A Explosão do Porto de Beirute: Uma Análise Detalhada

A explosão do porto de Beirute ainda não está bem explicada. Nem a versão oficial dada pelo governo libanês, nem as especulações da mídia americana e israelense, nem as teorias sobre um ataque nuclear parecem boas o suficiente. Ainda há muito a ser explicado, razão pela qual essa é um panorama das principais teorias a respeito da explosão. O que é certo, porém, é que o principal beneficiado da explosão é Israel, e que o Líbano é um país extremamente infiltrado por agências de inteligência de Israel, dos EUA e da França.

Na noite de 4 de agosto, houve duas explosões na área portuária de Beirute. A primeira foi relativamente pequena e foi causada por fogos de artifício inflamados, que os bombeiros foram extinguir. Enormes nuvens de fumaça atraíram um grande número de espectadores, que apanharam a segunda explosão em câmera. Esta foi como a detonação de um dispositivo nuclear tático. A explosão foi tão poderosa que todos os edifícios no distrito comercial da cidade e até mesmo o aeroporto, que fica em uma parte diferente da cidade, foram danificados pela onda de choque da explosão.

Na noite de 5 de agosto, o número de mortos havia chegado a 135, com quase 5 mil feridos. Estas, no entanto, são apenas estatísticas oficiais. É provável que haja números mais exatos em seguida. Havia estrangeiros entre aqueles mortos e feridos. De acordo com um jornal em Bangladesh, por exemplo, quatro cidadãos de Bangladesh foram mortos e 101 feridos, incluindo 21 membros da Marinha de Bangladesh que estavam no Líbano como parte de uma missão da ONU.

Sabe-se que um funcionário da Embaixada da Rússia no Líbano também foi ferido na explosão. A Rússia respondeu imediatamente, e o primeiro avião chegou a Beirute no dia seguinte carregado de trabalhadores de resgate, médicos e equipamentos especiais.

O prefeito de Beirute chamou o incidente de tragédia nacional e o primeiro-ministro libanês declarou um período de luto.

Nas primeiras horas após a explosão, a mídia social estava cheia de suspeitas sobre os EUA e Israel, o que faz sentido dado o longo conflito entre o Líbano e esses países.

A publicação norte-americana Veterans Today prestou atenção a um estranho objeto que foi filmado no ar sobre os armazéns do porto antes da segunda explosão. Além disso, uma assinatura de radiação da explosão recebida de uma fonte na Itália mostrou um pico na atividade radioativa. Alguns sugeriram que Israel (possivelmente junto com os EUA) atacou o Líbano usando uma arma nuclear tática. Os opositores desta teoria argumentaram que, em tal caso, teria havido um pulso eletromagnético que desligaria os telefones celulares de todos. Mas como a filmagem foi feita de vários ângulos, isto prova que a teoria da ogiva nuclear compacta não é verdadeira. A suposição seguinte foi o possível uso de outro tipo de ogiva para detonar uma grande quantidade de salitre que, por si só, não pode produzir tal efeito apenas através da ignição.

É interessante que esta teoria foi até mencionada no canal de televisão norte-americano CNN, quando o ex-operador da CIA Robert Baer disse que o nitrato de amônio, por si só, não pode produzir tal explosão.

Uma agência de notícias iraniana também publicou informações sobre a atividade suspeita de quatro aviões espiões da Marinha dos EUA na costa Líbano-Síria na noite de 4 de agosto. Drones israelenses também foram avistados sobre Beirute alguns dias antes do incidente. Uma semana antes, também foram vistos drones circulando sobre o sul do Líbano, um dos quais caiu, de acordo com o Hezbollah. Deve-se mencionar que o Líbano não tem capacidade antiaérea, portanto Israel freqüentemente usa o espaço aéreo libanês para lançar ataques aéreos sobre a Síria.

Na manhã de 5 de agosto, foi anunciada a versão oficial do que aconteceu. Um trabalho de soldagem estava sendo realizado no Armazém 12, gerando faíscas que acenderam os fogos de artifício. Depois de um tempo, as chamas se espalharam para as sacas de nitrato de amônio, que depois explodiram. Ao todo, o armazém continha 2.750 toneladas.

O nitrato de amônia chegou ao porto a bordo do navio de carga Rhosus, que foi registrado na Moldávia. De acordo com a documentação, a carga estava sendo transportada do porto de Batumi na Geórgia para Moçambique, mas, em 2013, parou em Beirute para receber carga adicional. Posteriormente, o navio foi proibido de sair. Um tribunal libanês deteve o navio e sua carga pelo não pagamento das taxas portuárias. O capitão e vários outros membros da tripulação também foram detidos por um longo tempo, mas posteriormente foram autorizados a sair pelas autoridades. Desde então, a carga estava sendo armazenada em armazéns no porto. Por trás de toda a história está um cidadão russo de Khabarovsk, Igor Grechushkin, que abandonou tanto a carga quanto a tripulação à sua sorte. Grechushkin agora vive no Chipre. Escusado será dizer que a inclusão de qualquer empresário russo na história (não importa se ele estava diretamente envolvido ou se simplesmente se deixou atrair pelo dinheiro fácil) causa ainda mais danos à imagem da Rússia em geral, e do Líbano em particular.

Mas esta versão está sendo refutada por um correspondente do canal de televisão Al-Manar, Ahmad Hajj Ali. Ele acredita que o nitrato de amônia estava destinado a grupos terroristas na Síria, e a carga estava sendo movida em nome das monarquias árabes do Golfo Pérsico, que estavam agindo sob ordens de Washington. Isto explica porque o dono da carga não foi encontrado, mesmo com ela valendo uma quantia tão grande de dinheiro.

Mas então surge a pergunta: por que um volume tão grande desta substância perigosa foi armazenado por tantos anos em um centro de transporte de importância crítica e em uma proximidade tão próxima a silos de grãos e áreas residenciais? O problema é que, nos últimos anos, não tem havido um governo estável no Líbano. O país tem sido abalado por escândalos de corrupção. Muitos dos que estão no poder abusam de suas posições. Eles são presos e substituídos, inclusive por aqueles que também amam o dinheiro fácil e o risco. Os outros são simplesmente incapazes de controlar a situação.

É bem possível que houvesse muitos outros produtos duvidosos armazenados nos armazéns, tais como resíduos químicos ou nucleares. As chances são de que isso represente o pico de atividade radioativa. De fato, fontes em Beirute afirmaram que resíduos radioativos da Europa foram anteriormente enterrados no Líbano, em contravenção à legislação. Os empresários locais receberam grandes quantias de dinheiro por isso, mas encontrar quem é o responsável será muito difícil.

A situação é exacerbada pela fragmentação política e pela presença de agentes estrangeiros no Líbano de países que vão dos Estados árabes a Israel, passando pelos EUA. Portanto, as informações sobre a localização exata de tais quantidades de nitrato de amônio não eram segredo para suas agências de inteligência. Se eles tivessem necessidade de realizar um ato de sabotagem, então esta era a situação perfeita para ajudar a cobrir seus rastros.

E pode-se, é claro, perguntar: quem se beneficia de tal situação? O porto libanês lida com pelo menos 70% das importações do país. Assim como os armazéns, também foram queimados estoques de medicamentos, alguns dos quais vindos do Irã. Como o Líbano também está sob rigorosas sanções e à beira da falência, tal golpe em sua infra-estrutura vital efetivamente torna o país diretamente dependente de doadores estrangeiros.

O jornal israelense Haaretz já previu que o Líbano poderia enfrentar o colapso econômico e revoltas sociais, e os meios de comunicação conservadores israelenses interpretaram a explosão como uma punição vinda de cima e o cumprimento das profecias que prefiguram a chegada do Messias, ou seja, o falso Cristo, observando pelo caminho que as forças armadas israelenses não poderiam ter atacado Beirute.

Imediatamente após a explosão, o presidente francês Emmanuel Macron visitou o país e efetivamente fez um ultimato ao insinuar uma possível intervenção da OTAN. Ao mesmo tempo, a situação social no próprio Líbano começou a se intensificar. Manifestantes entraram em conflito com a polícia e o exército e assumiram o controle do edifício do Ministério das Relações Exteriores e de outras instalações governamentais. Eles foram expulsos pouco tempo depois, mas a situação está longe de ser normal. Parece que os protestos, que já foram descritos como uma tentativa de mais uma revolução colorida patrocinada pelo Ocidente, podem estar no topo das notícias, enquanto a própria explosão servirá simplesmente como o gatilho para uma revolta.

No entanto, uma investigação detalhada sobre a causa da explosão é essencial. Afinal, alguns dias após o incidente, o presidente libanês Michel Naim Aoun declarou que a intervenção de uma força externa usando um foguete ou uma bomba era uma possibilidade.

Fonte: Geopolitica.ru

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Leonid Savin

Leonid Savin é escritor e analista geopolítico, sendo editor-chefe do Geopolitica.ru, editor-chefe do Journal of Eurasian Affairs, diretor administrativo do Movimento Eurasiano e membro da sociedade científico-militar do Ministério da Defesa da Rússia.

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2 comentários

  1. Quero deixar o meu elogio a página Nova Resistência. Já faz alguns anos que acompanho o trabalho sério e respeitoso realizado por toda equipe que faz a diferença se destacando nas publicações de matérias importantes para o conhecimento de destinatários exigentes. A capacidade de influenciar o ser pensante a tirar conclusões de ocorridos com credibilidade é uma marca registrada no ofício da Nova Resistência.

  2. Procurem se informar melhor com especialistas. Explosões em silos não eram raras há algumas décadas, quando não havia as normativas de segurança atuais (que devem ter faltado em Beirute) e arremessavam fragmentos a mais de 20 km do local. Afinal, silos armazenam grãos em grande quantidade e que contém celulose, que tem potencial explosivo. Não é preciso apelar para teorias da conspiração.

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