Isso nos leva à conclusão de que a luta contra a escravidão não acabou e os ultrajes e pogroms do BLM ou as reações histéricas e viscerais de hoje não resolveram as coisas. Se quisermos derrotar a escravidão, devemos destruir o capitalismo e derrubar a hegemonia ocidental. É por isso que devemos mostrar que o progresso é, em sua essência, uma ideia racista, já que o progresso – ou sua ausência – foi a justificativa ideológica que permitiu à civilização europeia dos Novos Tempos exercer sua violência monstruosa e horrível sobre todos os outros povos, culturas, raças e civilizações do planeta. Todos esses massacres foram realizados para destruir os selvagens e bárbaros, mas os verdadeiros selvagens e bárbaros são aqueles que realizaram tais atos de destruição.
Hoje chegamos ao ponto em que todos os povos e culturas do mundo foram escravizados e alienados por uma elite liberal globalista e tecnocrática que descende diretamente de ex-proprietários de escravos que anteriormente exterminaram povos e culturas inteiras em todo o planeta.