Reflexão Sobre o Papel Antropológico do Artista

O ofício do artista, tal qual o conhecemos na contemporaneidade, é produto das circunstâncias históricas que carregaram o percurso do Homem até o momento presente. O ato de afirmar-se como tal possui, em si, um significado, sendo, pois, um símbolo; sempre que o fazemos, cristalizamos e atualizamos a cosmovisão artística de uma – a nossa – civilização.

Ocorre que, atualmente , é comum a prática de ações indiferentes à compreensão de suas contrapartes simbólicas, o que significa, objetivamente, o desconhecimento radical de descendência de um imaginário coletivo, que, permeando nossa constituição psíquica, irá se manifestar, na maioria dos casos, de maneira atrofiada, incapaz de gerar criações coesas e harmônicas, como uma fruta nascida defeituosa devido à pobre fertilidade de um solo.

O dever do artista de nosso tempo é, necessariamente, o do desenvolvimento de sua imersão existencial, a busca pela terra fértil mais abaixo, para que seus frutos – suas obras – possam almejar o Sol. Uma vez alcançada esta interação, ou seja, a concepção de um estado de consciência causal enraizado no ato da criação artística, este agora buscará a síntese externa da matéria, seu domínio demiúrgico microcósmico; o espelho que é, substancialmente, sua obra.

À esta vista, o artista laborando a matéria galga o posto do sacerdote/sacerdotisa de nossa época, sendo não mais que um xamã e não menos que um profeta, um Centro do mundo onde os Deuses fazem morada e travam diálogos dos rumos dos tempos. A obra de arte é o santuário e o oráculo, onde a linguagem sacra dos símbolos se oferece àqueles que puderem se alimentar dela.

A obra enquanto arte, isto é, receptáculo de virtude – aretê – e verdade, sejam estas ascéticas-interiores ou místicas-exteriores – fenomenologicamente falando – confirma, na magnitude transformadora de sua existência, sua justificativa sob o prisma existencial: Torna-se pura linguagem humana.

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Cassiano Sottomaior

Pintor e professor porto-alegrense, membro da NR-RS.

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