O novo governo chegou ao poder com um discurso nacionalista e em apenas uma única semana já demonstrou com total clareza não ter uma única gota de nacionalismo. Parte de seus eleitores também gosta de falar muito em nacionalismo, mas também não possui nada de nacionalismo.
Essa gente confunde nacionalismo com anticomunismo e acha que repetir que “nossa bandeira jamais será vermelha” (um retardo, tendo em vista que a “vermelhidade” faz parte até mesmo do nome de nosso país: Brasil, brasil, pau-brasil) constituiria algum tipo de fórmula nacionalista.
São liberais, conservadores, neocons, gente que nem mesmo se considera nacionalista, mas que gosta de usar simbolismos nacionalistas e que, às vezes, é retratada como tal por parte da mídia alinhada à esquerda.
Mas é necessário tomar um cuidado particularmente maior com os grupos e organizações nacionalistas que possuem aparência de seriedade e que, não obstante, deram apoio à eleição de Jair Bolsonaro. Estamos falando aqui, obviamente, de pequenos grupúsculos oportunistas, mas cuja “brilhante” estratégia envolve apoiar o Bolsonaro para, por dentro do bolsonarismo, ampliar o apoio para a sua versão caduca de nacionalismo.
Não daremos “nomes aos bois” neste texto, para evitar polemizar, mas todos conhecem bem quais foram as páginas, organizações e grupos, considerados “nacionalistas”, que deram apoio ao Bolsonaro “apenas no segundo turno”, “para evitar o mal maior” e mais uma tonelada de desculpas esfarrapadas, como se a única solução honrosa e óbvia não fosse a de se abster de se comprometer com um jogo eleitoral no qual, independentemente do resultado, o povo sairia perdendo.
Quando o barco do governo Bolsonaro começar a afundar, tal qual ratos, esses “nacionalistas” serão os primeiros a abandoná-lo e fingir que nunca deram qualquer tipo de apoio ao Bolsonaro. Ora, algumas dessas organizações deram apoio até mesmo ao Aécio Neves em 2014, sempre na justificativa do “mal menor” (!).
Quando a recessão continuar, quando as condições laborais piorarem, quando a renda permanecer estagnada ou cair, quando direitos forem perdidos, é sempre bom lembrar não só das olavetes, dos liberais e dos neopentecostais como parte integrante dessa vergonha, mas também de figuras pitorescas como Levy Fidelix e outros de tipo semelhante que apregoam ser “verdadeiros nacionalistas” (alguns grupos se dizem até os “únicos” nacionalistas), mas ajudaram a afundar o Brasil ainda mais.
Não existe nacionalismo no bolsonarismo e não existem nacionalistas no bolsonarismo. Em meio ao povo não-ideologizado e apolítico que nele votou, de fato há reivindicações e indignações legítimas, as quais hão de ser herdadas não pelo próprio bolsonarismo, nem pelo petismo, mas pela síntese dialética hegeliana de uma alternativa nacionalista popular que seja simultaneamente antipetista e anti-olavobolsonarista.
Ou, pelo menos, é isso que deve acontecer para que o Brasil seja salvo e libertado da prisão a que foi imposta pelas forças parasitárias do liberalismo hegemônico.