A influência de Nietzsche nas correntes políticas radicais do século XX.
Publicamos, recentemente, um pequeno texto de Julius Evola sobre Friedrich Nietzsche e, na chamada do texto, mencionamos que Nietzsche é uma influência importante para nós, da Nova Resistência.
Isso, por si só, aparentemente levou algumas pessoas a se desesperarem e a se colocarem chorando e rangendo os dentes. Segundo essas pessoas, Nietzsche nada pode ter a ver com política ou com qualquer tipo de empreendimento coletivo, menos ainda com qualquer tipo de “socialismo” ou com qualquer crítica da “ordem das coisas” ou do “sistema vigente”, etc. Tais pessoas interpretam o pensamento de Nietzsche como sendo “individualista” e “social darwinista” e ponto final – se encerram aí as possibilidades de interpretação do seu pensamento.
Não quero nem entrar no mérito do fato de que há estudiosos de Nietzsche que afirmam que o mesmo passou por 16 (isso mesmo) fases no desenvolvimento do seu pensamento ou que houve, no mínimo, 8 escolas interpretativas do pensamento nietzscheano ao longo do século XX, para refutar tamanha besteira.
Para além dos aforismas legitimando o Estado (como plataforma de elevação de um tipo humano superior; meio de forjar uma nova aristocracia), aforismas criticando o social darwinismo (nos quais Nietzsche afirma que não é o “melhor”, mas sim o pior, o mais vil, o mais inferior que sempre sobrevive à “seleção natural”) e para além de vários outros elementos que poderiam refutar essas tentativas de limitar Nietzsche a uma interpretação meio que “stirneriana apolítica”, o impacto político de Nietzsche ao longo do século XX é simplesmente grande demais para que se possa simplesmente chegar com um “esse pessoal todo distorceu Nietzsche”.
Ora, o primeiro pensador político nietzscheano possivelmente foi Georges Sorel, que é simplesmente o pai do sindicalismo revolucionário, com o qual ele influenciou toda a tradição anarquista das primeiras 4 décadas do século XX (através do anarcossindicalismo), influenciou ainda a tradição fascista (através de Mussolini e Maurras, bem como da geração anarcossindicalista que virou fascista) e finalmente influenciou a tradição leninista (já que Lênin era seu leitor, e se contrapôs, através de uma perspectiva soreliana-nietzscheana à decadência e ossificação da Segunda Internacional).
Na verdade, até 1914, Nietzsche era o pensador mais lido nos bairros operários de Berlim, bem como em Moscou. Ele era mais lido do que Karl Marx, Ferdinand Lassalle ou August Bebel, pelas classes operárias da Alemanha e da Rússia.
Pense-se, por exemplo, no fato de que as duas grandes figuras artísticas italianas do começo do século XX, Filippo Tommaso Marinetti e Gabriele d’Annunzio, eram ambos nietzscheanos (ainda que rivais mortais), cada um representando um aspecto do pensamento de Nietzsche (Marinetti representando a Vontade de Poder como Técnica e D’Annunzio, o Super-Homem como estetizador da Vida).
Na Espanha, a tradição nacional-sindicalista, construída por Ramiro Ledesma (falangista) e Onésimo Redondo, foi fruto de reflexões feitas em cima do pensamento de Nietzsche, bem como de nietzscheanos como Sorel e Ortega y Gasset. Nietzsche inclusive aparece como personagem no romance “El Sello de la Muerte”, de Ledesma.
As JONS, fundadas por Ledesma, tentou, inclusive, um entendimento com a CNT anarquista, também bastante influenciada pelo sorelianismo e, portanto, pelo nietzscheanismo, mas essa tentativa não deu certo.
Pense-se, por exemplo, em como Nietzsche moldou o pensamento de Arthur Moeller van den Bruck, pai da chamada revolução conservadora (Konservative Revolution). Em como os conceitos nietzscheanos ajudaram Oswald Spengler a construir a sua morfologia da história. Ou na obra literária e teórica de Ernst Jünger, chamado por Martin Heidegger de “o único nietzscheano autêntico” (ou na influência do bigodudo sobre o próprio Heidegger, inclusive em suas dimensões políticas).
Para que se tenha uma ideia da influência de Nietzsche, mesmo na Economia, ela ocorreu. O conceito de “destruição criadora/criativa” é frequentemente atribuído a Joseph Schumpeter, mas, na verdade, foi usado pela primeira vez por Werner Sombart, que, por sua vez, declaradamente o deduziu do pensamento nietzscheano.
Do outro lado do Atlântico, figuras como George Bernard Shaw e Oscar Wilde construíram o seu próprio “socialismo aristocrático” com base no pensamento de Friedrich Nietzsche, onde o Übermensch (Superhomem) era uma espécie de dândi socialista revolucionário.
Já na União Soviética, enquanto as autoridades intelectuais criticavam publicamente o bigodudo, os seus líderes usavam discretamente elementos do pensamento nietzscheano para a produção de mitos mobilizadores, para construir uma nova tábua de valores e um “novo homem soviético”, nos moldes do Übermensch.
Mais recentemente, na Noomaquia deAlexandr Dugin, encontramos o resgate da dualidade nietszcheana do apolíneo/dionisíaco, mas, dessa vez, em uma dimensão ainda mais profunda e confrontados por um novo elemento, o cibelino.
O anti-nietzscheanismo político também mobilizou forças no século XX, por exemplo, com a reação anti-nietzscheana no seio do SPD, o Sozialdemokratische Partei Deutschlands ou Partido Social-Democrata da Alemanha (que levou os “radicais nietzscheanos” a criarem o KPD – Kommunistische Partei Deutschlands ou Partido Comunista da Alemanha). O anti-nietzscheanismo político também mobilizou forças com as acusações de “filossemitismo” feitas por nazi-crentelhos da Alemanha dos anos 30 ou com a desonestidade do Lukács, pai do politicamente correto, que criou um “manual inquisitorial” anti-nietzscheano e declarou que “todo irracionalismo leva ao fascismo”.
Enfim, eu poderia passar o dia inteiro comentando sobre a influência política de Nietzsche. Mas quem quiser apenas ficar com o “Nietzsche individualista apolítico”, que fique à vontade.
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