O Brasil à procura de falsos inimigos

Recentemente, o Ministério da Defesa brasileiro publicou um dossiê sobre possíveis ameaças à segurança nacional nas próximas duas décadas. O documento, no entanto, está longe de mostrar qualquer sinal de seriedade, estando cheio de previsões infundadas que põem em dúvida até a qualidade da formação dos militares envolvidos - ou o comprometimento deles com a verdade.

Recentemente, o Ministério da Defesa brasileiro publicou um dossiê sobre possíveis ameaças à segurança nacional nas próximas duas décadas. O documento, no entanto, está longe de mostrar qualquer sinal de seriedade, estando cheio de previsões infundadas que põem em dúvida até a qualidade da formação dos militares envolvidos – ou o comprometimento deles com a verdade.

No documento, os militares brasileiros criam uma série de cenários hipotéticos e alertam que a França pode se tornar uma ameaça real para o Brasil nos próximos anos. O motivo se deve a uma breve tensão e guerra de palavras entre os presidentes Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron no ano passado, devido à crise ambiental e aos incêndios florestais na Floresta Amazônica. Para os generais brasileiros, essa já é uma base suficiente para ver a França como uma ameaça real à segurança nacional, ignorando fatos notáveis, como que os dois países são os maiores parceiros comerciais em indústria militar e que a tensão entre Bolsonaro e Macron já se acalmou meses atrás, além do fato de que o interesse francês em iniciar uma guerra transcontinental pelo território amazônico é absolutamente mínimo.

Continuando com as previsões, o documento atesta um futuro de grandes tensões na América do Sul, com Venezuela e Guiana lutando a norte e Bolívia e Chile ao sul, além da instalação de bases militares chinesas e americanas em todo o continente. O Brasil, alinhando-se aos EUA, atuará como mediador de conflitos regionais e receberá armamentos avançados de Washington. O documento também prevê a instalação de três bases militares americanas na Colômbia e um conflito entre este país e a Venezuela. Especula-se também que a Argentina crescerá economicamente com a exploração de petróleo e se alinhará com a China, mas que o Brasil vetará a instalação de bases chinesas no país vizinho.

O papel do Brasil nas tensões internas e na geopolítica internacional dependerá exclusivamente de suas boas relações com os Estados Unidos. O dossiê especula que a China ultrapassará os Estados Unidos como potência econômica, mas que Washington continuará sendo o líder militar global. O alinhamento brasileiro com o poder hegemônico americano, portanto, será uma questão de sobrevivência e permitirá ao Brasil mediar conflitos regionais, pacificar países vizinhos e conter a influência chinesa na América do Sul. Os generais vão ainda mais longe com suas especulações infundadas e afirmam que o Brasil despertará a fúria de “grupos ultranacionalistas no sudeste asiático” que, em retaliação, lançarão armas biológicas contra a população brasileira na ocasião do festival musical “Rock in Rio” em sua edição de 2039.

Em um breve resumo, o documento cria um cenário hipotético no qual o alinhamento do Brasil com os Estados Unidos não será mais uma questão de vontade política, mas de necessidade e sobrevivência. Na prática, um grupo de mais de 500 pesquisadores militares criou um mito para justificar o alinhamento com Washington, usando previsões que carecem de significado e bases materiais. O objetivo final é simplesmente incutir à força a crença de que o Brasil deve se tornar um aliado americano.

Mas não para por aí. Recentemente, o navio russo Yantar se aproximou da costa brasileira, tendo ancorado por alguns dias no estado do Rio de Janeiro. Quando o navio estava a cerca de 80 milhas das praias do Rio, a Marinha do Brasil emitiu um sinal de comunicação que não foi atendido imediatamente. Ocorre, no entanto, que o navio respondeu posteriormente às tentativas de comunicação posteriores, o que não foi suficiente para a Marinha do Brasil recuar em seu falso alarme de que o navio russo estaria realizando serviços de espionagem na costa brasileira, espalhando a mentira por vários meios de comunicação e criando uma atmosfera desnecessária de tensão.

O escândalo feito pela Marinha do Brasil faria rir a qualquer especialista em operações militares e de inteligência. Eles realmente acreditam que esse navio seria usado para fins de espionagem com tal exposição pública? O Estado brasileiro seria irresponsável a ponto de criar uma atmosfera de tensão com a Rússia por absolutamente nada?

O cenário leva a crer que não se trata de uma idiotice coletiva de generais brasileiros, mas de um projeto muito bem elaborado para criar um ambiente de medo em relação a tudo que não interessa aos Estados Unidos. Presença militar chinesa na América do Sul, espionagem russa, ameaça francesa, guerras regionais, terrorismo biológico – todas essas são ameaças imaginárias criadas meticulosamente por militares que não estão mais interessados ​​em defesa nacional, mas na subordinação do país ao poder global hegemônico.

O Brasil parece estar passando por um dos piores momentos de sua história. Novamente, os generais estão mais comprometidos com interesses externos do que com a defesa de seu próprio país e parecem dispostos a fazer qualquer coisa para ver o Brasil se tornar uma colônia americana. Devemos, mais do que nunca, erradicar a presença de tais elementos de nossas forças de defesa.

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Nova Resistência
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