Por Lucas Leiroz
Nas últimas semanas, após registro da operação de hackers pró-Palestina, as Forças Armadas Israelenses explodiram um prédio no qual estavam concentrados os ativistas cibernéticos.
Clara e evidentemente, o ato constitui ilícito internacional. As medidas preventivas de segurança nacional tomadas pelo governo israelense, ainda que compreensíveis desde a ótica da defesa, violam qualquer noção de proporcionalidade e são condenáveis do ponto de vista do direito, sendo este um fato em si certamente nulo e sem maiores implicâncias, mas digno de reflexão.
Pensemos no caso oposto. Uma tentativa de ciberataque a alguma potência não-alinhada sendo respondida com violência máxima e aniquilação do grupo oponente em ação preventiva – ou seja, sem dano antecedente que a motive. Decerto não tardaria a espada da justiça internacional a impor sua vigência contra qualquer nação “desajustada” às normas universais. Ocorre, porém, que cada episódio como este se revela uma verdadeira aula de realismo político.
Podemos aqui confirmar a validade dos diagnósticos feitos por autores como Carl Schmitt – um precursor da Quarta Teoria Política – no sentido de enxergar o direito internacional após as Guerras Mundiais e sua tentativa de criminalização da guerra como a versão ainda mais brutal e total da própria guerra. Israel, que conta entre os guardiões do ordenamento universalista contemporâneo, não poupa esforços em antecipar ataques sob a máscara da prevenção em suas estratégias de defesa, convergindo o inimigo em uma figura não humana ou sub-humana, alheia ao direito internacional e aos tão aclamados Direitos Humanos. Inimigo este que, frise-se, vai para muito além dos grupos anti-Israel atuantes no Oriente Médio, mas engloba toda e qualquer atividade pró-Palestina ao redor do globo.
Para além deste debate, contudo, deve-se levar em conta a questão do fenômeno da guerra híbrida, que assume contornos certamente preocupantes.
Israel, segundo relato de suas autoridades de segurança, promoveu o bombardeio após bloquear digitalmente uma tentativa de ataque cibernético por parte de hackers do Hamas – ignorando aqui o mérito da oposição controlada que o Hamas promove a Israel-, sucedendo então um ataque físico. Além de transcender as barreiras existentes entre as realidades física e cibernética no contexto das relações internacionais, também podemos tomar como lição o rompimento de tais fronteiras no âmbito político em sentido amplo. A internet compõe a realidade. E as consequências das movimentações na internet podem se dar dentro ou fora dela. Esta fórmula é também válida para pessoas físicas e partidos e organizações políticas, tal qual se dá no âmbito da geopolítica e das relações internacionais.
E que tipo de precedente podemos vislumbrar com esse ataque? É realmente ilusório demais pensar em um futuro próximo ou distante ataques físicos motivados por movimentações de ativismo cibernético com um teor de ameaça muito menor? Nada pode ser descartado. E nossas atenções devem estar redobradas à medida que vige em nosso país um governo que gradativamente nos converte em colônia da Entidade Sionista.
Antes, ataques terroristas com milhares de mortos impulsionavam a “Guerra ao Terror”. Depois, informações duvidosas da existência de armas de destruição em massa jamais encontradas justificavam invasões brutais de grande mortandade. Agora, tentativas frustradas de ataque cibernético geram ataques físicos. Qual será o próximo passo da arbitrariedade atlantista?