Sobre as noções de “Ocidente” e “civilização ocidental”, é importante retomar e sintetizar alguns pontos que, no seio orgânico-ideológico da Nova Resistência (e na perspectiva da maioria dos teóricos dissidentes atuais), são tomados como evidentes e canônicos:
(1) A “civilização ocidental” não possui qualquer relação com a Grécia, com Roma ou com o Medievo. Trata-se de um termo que tem sido usado, quase que consensualmente, por pensadores dissidentes para designar, de forma muito específica, a civilização moderna, liberal, secular e iluminista. Nesse sentido, hoje, mesmo o Japão faz parte da civilização ocidental.
(2) A civilização ocidental começou na Europa, mas ela é anti-europeia, tal como é anti-asiática, anti-africana, etc. A essência do Ocidente é o desenraizamento. A questão é que a Europa Ocidental, em um determinado momento histórico, simplesmente reuniu o grau de alienação espiritual, a bagagem técno-filosófica e as condições materiais necessárias para a construção daquilo que entendemos atualmente por civilização ocidental. A despeito disso, não há nada de especificamente europeu na civilização ocidental.
(3) Nesse sentido, a civilização ocidental é como uma doença que se espalha pelo mundo, afetando, em maior ou em menor grau, os povos. O Brasil, como os outros países da América Latina, não é parte da civilização ocidental por essência, mas é parte das regiões periféricas ocupadas pela civilização ocidental, nas quais ainda há um certo grau de tensão entre as influências ocidentais e as nossas próprias influências civilizacionais.
(4) Evidentemente, portanto, anti-ocidentalismo não tem nada a ver com anti-europeísmo. Ao contrário, o anti-ocidentalismo é condição necessária para qualquer europeísmo. Se uma pessoa apoia a continuação da ocupação militar da Alemanha e da Itália pelos EUA, essa pessoa pode até ser ocidentalista, mas logicamente não é europeísta. Ocidente e Europa são antíteses, e podemos constatar isso na revolta dos Gillet Jaunes na França.
(5) Essencialmente, o Brasil é parte de uma civilização ainda em formação, a civilização Latinoamericana, unida pelo mito de uma Nova Roma. O Brasil não é europeu, mas na medida em que a europeidade é parte de sua essência (junto às outras duas grandes influências, ameríndia e africana), negar essa europeidade, como faz a esquerda, é negar a brasilidade. No sentido contrário, devemos celebrar essa europeidade, tal como já celebramos as outras fontes e raízes do Brasil.
(6) Se a esquerda nega a europeidade diretamente, a direita deseja substituir a europeidade brasileira (lusitana, ibérica, mediterrânea, etc.) por um ocidentalismo ultramodernista de verniz anglo-saxão. São duas formas de negação: a negação esquerdista é direta; a negação direitista opera como uma falsificação.
(7) Hoje, aquilo que chamamos de civilização ocidental é o arranjo geopolítico-cultural que exerce hegemonia sobre o planeta. O mundo é unipolar, ainda que essa unipolaridade não seja estável. Para aqueles que defendem o iluminismo, a modernidade, o materialismo, o liberalismo, essa situação (geopolítica) é positiva e deve ser estabilizada e perpetuada até alcançarmos o Fim da História (conforme o ideal de Francis Fukuyama).
(8) Mas para aqueles que não se encontram na categoria acima, então a unipolaridade é um problema e deve ser combatida. Para isso, é necessário apoiar toda forma de resistência contra essa hegemonia global liberal. Uma derrota da unipolaridade em Madagascar é vantajosa para nós no Brasil. Uma derrota da unipolaridade aqui é vantajosa na Estônia. Uma derrota da unipolaridade na Estônia é vantajosa no Iêmen. Não parece ser difícil compreender esse raciocínio. A civilização ocidental é a expressão cultural do globalismo. Ocidente é globalismo. E a contradição entre globalismo e as identidades dos povos é a contradição principal de nossos tempos.
(9) Trump possuiu (e possui) um papel no acirramento das contradições de nossa época, que levarão ao colapso da unipolaridade. Suas tensões com o Deep State, na prática, levaram a diversos recuos por parte das posições avançadas do pseudo-Império Americano. Isso não significa e nem pode significar, em qualquer aspecto, adesão acrítica ao trumpismo. Sempre que Trump cede ao Deep State, ele deve ser duramente criticado por trair as promessas feitas a seu eleitorado e ao mundo. Trump é um momento necessário no longo processo de desmonte do aparato globalista americano, mas ele também será superado.
(10) Todas essas reflexões — necessárias e verdadeiras — só são possíveis a partir da Quarta Teoria Política. É onde encontramos o aparato teórico, conceitual e intelectual que nos leva a todas essas conclusões.
(11) Nesse cenário global, o caminho do Brasil deve ser construído através da atualização de alguma tradição política do passado, significativamente relevante para nós. No caso brasileiro, a tradição política mais propícia é o Trabalhismo, uma ideologia surgida no tronco da Terceira Teoria Política. O Trabalhismo deve ser atualizado, o que significa corrigir seus erros e fazer uma releitura dele a partir da Quarta Teoria Política. Não há outras opções. O resultado será um novo programa, que parecerá “fascista” para uns, “comunista” para outros, “nazbol” para alguns, etc.
(12) Afetações, histerismos e purismos ideológicos em relação a tais constatações não passam de sectarismo e sentimentalismo, e qualquer um que não compreenda isso nunca possuirá as condições para qualquer projeto alternativo para o Brasil. É irrelevante repetir ad nauseam os erros históricos do Trabalhismo, já que a NR, organicamente, já fez uma atualização do Trabalhismo à luz da Quarta Teoria Política: o Trabalhismo defendido pela NR é o Trabalhismo revisado e purificado de todos os seus defeitos — apropriado para os desafios de nossos tempos e ajustado ao que chamamos de Nacionalismo do Século XXI.
(13) Os objetivos do lutador patriótico e revolucionário brasileiro (organicamente plasmados na NR enquanto “Partido de vanguarda nacional-revolucionário”), para serem alcançados e concretizados, demandam a posse de Poder. Identificamos três tipos de poder: o das armas, o dos cargos políticos e o da cultura. Quanto a isso, a NR possui uma estratégia realista e de longo prazo. As outras organizações “nacionalistas” ou pseudo-dissidentes, até o momento, possuem auto-ajuda, memes e nostalgia. Não me parece haver dúvida sobre o que é melhor. Assim, só há uma única atitude possível (para o patriota revolucionário brasileiro): apoiar a Nova Resistência. A unidade de uma única Organização disciplinada vence o caos da multiplicidade de grupelhos que orbitam ao redor dos egos de seus líderes.