O recente casamento na família real britânica parece ter ressuscitado mais uma vez o debate monarquista. Um grande número de pessoas só falou sobre este tema no final de semana. Muitos brasileiros tratando do tema até mesmo como se a família real britânica governasse a nós também.
Naturalmente, por outro lado, uma grande comoção se formou entre antimonarquistas, tratando do assunto com o mesmo grau de importância e interesse que os monarquistas e os entusiastas do casamento real.
Toda essa comoção, a favor ou contra a monarquia, não passam de formas de um fetiche. Não poderia ser outra coisa quando o objeto da comoção não passa de um simulacro.
A monarquia britânica é um simulacro de monarquia. Todo o ritualismo e tradição estão ali esvaziados de qualquer significado real. Qualquer função da monarquia britânica, hoje, é pouco mais que resquício de um simbolismo.
A família real britânica não está mais no topo da cadeia político-econômica. Eles seguem um “script” como todos os outros agentes sociais. Eles são como atores, pagos para simularem importância e para representar papéis específicos perante a sociedade civil.
A única função possível da família real britânica hoje é negativa. Nessa simulação de monarquia e nesse espetáculo de atuação ritualística, a monarquia britânica serve para dar uma sensação de “continuidade” e “estabilidade”, de modo a enganar a sociedade civil para que ela siga pensando que vai tudo bem na Grã-Bretanha.
Não obstante, o antimonarquismo é um fetichismo tão irrelevante quanto o monarquismo. Os efeitos alcançados pela verdadeira elite britânica por meio da família real são alcançados em países republicanos por outros meios simbólicos, outros espetáculos e simulacros.
Na verdade, a discussão monarquia x república é uma das discussões políticas menos relevantes da atualidade. Não há qualquer problema fundamental de um país republicano que será resolvido por sua transformação em monarquia, tal como não há qualquer problema fundamental de um país monárquico que será resolvido por sua transformação em república.
Nesse sentido, portanto, a forçação de um debate sobre o “bem” ou “mal” da monarquia deve ser visto como mais uma tentativa midiática de distração.
Chama atenção, ademais, a grande atenção que nossa mídia deu ao assunto. A mesma atenção não parece ser dada às cerimônias de outras monarquias europeias, asiáticas e africanas. Percebe-se aí, então, uma notável anglofilia que parece ser realmente típica de nossa mídia neocolonial.
Nosso foco deve permanecer centrado em um radical realismo político, onde o que importa verdadeiramente é a substância das coisas e suas funções. Esse é a única maneira de não ser enredado pelos espetáculos que a burguesia oferece para nos distrair.