Hoje é o Dia Internacional de Solidariedade com a Palestina: ocasião propícia para falar sobre o futuro do povo palestino e do Estado de Israel.
A Palestina é uma terra sacra, onde se localiza alguns dos principais santuários do Cristianismo, do Judaísmo e do Islã. Não apenas paixões políticas, como também paixões religiosas arderam sobre a Palestina por milhares de anos. Trata-se de uma terra deixada por Deus a Abraão, quando este veio de Ur, na Caldeia, para a Mesopotâmia. Moisés e Josué a reconquistaram do domínio egípcio, formando ali o Reino de Israel e da Judeia. Em seguida, a Palestina foi incorporada aos impérios globais: Assírio, Caldeu, Persa, Grego, Romano, Islâmico e Otomano. Após o colapso do Império Otomano, esses territórios caíram sob domínio Britânico.
Hoje, cada vez mais pessoas compreendem que as explicações materialistas, econômicas e evolucionistas da História não passam de um mito paupérrimo da modernidade. Os fatores religiosos e ligados ao ethnos estão voltando a ser levados a sério e estabelecidos como chaves relevantes para o entendimento dos eventos mundiais. Isso implica que a questão palestina também deve ser vista sob este panorama.
A população da Palestina é miscigenada. Centenas de povos habitaram, passaram por e se misturaram uns aos outros naquelas terras. Os judeus a deixaram em massa após a falida ascensão do pseudo-messias Simon bar Kokhba, em 135 D.C. Isso representou o quarto período de exílio, o Galut. O Talmude proíbe os judeus de retornarem a essas terras até a chegada do Messias. Este é um dos três principais mandamentos talmúdicos, que respectivamente são: (i) não se deve retornar a Israel; (ii) os povos entre os quais vive a Diáspora Judaica não devem ser feridos e (iii) a construção do Terceiro Templo não deve começar até a vinda do Messias.
Durante o período da expansão do Islã, a Palestina foi conquistada dos Bizantinos romanos pelos Árabes, consolidando uma profunda arabização e islamização da região. Antes disso, a maioria da população era cristã. Na época das Cruzadas, os cruzados ocidentais tomaram de volta Jerusalém dos Sarracenos por um certo período, apenas para perdê-la novamente. Mais tarde, no início do século XVI, a Palestina foi conquistada pelos turco-otomanos.
No final do século XIX, sob a influência da ideologia racista e nacionalista do sionismo, sob um nacionalismo judeu que copiava o nacionalismo europeu, os judeus europeus começaram a migrar massivamente para a Palestina, violando portanto os mandamentos talmúdicos.
Os sionistas decidiram: se o Messias não se apressa em voltar, então tomaremos a iniciativa por nós mesmos e forçaremos o seu retorno. Nem todos os judeus concordaram com isso, naturalmente, de modo que um movimento judeu antissionista, conhecido como Neturei Karta, emergiu, pregando que o sionismo tratava-se de uma heresia diabólica.
Em 1947, seguindo o final da Segunda Guerra, o Estado de Israel foi fundado sob a influência dos sionistas. E na medida em que a religião judaica, em sua versão sionista, representa uma doutrina estritamente racista, a população palestina local – largamente árabe e muçulmana, embora também incluísse muitos cristãos – foi sendo submetida a um verdadeiro genocídio, um apartheid, a uma limpeza étnica. Os judeus, que acabavam de sofrer uma perseguição sem precedentes pelas mãos dos nazistas no Terceiro Reich, pareciam estar sublimando sua dor e ódio nos palestinos, que não tinham culpa de nada. Milhões de palestinos deportados das terras nas quais viviam por anos: algo que não aconteceu nem mesmo durante as conquistas árabes ou sob os cruzados.
Os sionistas não reconheceram qualquer resolução sobre o estabelecimento de um Estado Palestino, nem mesmo o status internacional de Jerusalém. Constantemente citando os seus sofrimentos nas mãos dos nazistas, os judeus serviam-se disso como um pretexto para simplesmente ignorar os protestos dos árabes e às petições das Nações Unidas e da comunidade internacional.
Em linhas gerais, ao violarem os mandamentos talmúdicos, os líderes sionistas essencialmente identificaram a si mesmos como o Messias. Tudo o que restou foi prosseguir e construir o Terceiro Templo. E para tanto, os árabes precisam ser expulsos do Monte do Templo e o santuário Islâmico, a Mesquita de al-Aqsa, precisa ser destruída.A plenitude do genocídio dos palestinos é parte dos planos sionistas. Assim, na opinião deles, o período de hegemonia judaica chegará em uma escala global – a Quinta Monarquia, sobre a qual as nações da terra, os gentios, reconhecerão a supremacia dos judeus e se submeterão a eles: tal é o credo pelo qual vive o Estado de Israel.
Nesse contexto, o Dia de Solidariedade com os Povos da Palestina é celebrado por aqueles que não compartilham de semelhante ideologia mítico-política, racista e escatológica, que é sionismo.
Para um ortodoxo, ela representa claramente um reminiscente do Anticristo. No entanto, nós igualmente não podemos nos deleitar com a conquista islâmica da Palestina: afinal, ela fez parte de nossa terra ortodoxa, foi uma parte do nosso Império.
Talvez o mais justo seja devolver a Palestina a nós, cristãos. Nós não somos racistas ou fanáticos, e não exigimos exclusividade. Nós garantimos o direito de ambos, muçulmanos e judeus, em nossa terra sagrada. Encontremo-nos, pois, na Jerusalém Ortodoxa.