Ontem foi o enterro de Eduard Limonov, grande figura literária e política da Rússia pós-soviética. Pouco após sua morte, através de uma rede social, o filósofo Aleksandr Dugin, que co-fundou o Partido Nacional-Bolchevique ao lado de Limonov e do poeta punk Egor Letov (já falecido), escreveu um necrológio em memória a seu antigo camarada. Apresentamos aqui a tradução do elogio fúnebre de Dugin a Eduard Limonov.
Eduard Limonov faleceu. Ele tinha setenta e sete anos de idade. Ele morreu jovem – um verdadeiro adolescente. Desesperadamente, ele sempre se recusou a envelhecer, a crescer. E ele nunca cresceu, de fato. Eu o chamava de “avô” para enfatizar esse seu caráter adolescente, usando um epíteto absurdamente conflitante com a forma como ele via a si mesmo. Limonov morreu completamente jovem. E penso que o seu único amor era por si mesmo: algo grande, gigante… era o amor de uma vida íntegra que ninguém lhe podia tirar.
Suas opiniões políticas faziam parte desse grande amor – o amor por si mesmo – que tornava o mundo exterior e os outros homens tão nojentos e mesquinhos; enquanto ele, belo, brilhante, indomável, livre e incomparavelmente melhor. Essa sua postura era completamente explícita em Sou eu, Eddy: provocadora e anárquica, muitas vezes escapando mesmo à compreensão daqueles que olhavam de fora, confundindo-os.
Seria de mau gosto levar a sério suas estratégias poético-políticas. Seu “fascismo” ou “nacionalismo” eram apenas uma postura, um dandismo hiper-individualista destinado a assustar o público. Levar Limonov demasiado a sério significa carecer de senso estético.
Ele pertencia a um ambiente e a uma cultura da qual praticamente nada restou. Uma ponte entre a Idade de Prata (da extinta cultura russa) e uma Idade do Bronze que nunca começou. A medida da incompreensão de Limonov é a medida da incompreensão de tudo – da arte, assim como da política. Sua vida e personalidade eram completamente autossuficientes. Certa vez, ele me disse que, em Kharkov, quando jovem, por conta de um amor adolescente, havia cortado os pulsos – não por desespero, afirmoum mas por um excesso de vitalidade; pela falta de medo e por uma certa remoção inaudível de si mesmo.
Sua esposa, a cantora Natasha Medvedeva, não tinha sua efervescência e isso o afetava negativamente. Juntos, eles eram trágicos; mas sozinho, Limonov era capaz de recobrar sua dimensão real e original.
Limonov criou um partido para a juventude, que foi e continua sendo o fenômeno mais marcante da vida política russa. Um partido tão louco e alegre, tão adolescente e indomável quanto ele próprio. Imitando-o, esses jovens fizeram de suas carreiras algo mais adequadas às epigonias, enquanto ele permanecia em algum lugar à margem da sociedade (mesmo que todos o conhecessem). E mesmo quando ele deu um passo em direção aos liberais, à “grande cultura” globalista o acolheu imediatamente. Mas Limonov não se importou: ele queria assustar, chocar, provocar, encantar, surpreender… Recém “perdoado” e “incensado” pelos globalistas confusos devido às suas críticas a Putin, mais uma vez, Limonov proclamava algo politicamente incorreto: a “Crimeia é russa”, dando seu apoio à Primavera Russa.
Ele morreu como viveu. Sem se curvar. Ele morreu quando chegou a sua hora. De uma boa morte – com a consciência clara e um espírito vivo. E isso é altamente importante… morrer bem. “Sim, morte!”, esse era o slogan do Partido Nacional Bolchevique. Limonov repetiu essas palavras uma vez mais… desta vez, de forma decisiva.