Há muito tempo, o Brasil sente necessidade de um líder nacionalista, de um líder patriota. O Brasil, há muito, sente falta de alguém que realmente entenda, ame e queira o melhor para o país. Porque nada mudará sem uma figura desse tipo, e que some a este patriotismo a vontade de mudanças radicais.
A cada presidente escolhido, ou a cada novo parlamento eleito, somos testemunhas de tamanha desgraça que repetimos para nós mesmos ou uns para os outros: “Ah, se pelo menos houvesse algum nacionalista nos liderando…”.
Mas na década de 90, de fato, apareceu uma figura que reunia boa parte dessas características desejadas em um líder brasileiro. Enéas Carneiro era um homem do povo, de elevada inteligência, que conhecia bem o país, que tinha o maior dos apreços por ele e que, portanto, queria para ele o melhor.
Mas todos riram dele. Ano após ano, ele era tratado como o “alívio cômico” do processo eleitoral. A massa, superficial, frívola e volúvel (semianalfabeta ou funcionalmente analfabeta) prestava mais atenção em sua apresentação “wagneriana” do que no conteúdo de seus discursos. A sua forma enfática de falar era entendida mais como sintoma de loucura do que de convicção.
Não obstante, nos discursos de Enéas, podemos encontrar todas as informações e todas as propostas de que necessitávamos na época (e de que ainda necessitamos): bomba atômica, recuperação das estatais estratégicas, rechaço ao globalismo, crítica à política cambial e monetária neoliberal, denúncia da divisão internacional do trabalho, defesa dos direitos trabalhistas, afirmação da “heteronormatividade”, refutação da ideologia de gênero, crítica da usura, desprezo pela divisão política direita/esquerda, etc.
Pode-se duvidar se teria sido possível que ele fizesse todas as reformas necessárias ao país, já que muito da política depende da politicagem. Mas não se pode duvidar que ele possuía os posicionamentos corretos em praticamente todas as questões.
Essa carência, real mas também afetiva, misturada com um sentimento de culpa pelo modo como Enéas foi tratado, tem a ver com a cegueira que toma Jair Bolsonaro, antítese de Enéas Carneiro, como nacionalista.
Em comum, os dois só possuem certo conservadorismo, que em Enéas está cientificamente e culturalmente bem embasado, enquanto que em Bolsonaro não passa de um aglomerado de chavões superficiais. Excetuando isso, não há absolutamente mais nada em comum entre os dois. E não obstante, Jair Bolsonaro resolveu assumir a postura de “herdeiro” de Enéas. Isso é tão hipócrita, falacioso e vergonhoso quanto Lula assumindo a postura de herdeiro de Getúlio Vargas. Nos dois casos, trata-se de uma grande farsa, uma farsa que só serve para enganar os idiotas ou afagar a consciência culpada dos “fariseus” que zombaram de Enéas ao longo de sua carreira política.
Porque não se pode cometer equívocos em relação a isso. Praticamente não há eleitores de Enéas que pretendam votar em Bolsonaro. A maioria esmagadora dos eleitores de Bolsonaro são (além dos pós-adolescentes) da mesma laia dos “fariseus” que votavam em FHC, Lula, Serra, e agora aparecem subitamente como “patriotas” invocando a memória de Enéas Carneiro.
Enéas Carneiro, um antiliberal radical, se revira no túmulo sempre que sua imagem é associada à figura tosca, ignóbil, sionista, entreguista, liberal, americanófila, servil e globalista de Jair Bolsonaro.
Se o Doutor Enéas estivesse vivo ele iria ser um rival do boçalnaro, já que sempre defendeu a soberania do Brasil e repudiava as privatizações.