O novo governo de Bolsonaro e seu chanceler Ernesto Araújo decidiram lançar pela janela os interesses nacionais para colocar o Brasil na posição de subordinado diante dos interesses estratégicos dos Estados Unidos da América e de Israel.
Por isso, sem qualquer motivo legítimo, começaram a antagonizar países e povos que têm conosco um longo histórico de boas relações diplomáticas e comerciais. O pior é quando isso é feito com povos do nosso próprio continente, já que todos sabemos que colocar os povos do sul da América uns contra os outros sempre foi a tática americana para garantir que continuemos o quintal dos EUA.
O presidente e o chanceler ao longo dos últimos meses lançaram diversos tweets e declarações afirmando que colocariam o Brasil em um papel de “exportar democracia e liberdade”, o que é bastante curioso para quem defendia que retiraria a influência de “ideologias” sobre a nossa política externa.
Quem não é burro sabe o que significa “espalhar democracia”. “Espalhar democracia” é o eufemismo utilizado pelo Ocidente para o bombardeio de países não-alinhados ao atlantismo. Foi o que fizeram com a Iugoslávia, com a Líbia, com a Síria, com o Iraque, com o Iêmen, com a Sérvia, com o leste da Ucrânia, o que queriam fazer com a Coreia do Norte e ainda querem fazer com a Venezuela e o Irã.
O vice-presidente Mourão já afirmou que a próxima “missão de paz” das Forças Armadas Brasileiras seria na Venezuela. Mas quem pediu? Isso não é demanda popular. O Brasil nada ganharia com isso. Jovens brasileiros seriam usados como bucha-de-canhão e, para variar, ainda seríamos invadidos por milhões de refugiados. Não prestaram atenção ainda nas consequências das intervenções “humanitárias” no Oriente Médio e Norte da África? Hordas de refugiados.
Eduardo Bolsonaro afirmou que para compensar a mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém e pacificar os parceiros comerciais árabes, o seu pai deve alinhar o Brasil em apoio aos sunitas contra os xiitas. Alguém precisa avisar ao governo que a Arábia Saudita, com quem o Bolsonaro está ansioso por nos aproximar, é o principal financiador do ISIS e da instalação de mesquitas salafistas e wahhabis ao redor do mundo.
Não é parte da missão histórica e civilizacional do Brasil “espalhar democracia e liberdade” ao redor do mundo. Historicamente, temos tido contato e relações com impérios, reinos, repúblicas, sultanatos, emirados, e todos os tipos de formações político-governamentais das mais variadas ideologias.
O que Bolsonaro e Araújo repetem é apenas o discurso da versão global do “Destino Manifesto” dos EUA. Fundamento ideológico-messiânico das aspirações globalistas dos Estados Unidos da América. Levar os valores americanos, a economia americana, o American Way of Life aos quatro cantos do globo.
O que temos nós com isso? Somos brasileiros, não partilhamos valores, interesses econômicos ou estilo de vida com os americanos. Nossa civilização é outra, nosso destino é outro, nossa missão histórica é outra. O Brasil está para os EUA como Roma está para Cartago. Brasil e EUA são inimigos estratégicos e históricos naturais. O que é bom para eles aqui na América do Sul é ruim para nós. O que é bom para nós é ruim para eles.
Os inimigos dos EUA nunca nos fizeram mal algum. Que mal nos fizeram os venezuelanos? De que forma alguma vez fomos prejudicados pelos iranianos? O que teríamos nós de legítimo contra o Hezbollah ou os xiitas em geral? Por que deveríamos derramar sangue brasileiro para combater inimigos de terceiros?
Falam, ainda, de abrigar bases americanas nos EUA. O novo governo simplesmente não dá o menor valor à soberania e aos interesses nacionais. O seu nacionalismo é meramente discursivo, uma ilusão, como se anticomunismo fosse sinônimo de nacionalismo, ou como se trocar cadeiras vermelhas por cadeiras azuis fosse alguma grande demonstração de ardor patriótico.
Estamos dispostos a levar nas costas o peso de milhões de mortos em “cruzadas democráticas” como os EUA? Estamos dispostos a virar alvo de atentadores terroristas ao nos metermos em conflitos no Oriente Médio? Estamos dispostos a acumular inimigos sem ganhar absolutamente nada em troca, apenas para agradar os EUA e Israel?
Não foi para isso que parte do povo brasileiro votou no Bolsonaro.
O povo brasileiro não liga se está mantendo relações com ditaduras, monarquias, teocracias ou o que seja. Nossos interesses são outros. Não, não damos a mínima para esse projeto globalista de espalhar a democracia ao redor do mundo, que move o pensamento ideológico de Bolsonaro e Araújo.
Seguindo os princípios da Quarta Teoria Política, cada povo deve ser livre para ser governado pela forma de governo ou ideologia que seja, não importando quão tirânica ou alienígena ela nos pareça. Não temos nada a ver com isso e para certos povos, nada é tão estranho, aberrante, irracional ou satânico quanto o modo de vida ocidental.