Em todo o mundo, inclusive na Rússia, está surgindo uma crescente demanda por uma verdadeira alternativa ao globalismo. Neste sentido, os conceitos de cesarismo e contra-hegemonia (retirados da filosofia do comunista Gramsci) possuem um enorme valor teórico e ajudam a explicar muitas coisas.
A hegemonia é a difusão da ideologia liberal-burguesa em escala global (para Gramsci, uma arma do capital). Desde o Ocidente, o capital estabelece um modelo normativo único para todo o mundo: mercado, democracia política, liberalismo, fronteiras abertas, etc. Submetidos à pressão da hegemonia, alguns regimes políticos lhe opõem resistência e, objetivando fazer a manutenção de suas soberanias, se voltam para a política do cesarismo.
Cesarismo é um regime político que, ao aceitar, em linhas gerais, o imperativo da hegemonia, tenta não acatá-lo por inteiro: não entrar em conflito direto com a hegemonia e, assim, manter-se no poder (algo se aproveita da hegemonia, algo se rejeita).
Em termos de sociedade, a hegemonia cresce parcialmente. Gramsci chama isso de transformismo: é o triunfo parcial do capital. Por exemplo, ele triunfa na economia e, em parte, na cultura, mas a esfera militar permanece sob o controle de um líder nacional. A sociedade se equilibra. ·Segundo Gramsci, o cesarismo é eficaz e pode se manter a longo prazo. Porém, não configura uma oposição à hegemonia, mas um adiamento. Se os cesaristas retêm seus lugares confortáveis, não passando o controle aos hegemônicos, surge um conflito. Um exemplo disso é Saddam Hussein, que “se demorou” demais. A América de Trump é uma tentativa de forjar um sistema cesarista. Trump não quer ser uma casca vazia como Clinton ou Obama.
Em vista disso, a contra-hegemonia é a alternativa. Trata-se de uma luta contra a hegemonia enquanto fenômeno, tendo em sua base a rejeição da mesma desde os seus fundamentos. Essa é a única maneira dos povos defenderem sua soberania verdadeiramente e a longo prazo. A hegemonia deve ser rejeitada em termos de “esquerda” (como em Gramsci) e em termos de “direita”. É preciso construir uma frente alternativa (nem de direita, nem de esquerda), que irá unir tanto os conservadores como aqueles que lutam pela justiça social e contra o capital. A hegemonia não é um destino, mas um desafio. Mundialmente, fica cada vez mais claro o surgimento de uma estrutura triádica. Atualmente, não importa se você é de esquerda ou de direita. Até nos EUA há uma tentativa contra-hegemônica representada por Stephen Bannon. Na Rússia, também nos encontramos em um sistema de coordenadas tripartites: alguns reduzem esse quadro ao fato de que, por um lado, há aqui um excelente Estado patriota e, por outro, há liberais hostis. Mas esse quadro parte de uma visão distorcida da realidade – uma escolha sem escolha. Se somos uma grande nação, nós merecemos mais. Se nosso destino, ao longo dos séculos, foi defender nossa verdade espiritual russa diante de todo o mundo, será que consolidaremos nossa existência histórica com um vergonhoso adiamento? Não. O mais relevante ainda está por vir: o surgimento da contra-hegemonia como um polo ideológico independente. Tanto na política russa, quanto na global, estamos cada vez mais próximos da batalha final.