A posse de armas pela população não existe para atender aos fetiches de classe média de jovens entendiados que se acham super-heróis. A posse de armas deriva de uma necessidade socialmente material, concreta. Chegará o tempo em que portar armas não será mais uma questão de escolha, mas de necessidade. É assim em países como México e Colômbia, onde o povo, apoiado em suas próprias forças endógenas, organiza pequenos comitês populares de autodefesa armada para resistir a opressão do Narco-Estado galopante.
O destino trágico do político “progressista” desarmamentista é ter sua vida ceifada por gente que possui, legalmente ou ilegalmente, o porte de armas. Enquanto o debate se fragmenta em questões de minorias e direitos humanos, com todo mundo tentando culpabilizar seus inimigos políticos particulares pelo assassinato da vereadora do PSOL, uma das questões fundamentais do debate político fica de fora.
As forças que massacram o povo não vão se desarmar. E como essas forças possuem sua existência entrelaçada ao governo, elas tampouco serão desarmadas.
Se essas forças não se desarmarão voluntariamente, nem serão desarmadas pelo governo, resta ao povo se armar. Estamos falando aqui de uma questão fundamentalmente lógica.
No Narco-Estado, não há outras opções. É impossível confiar no governo. Ele não quer vencer a guerra contra o crime organizado. É característica fundamental do Narco-Estado que, nele, o poder público esteja tão subalterno, subjugado e ocupado por forças criminosas e parasitárias, que a sua presença vai minguando aos poucos.
Começam a surgir bairros, cidades, províncias nas quais o poder público é inexistente. México e Colômbia passaram por esse processo. Em Michoacán ou Veracruz, o governo é o Cartel. No Brasil, essa já é a situação das favelas. Não falta muito para que essas zonas de ausência do poder público se expandam e tomem bairros inteiros.
A resposta das comunidades orgânicas mexicanas à ausência de Estado tem sido a formação de polícias comunitárias e grupos de autodefesa, formados por cidadãos armados que garantem a segurança de seus bairros contra os carteis, contra as milícias paramilitares e outras forças anti-povo. O principal exemplo é em Michoacán, no México, onde grupos de autodefesa, em coordenação com as forças de segurança, conseguiram derrotar o grupo criminoso (de conexões maçônicas) Caballeros Templarios, bem como capturar seu líder.
O apoio popular a essas reações comunitárias tem crescido cada vez mais em todo o continente. A legitimidade institucional das democracias burguesas está cada vez mais abalada. A concepção jurídica moderna do “monopólio da violência” atribuído ao Estado (nas concepções de Bodin e Hobbes) não encontra tanta ressonância nos países latino-americanos de maior herança indígena (ainda que esse conceito per si seja alienígena a todos os povos).
O próprio levante zapatista em Chiapas, em 1994, começou a partir de um grupo popular de autodefesa, cujo objetivo era proteger os camponeses mexicanos pobres da região das tentativas de expropriação forçada por parte dos latifundiários e de seus jagunços.
Estamos caminhando rumo à necessidade de organizar a população para resistir por conta própria às forças que ameaçam a paz e segurança do povo. Essa é a lição fundamental que devemos internalizar a partir da compreensão do que Brasil se tornou: um Narco-Estado.