Olavo de Carvalho é apenas um Jim Jones brasileiro com linguajar filosófico e posições globalistas

O jornalista e líder de seita Olavo de Carvalho se apresenta como um pensador antiglobalista, mas até que ponto isso é verdade? Levanta suspeitas o fato de que há poucos meses Olavo de Carvalho divulgou e apoiou uma campanha empreendida por uma pensadora globalista italiana, Donatella di Cesare, contra Aleksandr Dugin e outros filósofos antiglobalistas europeus.

A expulsão dos filósofos malditos

Em uma recente polêmica, a professora italiana Donatella Di Cesare, de orientação globalista, escreveu ao periódico italiano “L’Espresso” que definir o russo Aleksandr Dugin como filósofo era um “insulto à filosofia”. Segundo Di Cesare, Dugin deveria ser definido apenas como um perigoso ideólogo soberanista, pois estaria tentando substituir os termos “raça” por “cultura” e “pureza” por “autenticidade”. Não foi a primeira vez, entretanto, que a professora teceu críticas agressivas e desequilibradas aos pensadores dissidentes. Em outro artigo, que antecede aquele em que ela tenta “desconstruir” a filosofia duguiniana, Di Cesare acusa o filósofo italiano Diego Fusaro de ser fascista, homofóbico e xenófobo. Em sua defesa, o próprio Fusaro explica que essa é uma tendência dos progressistas europeus: enquadram seus adversários em certos quadros esquemáticos para que não transpareça a apaixonada defesa que fazem das “sociedades abertas”, ao estilo popperiano, e do “turbocapitalismo” global.

Evidentemente, as acusações de Donatella Di Cesare não terminam aí. Como também é bastante comum aos liberais europeus, no que são macaqueados pelos brasileiros do mesmo espectro político, a professora acusa Dugin e Fusaro de antissemitismo, ligações com o nazismo e toda a trama de assassinato de reputações conhecida por todos que tentaram levantar vozes contra o mundo unipolar. Subindo no palanque da razão, Di Cesare – que foi orientada por Gadamer e é versada na hermenêutica filosófica – parece imaginar que está em posição de decidir quem é ou não é pensador de acordo com seus obscuros critérios pessoais. De forma mais objetiva, ela entende que são filósofos todos aqueles que concordam com certa agenda comum: um mundo sem fronteiras, apoio ao Estado de Israel, russofobia, democracia planetária ainda que sob fogo e debaixo de granadas. Dugin e Fusaro não seriam, nesse crivo, dignos do portentoso nome de filósofos.

O caso teve pouca repercussão no Brasil. Contudo, o jornalista campinense Olavo de Carvalho comentou, em sua conta de twitter, a matéria escrita por Donatella Di Cesare. Segundo ele, Di Cesare está correta em sua abordagem, pois “ a única chave unificadora de todo o pensamento do Duguin é um projeto político…” Como líder de seita que é, Carvalho alimenta entre seus seguidores a narrativa de que destruiu Dugin em um debate público. O debate entre os dois de fato aconteceu em 2012. Qualquer leitor alfabetizado, no entanto, consegue entender que Dugin ficou indisposto para a contenda quando, em uma das réplicas, Olavo postou uma ridícula foto com espingarda e cachorro para dizer que era um “simples escritor”, enquanto Dugin teria interesses geopolíticos muito mais arrojados. Passados alguns anos, Carvalho hoje se apresenta como o “segundo governo” no Brasil e tem poder direto para indicar ministros e quadros no governo Bolsonaro.

Ao dizer que a chave unificadora do pensamento de Dugin é um projeto político, o jornalista brasileiro diz mais sobre si mesmo do que sobre seu adversário. Carvalho tem trabalhado de forma incessante como agente de desestabilização nacional e prega para um séquito de lunáticos a necessidade de “ocupar espaços centrais nas academias e meios de comunicação”. Noves fora seu notável desequilíbrio mental, Olavo de Carvalho ainda criou uma trama fantasmagórica em que os donos do mundo estão preparando um golpe comunista. Desse modo, apoia de forma irrestrita a agenda ultraliberal do Ministro Paulo Guedes e é incapaz de aceitar o fato de que foi o próprio liberalismo o responsável pela deterioração de valores que ele tanto alardeia. No que diz respeito ao papel de Dugin na ordem política, Carvalho é ainda mais confuso: uma hora o chama de principal “teórico fascista” do planeta e em outros momentos afirma que o pensador russo é um perigoso “agente da esquerda”. Jogando fumaça para todos os lados, o jornalista endossa uma posição que ele mesmo condena. Olavo de Carvalho há muitos anos se queixa da falta de reconhecimento da academia brasileira e da insistência de jornalistas em classificarem seu trabalho como “projeto ideológico da direita”. Carvalho quer ser chamado de filósofo. Ou, ainda, de maior filósofo vivo do país.

Ele não passa, no entanto, de uma espécie de Jim Jones com linguajar filosófico. Em qualquer país normal, Olavo de Carvalho já teria sido deportado e condenado por seus crimes de lesa-pátria. 

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Nova Resistência
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