A dilapidação do patrimônio estratégico brasileiro segue a passos largos. A Embraer já havia sido criminosamente privatizada em 1994 e a maior parte de suas ações já pertencia a bancos e fundos de investimento de várias partes do mundo. Mas, pelo menos, o Estado brasileiro ainda possuía um papel central na tomada de decisões dentro da empresa.
Agora, porém, para todos os efeitos, a Embraer foi “anexada” pela estrangeira Boeing. Isso não é pouca coisa. A Embraer, antes de ser privatizada, foi uma das maiores empresas da indústria aeronáutica do mundo, criada precisamente para impulsionar um desenvolvimento autônomo desta indústria no Brasil, de modo a servir aos nossos interesses comerciais e militares.
O prestígio e qualidade da Embraer estatal era tanta, que ela chegou a ser alvo de espionagem industrial por corporações estrangeiras de aviação, como a Fairchild. Seu auge foi a conquista do status de fornecedora de aviões de treinamento para a Real Força Aérea Britânica.
Tratava-se da única indústria aeronáutica de um país subdesenvolvido capaz de disputar fatias do mercado com as megacorporações multinacionais sediadas em países desenvolvidos. Nesse sentido, não há como querer ver qualquer “pragmatismo” na decisão de sua privatização.
Ao contrário, o contexto da privatização da Embraer, tal como o de TODAS as privatizações dos anos 90, era tão somente o de uma estratégia de rapina neoliberal, sem qualquer perspectiva de benefício a longo prazo para o Estado ou sociedade brasileiros.
Seguindo o modus operandi usual das privatizações no Brasil, o governo injetou 700 milhões de dólares na empresa pouco antes de sua privatização e vendeu a Embraer pelo preço mínimo, meros 150 milhões de reais! O pagamento foi feito em “moedas podres”, com deságio de 50%. Em outras palavras, a Embraer foi praticamente doada. O governo se endividou para “vender” uma estatal estratégica.
Trata-se de um caso claro de expropriação feita pelo capital financeiro a partir de seus lobbies e agentes infiltrados no Brasil. As instituições financeiras dos países imperialistas assumiram a propriedade da empresa e, a partir de então, parte considerável do lucro passou a sair do país.
Enquanto tradicionalmente sob controle estatal, a empresa havia sido gerida por engenheiros veteranos (a Embraer estava diretamente ligada ao ITA), a partir de então, a Embraer passou a ser administrada por banqueiros. A prioridade passou a ser lucros de acionistas, ao invés do atendimento das necessidades aeronáuticas nacionais.
Como aconteceu com outras privatizações, após a privatização da Embraer se seguiu um pico de desempregos e falências, já que, além de demitir funcionários e reduzir salários, a Embraer pós-privatização passou a preferir fornecedores estrangeiros aos nacionais. E imediatamente a Embraer privada passou a receber recursos do BNDES – recursos estes que não eram disponibilizados para a Embraer estatal.
De um modo geral, uma verdadeira tragédia nacional. Assim sendo, a atual “fusão” da Embraer com a Boeing não é mais do que a formalização de um processo de financeirização e internacionalização que já estava em marcha desde os anos 90. O prejudicado, como sempre, será o povo brasileiro.
A entrega de setores estragégicos da economia brasileira ao capital financeiro internacional é TRAIÇÃO!