Erra quem acredita que os líderes do mundo ocidental governam apenas conforme os interesses das facções partidárias e empresariais que os puseram no poder, ou apenas conforme interesses egoístas privados. Na verdade, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, quando o mundo foi dividido entre 2 blocos antagônicos, o Ocidente tem sido arregimentado e obrigado a seguir um “Plano-Mestre”, cujo objetivo final é a ditadura liberal e capitalista global, ou seja, a chamada “Nova Ordem Mundial”.
É este Plano-Mestre que se revela nas evidências de uma coordenação internacional em prol deste objetivo final. Quando o analista político expande sua visão para além das questões nacionais e começa a prestar atenção nos padrões e tendências político-econômicos internacionais, ele enxerga que o Brasil não está sozinho e que nada que tem sido feito aqui é inovação.
Desde o Consenso de Washington, já após a Guerra Fria, quando a social-democracia não era mais necessária, o Brasil tem estado em uma estrada pavimentada pelo ideal liberal de “desestatização”, com inúmeras privatizações, cortes de subsídios, desonerações fiscais para grandes empresas, facilitação de importações, enfraquecimento de empresas públicas e várias outras medidas tomadas, não por razões pragmáticas de eficiência, mas por causas fundamentalmente ideológicas.
Os argumentos utilizados pela mídia de massa e pelos porta-vozes do governo são sempre “práticos”. O país precisa fazer tudo isso para “aumentar competitividade”, “melhorar sua eficiência”, “cortar gastos”, “propiciar o crescimento”. Mas não é nada disso. Esses são apenas termos simbólicos positivos utilizados para manter o gado cidadão submisso e aceitador desses saques das riquezas nacionais.
Por isso, o crescimento raramente vem após essas reformas. E quando vem, ele é ilusório. É crescimento apenas para os ricos. Os empregos novos são todos precários e pagam salários miseráveis. Sabemos disso porque há uma coordenação internacional aplicando essas reformas globalmente desde os anos 80, especialmente através de “terapias de choque”.
Começaram na Europa Ocidental e conseguiram estagnar sua economia. Agora querem dar seguimento a estes projetos que já foram propedeuticamente ensaiados aqui quando dos regimes militares. Mas sob a democracia burguesa é mais fácil, afinal, mesmo à época, havia militares latino-americanos que tinham interesses e crenças próprias que, às vezes, se distanciavam da ortodoxia globalista.
É nesse contexto que vêm as reformas previdenciárias simultâneas, no Brasil e na Argentina. Agora, no Uruguai vem também um projeto de reforma similar, do punho de deputados com sobrenomes suspeitamente alógenos.
Os argumentos são equivalentes e equivalentes são os artifícios e manobras contáveis utilizadas para justificar essas reformas.
Mas é possível que a reforma previdenciária argentina seja ainda bem pior que a brasileira. No projeto argentino se pretende, entre outras coisas, que, quando haja queda de arrecadação em comparação com a inflação, as pensões sejam imediatamente reduzidas, mas que o inverso não ocorra de imediato. Ou seja, o governo pretende cobrir déficits causados pela escravidão dos juros da dívida roubando descaradamente dinheiro dos aposentados.
Qualquer violência contra esse tipo de tirania capitalista é pouca. Nós, brasileiros, também não devemos deixar por menos. Estamos lutando contra um projeto global que culminará com a destruição da classe média. A longo prazo, haverá apenas uma minúscula casta de super-ricos e uma grande massa de pobres, todos em empregos precários e informais.
É contra esse futuro totalitário que temos que lutar, tal como os argentinos estão lutando.