Independência dos Estados Unidos da América e a criação de um Território Soberano

Estreando em nosso site, a camarada Monique Bueno discorre sobre algumas consequências do 4 de julho e suas implicações nos dias de hoje.

A independência estadunidense, rebentada em 4 de julho de 1776, reflete a criação de um Território independente e soberano, surgido posterior à união entre as trezes colônias.

A partir da subvenção dos Estados federados à União, tornou-se nítida a distinção cultural entre os estados do Norte e os Estados do Sul. Dentre as particularidades era notória a inspiração de alguns estados do Sul, de uma antiga aristocracia da Velha Inglaterra, com seus valores, cultura e Tradição. Enquanto que o Norte representava em sua cultura a “Nova” Inglaterra, com os moldes do ferrenho capitalismo, da compra e venda, dos negócios, do empreendedorismo.

Essa distinção entre o ethos do Sul e do Norte se refletia quanto à discussão entre a abolição imediata da escravidão, e a abolição gradativa desta. A primeira era defendida pelo Norte, e a segunda, pela maioria dos republicanos do Sul. Jeferson Davis, presidente do território sulista, tinha um discurso favorável à emancipação dos escravos, no qual a abolição gradativa pautava-se dentre as particularidades de viés econômico, no transportes dos negros com o intuito do amparo social e financeiro.

Dessa forma, cansados das submissões do Sul frente aos ideários capitalistas e positivistas impostos pelo Norte, e do grande vulto de impostos sobre importação arrecadados à União, ocorreu a primeira declaração de independência, encabeçada pela Carolina do Sul, posteriormente acompanhada por outros estados igualmente insatisfeitos, originando o Território dos Estados Confederados.

Ocorre que, por uma armadilha provocatória dos Estados do Norte, sob o comando de Abraham Lincoln, iniciou a guerra da Secessão, cujo principal intuito se deu pelo retorno das treze colônias sob jugo da União, e consequentemente a maior arrecadação fiscal oriunda dos Estados do Sul. É mister salientar que Lincoln não se importava com o homem negro e sua condição de escravo, mas sim na manutenção da União e seu aumento de poder econômico estatal. Dessa forma utilizava-se de um falso discurso antiescravagista para atacar os Estados Confederados.

Por fim, a partir da falta de apoio estrangeiro e de um embargo marítimo sobre o Sul, ao longo dos anos sofrendo uma crise econômica e o fim do conflito entre os Estados, se deu e a extinção do Território dos Estados Confederados.

É verificável então, a partir do fim da guerra da Secessão, uma harmonia entre os estados norte-americanos, e os da burguesia industrial, havendo consequência, em âmbito mundial, das atuações geopolíticas dos EUA, a atuação do financeirismo quanto ao capital de produção e o globalismo, impondo a outros países os velhos valores do Norte.

O interessante é notar que o racismo, que é um dos principais argumentos contrários ao Território Confederado pelos movimentos pós-modernos, e o motivo da existência de movimentos liberais globalistas como o Black Lives Matter, fora influenciado pelo cientificismo darwinista oriundo das principais universidades do Norte nos períodos antecedentes e durante a Secessão. O predomínio do pensamento racialista dava-se no Norte do país, observado inclusive por Tocqueville em suas obras.

O pano de fundo da Guerra Civil americana é antes uma questão tributária dos Estados do Sul e a transição a um novo estágio do capitalismo do que a causa nobre da abolição da escravidão (uma chaga). Abraham Lincoln, na verdade, defendia que todos os negros dos EUA fossem enviados “de volta” para a África, pois ele, em consonância com o pensamento racista anglo-saxão, não acreditava na convivência pacífica entre as raças. Isso chegou a ser feito parcialmente, resultando na criação da Libéria. É, portanto, bem diferente o Lincoln histórico daquele da propaganda. A verdade é que a vitória da União marcou o início do Império americano como o conhecemos hoje, inclusive com a opressão das classes trabalhadoras do Sul e o esmagamento de seus estilos de vida. Longe de uma narrativa maniqueísta, a questão é tão complexa que existiram negros americanos que lutaram do lado Confederado, por exemplo.

Destarte, comemorar o 4 de julho é comemorar a extinção de um território legítimo, com sua cultura, valores e Tradição, distinto dos valores de outros Estados, e a imposição dos valores do Norte, inclusive a guerra racial, a outros países soberanos como um meio de “imposição” das políticas “democráticas” e “progressistas”.

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Monique Bueno

Bacharel em Direito, entusiasta de estudos econômicos e ativista da NR-SP.

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Um comentário

  1. Defender o Sul é reacionarismo movido por desconhecimento de história. A Inglaterra, que todo papa-hóstia abomina (vai ver porque é o país modelo da figura do gentleman), apoiou o Sul, ao passo que a Rússia apoiou o Norte. Leiam “Introdução aos Estudos Americanos” dos ingleses Malcolm Bradbury e Howard Temperley: o Sul sempre foi pobre culturalmente, ao contrário da imagem de glamour estereotipado. Os escritores de lá que fizeram sucesso deveram isso a terem emigrado para o Norte. E ter havido escravos lutando pelo Sul não chocam quem conhece o mecanismo da escravidão.

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