‘Bolsonaro não representa novos ares’, diz populista italiano

A vitória de Bolsonaro despertou diferentes reações fora do país. A mídia de massa internacional, usualmente alinhada com o liberalismo de esquerda, desaprovou, mas o fez, fundamentalmente, por conta das declarações pseudo-conservadoras polêmicas de Bolsonaro. Por outro lado, naquilo que poderíamos denominar de um pensamento pavloviano, parte das forças populistas e soberanistas italianas comemorou. Mas não todas.

O deputado italiano Alessandro Di Battista, do movimento nacional-populista “5 Estelle”, se manifestou em sua conta no Facebook, fazendo declarações duras a respeito do projeto político bolsonarista, explicando o motivo pelo qual os nacionalistas ao redor do mundo não têm nada a comemorar com a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro. A nota segue, traduzida, abaixo:

NOTA DO DEPUTADO ALESSANDRO DI BATTIST SOBRE A ELEIÇÃO DE BOLSONARO:

Que Cesare Battisti, na condição de fugitivo no Brasil, poderá retornar e cumprir aqui sua pena, na prisão, é uma ótima notícia. Battisti foi condenado de forma definitiva por dezenas de juízes, por homicídio e terrorismo – não se trata de um preso político!

Todavia, essa me parece ser a única boa notícia em se tratando da vitória de Bolsonaro no Brasil. É até mesmo surpreendente o fato de que os “soberanistas” italianos estejam comemorando tal resultado: falam em “vitória da direita”, na “derrota da esquerda”, de novos ares. Mas que novos ares são esses? Além do mais, o que há de novo em tais categorias?

Bolsonaro será um mero operador das diretrizes da política econômica conhecida como Consenso de Washington: seja cortando gastos públicos, seja retirando direitos econômicos e sociais, seja por meio de desregulamentações, privatizações selvagens ou através da abertura para o liberalismo mais desenfreado. Na prática, tudo aquilo que acentuou, de Reagan em diante, as desigualdades, a pobreza, o aumento dos fluxos migratórios, o surgimento de bandos criminosos (tornados verdadeiros exércitos). 

Eis a beleza neoliberal, principal inimigo dos interesses dos Povos, a quem os soberanistas devem defender.

As receitas do Consenso de Washington são idênticas às da Troika (o Fundo Monetário Internacional está sempre por ali em algum lugar). São as receitas que servem, hoje mais do que nunca, ao poder excessivo do livre-mercado. Eu, ao contrário, creio firmemente nas nacionalizações e nos Parlamentos e nos Governos soberanos! Creio que as estradas devem pertencer ao povo italiano, tal como as telecomunicações, tal como a rede hídrica e a ferroviária, tal como o Banco da Itália. Tudo isso já falhou no passado? Então foi culpa dos homens, não do conceito de nacionalização em si. Mas Bolsonaro irá copiar e colar as políticas levadas a cabo pelos tecnocratas europeus, os quais se escandalizam por pontos percentuais, enquanto ignoram os inacreditáveis bolsões de pobreza que existem na Europa.

Bolsonaro é o Moscovici de São Paulo, um Juncker, que ao invés de levantar o cotovelo, levanta uma “Bíblia evangélica”, achando que está em missão a mando de Deus.

Repito: estou muito feliz que Cesare Battisti finalmente deixe o Brasil, mas eu não o gostaria que também o fizessem outros milhares de cidadãos brasileiros. Porque é sobretudo o neoliberalismo e seus produtos que empurram, todos os dias, homens, mulheres e crianças hondurenhos, salvadorenhos, mexicanos, guatemaltecos para fora de suas terras, agora desertas por conta do primado da finança sobre a política: o primado que os “soberanistas” devem combater com todas as suas forças.

 

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