Se não disséssemos que as imagens como esta foram tiradas no Brasil, seria razoável imaginar que imagens desse tipo viriam das áreas na Síria, no Iraque, na Líbia ou alguns outros países sob controle do ISIS e organizações similares, todas adeptas da seita salafista.
Infelizmente essas imagens são daqui. Uma ameaça vem crescendo silenciosamente ao longo das últimas duas décadas, principalmente nas periferias dos grandes centros urbanos.
Sob os auspícios dessa expansão igrejas são invadidas e vandalizadas. O mesmo ocorrendo com terreiros de candomblé e umbanda. Em algumas favelas, padres já foram impedidos de celebrar missas e até de entrar em suas paróquias, mães e pais de santo já foram expulsos sob ameaça de morte. A maioria das outras religiões ainda não passou por essas situações apenas por serem mais discretas ou menos populares.
Mas essa ameaça tem nome. Ela não é algo genérico e abstrato como “intolerância religiosa”, “fundamentalismo” ou “fanatismo”. Tal como no caso do terrorismo, em que é necessário apontar e especificar de forma precisa a autoria dos fatos, aqui, diante desses casos de vandalismo, perseguição, ameaça, destruição e mesmo de aniquilação cultural é necessário fazer o mesmo.
Essa ameaça é o crescimento do neopentecostalismo e todas as suas miríades de seitas no Brasil. Trata-se de uma expansão que vem no esteio de dois vácuos: 1) O vácuo político-econômico de um Estado ausente que não se faz presente nas periferias e abandona uma população ao desespero da miséria e da indigência; 2) O vácuo religioso de uma Igreja que não parece mais capaz de dar conta de cuidar de seus fieis e começa a perdê-los de forma crescente e inexorável.
No desespero da indigência o homem buscará se apegar a qualquer um que estenda a mão dizendo que quer tirá-lo do abismo. E aí entram os oportunistas que estão na vanguarda dessa expansão neopentecostal. Homens que prometem não só um paraíso no céu, mas dinheiro, carro, casa, roupas novas para todos que depositem fé e dinheiro no “pastor”.
Se essa fosse tão somente uma questão teológica e religiosa, ou um fenômeno social apenas, já seria algo grave. O neopentecostalismo é, fundamentalmente, a versão cristã do salafismo/wahhabismo.
Já há materiais sobre isso em outros lugares, por isso não nos alongaremos, mas ambos se fundamentam, essencialmente, na rejeição da Tradição, da contemplação e da reflexão filosófica. O “livro sagrado” é transformado, ele próprio, em um ídolo, um fetiche. Tudo o mais é rejeitado como idolatria.
Sem o apoio em uma longa tradição exegética, a interpretação “correta” do texto fica a cargo do “chefe religioso” local, que mistura literalismo com subjetivismo, tudo sob a lente da total ignorância e falta de erudição teológica. Não surpreendentemente, há muitos “pastores” neopentecostais semianalfabetos, tal como há muitos imames salafistas e wahhabis semianalfabetos ou analfabetos “educando” fieis.
Mas não é só isso. O neopentecostalismo vem acompanhado, também, de um apoio irrestrito e inegociável a Israel e ao sionismo, bem como aos EUA e seus projetos geopolíticos. O neopentecostalismo vem acompanhado de uma forte tendência econômica liberal, e mesmo anarcocapitalista, como vemos entre os “teonomistas”.
Em suma, estamos diante de uma receita explosiva. Essa é uma expansão cujas consequências serão nefastas para as várias religiões que aqui coexistem. Para a soberania brasileira, para o bem-estar do povo brasileiro e mesmo para a sobrevivência de nosso Estado.
O silêncio em relação a essa ameaça deve cessar.