Preparado pela equipe do Geopolitica.ru
Donald Trump e Joe Biden reivindicam vitória nas eleições americanas. A mídia, nem um pouco imparcial, já deu a vitória para Joe Biden. Não obstante, as eleições estão longe de terminar. Vários estados ainda não terminaram suas contagens, e alguns deles farão recontagem dos votos. Ademais, Trump irá recorrer ao Judiciário para garantir recontagem e investigação das fraudes de modo a garantir sua reeleição.
A eleição presidencial foi realizada nos Estados Unidos em 3 de novembro. Como esperado, devido ao fator de votação por correio, o anúncio dos resultados foi adiado. Os governadores de três estados-chave (Wisconsin, Michigan e Pensilvânia), dos quais os analistas dizem que o resultado da eleição depende em grande parte, anunciarão os resultados eleitorais somente nos próximos dias, devido ao grande número de eleitores por correspondência.
As eleições demonstram o alto grau de polarização da sociedade americana: o presidente em exercício Donald Trump e seu rival, o democrata Joe Biden, estão quase em pé de igualdade em termos de número de eleitores. Portanto, de acordo com a Associated Press, neste momento (13h, horário de Moscou) Joe Biden tem 238 votos eleitorais no bolso, enquanto Donald Trump tem 213. Estes são os votos dos estados onde a contagem dos votos já foi completada, ou onde a diferença a favor de um candidato em relação ao outro é muito grande. Para vencer, é preciso obter 270 votos eleitorais.
Lembremos que as eleições presidenciais americanas não são simples. O presidente é eleito pelo colégio eleitoral estadual. Cada estado tem um certo número de eleitores: de 55 na Califórnia, a 3 em Montana, Alasca, Vermont, Delaware, Wyoming, Dakota do Sul e Dakota do Norte. O candidato que for votado pela maioria dos residentes do Estado receberá os votos eleitorais. As exceções são os estados do Maine e Nebraska. Lá, o vencedor da votação estadual recebe dois votos eleitorais. Os demais eleitores são distribuídos proporcionalmente aos resultados da votação nos círculos eleitorais onde são realizadas as eleições para o Congresso.
Geopolítica Nacional: Terra versus Mar
Um exame atento do mapa eleitoral americano confirma conclusões tiradas anteriormente: os residentes dos centros cosmopolitas nas costas atlântica ocidental, pacífica e oriental dos Estados Unidos votam nos democratas, em Biden e em sua agenda liberal-globalista. Ao mesmo tempo, as posições de Biden são mais fortes no norte da costa atlântica, enquanto ao sul da Virgínia, no sul tradicionalmente considerado patriarcal, Trump e Biden estão quase no mesmo nível.
Em contraste, os Estados do Heartland estadunidense apoiaram principalmente Trump, tal como em 2016. O estado mais “Trump” neste momento é a Virgínia Ocidental. Mais de 68% dos eleitores votaram em Trump, enquanto apenas 29% dos eleitores da antiga região mineira dos Apalaches, que tem sofrido uma depressão econômico por muito tempo, votaram no Biden. Em contraste, na Califórnia, com suas praias, Vale do Silício, Hollywood, imigrantes mexicanos e São Francisco gay, Trump tem apenas 32%. A única exceção é a liberal Vermont, que é representada no Senado pelo notório Bernie Sanders e a área metropolitana de Colúmbia.
O “pântano de Washington” de funcionários federais, clérigos do Congresso e do Senado; e a população comum predominantemente negra da cidade de Washington deu a Joe Biden uma vantagem fenomenal: 93% do voto popular e três votos eleitorais. Em 2016, Hillary Clinton apresentou resultados semelhantes na capital.
Como em 2016, o confronto se repete: América continental tradicionalista versus América costeira cosmopolita. O confronto geopolítico entre terra e mar está ocorrendo dentro dos Estados Unidos.
Aritmética Pós-Eleitoral
Em geral, por enquanto, o mapa eleitoral de 2020 quase coincide com o mapa de 2016, quando Donald Trump venceu. A exceção é o Arizona, um estado tradicionalmente republicano. Desta vez o estado vai para Joe Biden.
Dos estados onde a contagem dos votos ainda não foi concluída, Joe Biden tem uma chance de obter votos eleitorais às custas de Nevada – 6 votos, às custas do Havaí – 4 votos. Até o momento, Trump lidera a contagem na Geórgia, Carolina do Norte, Michigan, Alasca e Pensilvânia. No Wisconsin, há apenas uma pequena margem de 10 mil votos para Biden.
Se esta distribuição estadual continuar, então Biden receberá eventualmente 258 votos eleitorais, e Trump – 283. Entretanto, se Biden estiver à frente de Trump em um dos quatro estados não contados, onde Trump ainda está na liderança, o candidato democrata ganhará a eleição. Por outro lado, Trump também tem uma chance de recuperar a liderança, pelo menos no Wisconsin.
Jogo Sujo
Ao mesmo tempo, a mídia dos EUA, em sua maioria simpatizantes democratas, estão fazendo o seu melhor para criar a impressão de que Biden está ganhando as eleições. Por exemplo, o Google, de acordo com a Associated Press, “concedeu” os votos eleitorais do Arizona a Biden com apenas 80% dos votos e uma vantagem de 5% sobre o Trump. Embora os eleitores da Geórgia, contando 94% dos votos e a liderança de Trump de 2%, não contem como titulares.
A decisão dos governadores de Wisconsin, Michigan e Pensilvânia de prolongar a contagem dos votos por vários dias também pretende dar ao público uma impressão de vitória de Joe Biden.
Nesses três estados, Trump estava na liderança da contagem de votos até recentemente. No Wisconsin, depois de calcular 95%, Biden estava ligeiramente à frente (em 0,3%), embora Trump estivesse anteriormente na liderança. Na Pensilvânia, Trump está 10% à frente de Biden, contando 64% dos votos. Trump ganhou nestes estados em 2016 e tem uma boa chance de repetir este resultado em 2020. Além disso, em 2016, Trump venceu cada um desses estados por uma margem de menos de 1%. Agora sua liderança parece mais segura.
Entretanto, os governadores dos três estados são democratas. Dois deles, Gretchen Whitmer (Michigan) e Tony Evers (Wisconsin), juntaram-se a uma coalizão de 11 governadores liberais na véspera das eleições, que declararam Trump uma ameaça à democracia [1]. Eles podem tentar usar todas as ferramentas possíveis, incluindo manipulação e votação por correio direto, para evitar que Trump vença.
Revolução Colorida
Após a aparição dos primeiros resultados eleitorais, tanto Donald Trump como Joe Biden declararam sua vitória. Cada um acusa o outro de tentar manipular a eleição. Então, em seu “Twitter”, Trump escreveu que os democratas pretendem “roubar a eleição”.
Mais tarde, durante um discurso na Casa Branca, Trump reiterou sua vitória na eleição. Ele acusou os democratas de atrasar artificialmente o anúncio dos resultados e de tentar plantar cédulas. O presidente dos Estados Unidos também anunciou que pretende resolver a questão através da Suprema Corte:
“Este é um grande esquema em nosso país. Queremos que a lei seja usada corretamente. Então iremos à Suprema Corte dos EUA. Queremos que toda a votação seja encerrada. Não queremos que os democratas ‘encontrem’ novas cédulas às 4 da manhã e as acrescentem à lista”, disse Trump.
O escritório de Biden, por sua vez, acusou Trump de tentar interferir na contagem de todas as cédulas. Representantes do candidato democrata também anunciaram sua intenção de defender seus interesses no tribunal. Assim, a situação no país está se desenvolvendo de acordo com o cenário de duros confrontos e o uso de mecanismos de guerra.
Ao mesmo tempo, é muito provável que os democratas também tentem iniciar tumultos, usando os protestos de rua como mecanismo de pressão. Eles vão exigir o reconhecimento da vitória de Biden e criar uma imagem de “descontentamento geral” com Trump. A mídia vai convencer o público de que Trump está roubando a vitória de Biden e interferindo ilegalmente no processo eleitoral.
Os grupos financiados por Soros, como Black Lives Matter e Antifa nos estados costeiros e em Washington, onde uma maioria esmagadora votou contra Trump, desempenharão um papel ativo. É de se esperar uma pressão física direta sobre a Suprema Corte se forem chamados por Trump para decidir a questão.
Os resultados da votação em Washington também mostram que o Deep State estadunidense, a maioria dos funcionários federais residentes na capital dos Estados Unidos, é anti-Trump. É muito provável que os democratas tentem usar este recurso para incentivar uma “revolução colorida” nos estados.
Se Trump conseguir defender a vitória para a qual se encaminha, os democratas usarão os protestos e suas posições no Congresso para deslegitimá-lo durante o próximo mandato.
Se a estratégia de “revolução colorida”, a manipulação da opinião pública e a falsificação levar à vitória de Biden, então os apoiadores de Trump enfrentarão pelo menos a condenação pública e, no máximo, a retaliação: demissões, casos criminais e linchamentos pelas multidões.
Em qualquer caso, metade da sociedade americana considerará os resultados eleitorais injustos e o presidente eleito um usurpador. O vencedor não será capaz de restaurar a unidade da sociedade norte-americana.
Implicações Geopolíticas
Se a sorte acabar ficando do lado do Trump, para os Estados Unidos isso significará o triunfo final de uma visão nacionalista e realista da América e de seu lugar no mundo. Os Estados Unidos continuarão sua estratégia de forte concorrência com outros centros de poder (principalmente China e Rússia) pela liderança mundial.
A vitória de Biden significaria um retorno à agenda globalista. Biden também procurará manter a liderança dos EUA, mas como a vanguarda da globalização, que visa acabar com qualquer alternativa a uma ordem mundial unipolar.
Como Aleksander Dugin observou anteriormente, “isto leva a uma nova diferença na atitude de Trump e Biden em relação aos pólos alternativos de multipolaridade”. Para Trump, eles são rivais e inimigos relativos (que, sob certas circunstâncias, podem se tornar poderes neutros ou mesmo aliados e “amigos”). Para Biden, eles são inimigos absolutos, “inimigos de uma sociedade aberta” (K. Popper), que devem ser destruídos, pois do contrário destruirão o globalismo e a hegemonia liberal, “relativizando-o no espaço e no tempo”. Trump pode iniciar guerras regionais (embora ele ainda não tenha iniciado uma). A vitória de Biden ameaça um conflito global [2].
Notas
[1] – https://katehon.com/ru/article/shtaty-soedinennye-gosudarstva-i-ih-ideologii
[2] – https://novaresistencia.org/2020/11/02/eleicoes-americanas-pragmatismo-versus-globalismo/
Fonte: Geopolitica.ru