A história dos liberais pró-EUA que acham que tudo pode dar certo aqui, como lá, é muito curiosa.
Pra começar, as circunstâncias econômicas dos EUA são totalmente diferentes das nossas. Os EUA têm uma base industrial muito mais forte, e a produção de petróleo nativa deles já é suficiente desde 2010 para abastecer todo o mercado interno.
Isso sem contar em duas coisas a mais: as políticas liberais funcionam nos EUA porque o sistema liberal internacional, desde Bretton Woods (1944) até hoje, é feita especificamente para beneficiar e concentrar a riqueza desproporcionalmente nas mãos dos anglo-americanos – que foram eles, afinal, que inventaram o sistema neoliberal internacional.
O dólar até hoje é a maior moeda de reserva internacional: ou seja, TODOS os bancos centrais do mundo compram reservas primariamente em dólar. Até recentemente, a dominação do petrodólar era absoluta: isso quer dizer que onde quer que você estivesse, no mundo, seja em Xangai ou Londres, você comprava suas reservas de petróleo utilizando o dólar. Só recentemente que o petrodólar começou a declinar.
A dica fica aqui: o imenso poder de compra da economia americana, a hegemonia neoliberal, o consenso de Washington só foram em grande parte possíveis porque o sistema internacional era e ainda é dominado em grande parte por forças neoliberais anglo-americanas. Agora que esse consenso está em ruínas, e a China avança com o Yuan Renmibi, *agora* temos a oportunidade de ouro de nos soltar das correntes do capital estrangeiro e obter – no mínimo – uma economia industrial independente e robusta.
Infelizmente, nossos líderes atuais, e mesmo o PT, não têm essa visão. São uns palermas, boçais, corruptos – como sempre, pensam mais no próprio bolso e não têm ciência nenhuma da situação em que se encontram. O Brasil, como país agro-exportador, só vai crescer se o preço internacional das commodities chegar a patamares elevados, coisa muito relativa e que nem sempre acontece.
Agora uma coisa é certa: o petrodólar está em decadência irremediável. Assim como o próprio dólar, que hoje tem de fazer face à multipolaridade global com a competição de moedas como o Yuan Renmibi, da China. No momento em que o Dólar perder seu status de moeda de reserva internacional, os EUA vão virar uma bananolândia assim como o Brasil – quer dizer, talvez não tão ruim assim, mas que eles vão ficar pobres, vai ser evidente.
Estimativas dizem que a moeda americana perderia 70% do seu valor, resultando em consequências catastróficas para a economia americana; agora pare pra pensar o seguinte: o Brasil já teve momentos de hiperinflação, pois imprimiu dinheiro demais.
Os EUA, devido à alta demanda pelo dólar no mercado global, como moeda de reserva, conseguem gerar muito mais confiança no dólar e assim podem imprimir dinheiro à vontade para pagar as contas, invadir outros países, etc. Se o Brasil imprimisse dinheiro como os EUA imprimem, seria anos 80 de novo, e nossa inflação ia disparar descontroladamente, mas isso porque nosso dinheiro não tem a medida de confiança internacional que o mercado global deposita sobre o Banco Central americano. Isso em si é suficiente para refutar os liberais que querem implementar o livre mercado irrestrito aqui: lembrem-se, o livre mercado só funciona nos EUA porque o valor do dólar, mantido artificialmente em alta, possibilita a competitividade daquela economia em termos globais – principalmente no que se tange à compra de produtos importados, serviços e commodities.
Nós não temos a mesma condição. Não temos um império global, mas somos em si apenas uma colônia. Com isso, devemos ter em mente que sem os fatores externos que propelem uma hegemonia global, fatores esses que os EUA têm há muito tempo e que a China começa a solidificar hoje visando um futuro multipolar, nossa orientação deve ser fundamentalmente diferente.