A quem interessa o retorno das aulas no Amazonas?

Professor e ativista da Nova Resistência questiona volta às aulas sem controle da pandemia em uma dos estados mais desiguais do país.

Professor e ativista da Nova Resistência questiona volta às aulas sem controle da pandemia em uma dos estados mais desiguais do país.

Nos próximos dias, a rede pública de ensino do estado do Amazonas pretende voltar com as aulas presenciais.

Ainda que parte da população apoie o retorno, escorada principalmente na sua falta de comprometimento com as medidas de isolamento social, a outra parte observa com receio a polêmica medida adotada pelo governo estadual.

A sucateada rede pública estadual, com defasagem no número de escolas, fator que resulta em salas hiper lotadas, promete todas as necessárias adequações estruturais para atender o corpo discente: pias foram improvisadas para a assepsia das mãos e máscaras serão distribuídas para alunos e professores. A primeira grande preocupação é: como podemos confiar em um governo envolvido na compra de respiradores superfaturados e ineficazes?

Por trás dessa necessidade de volta às aulas, escondem-se vários interesses políticos e econômicos. Durante o período da pandemia, os alunos precisaram acompanhar as aulas pela televisão e todo seu contato com os professores se dava através de redes sociais. Esqueceram que Manaus é uma das cidades mais desiguais do país e num período de crise econômica, muitos pais não tinham condições de oferecer um pacote de dados decente para que seus filhos pudessem entregar as suas atividades e serem acompanhados pelos mestres.

Outro interesse escuso diz respeito ao interesse de “instituições filantrópicas” mantidas por bancos e grandes grupos educacionais em propor pesquisas e cursos de formação para os profissionais em educação. Não seria surpreendente se tais ações fossem nada mais que predações por parte daqueles que propõe políticas de vouchers e privatização do ensino público básico.

A única resposta possível é a “não resposta”.

E isso significa o não fechamento do ano letivo.

Devemos lembrar o elementar: a escola é espaço de aprendizagem, não uma fábrica de diplomas. Seguramente, os alunos, por problemas econômicos, sociais ou psicológicos, não estão aptos para qualquer tipo de avaliação ou exame. O único interesse nesse retorno é a nefasta necessidade de reposição de peças humanas em subempregos.

Educar NUNCA foi interesse dos políticos e da grande elite deste país, que para manter seus privilégios, determinam a miséria e a ignorância.

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Yukihiro Aoyagi

Professor de História da rede pública de ensino, pós-graduando em Metodologia do Ensino, e membro da NR-AM.

Artigos: 596

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