Massas obesas e fétidas se amontoam há horas nas portas de lojas varejistas de grandes redes mega corporativas. Rostos esmagados contra os vidros, deixando borrões de oleosidade, cheiro de cheetos, pizza ruim e lanche mofado do McDonald’s.
No horário de abertura, funcionários simultaneamente nervosos e excitados abrem os portões infernais.
Uma horda de criaturas quase-lovecraftianas irrompe como uma manada de mamutes pela entrada da loja. Os funcionários correm.
Um acaba sendo pisoteado e quebra uma das pernas.
Indiferente, a manada segue atrás de suas televisões de plasma finíssima de 50 e muitas polegadas com tecnologia de última geração.
Quando as televisões começam a acabar, a horda se volta contra si mesma.
Duas matronas obesas, uma branca e uma negra, com crianças remelentas usando roupas com personagens da Disney, se digladiam e esbofeteiam, enquanto um mexicano auxiliado por seus quinze filhos se aproveita da distração para levar a última caixa de TV.
O “Black Friday” não é mero evento empresarial.
É um verdadeiro culto religioso.
Um rito dedicado aos novos deuses do Consumo e do Mercado que foram erigidos pela elite americana no lugar do Deus Celestial.
É o ápice da alienação.
Trabalhadores dessas grandes redes varejistas são submetidos a ainda mais horas extras e, não raro, a riscos de segurança.
A propaganda enganosa ou as táticas de “dumping” fazem desse dia uma hecatombe para os pequenos empreendedores, que vêem seus possíveis clientes correndo na direção das grandes marcas, que oferecem ou preços falsamente reduzidos ou efetivas reduções que só as grandes megacorporações podem sustentar.
O fato de uma tradição que, sendo grotesca e infernal, tem o seu sentido de ser na cultura americana, ter sido importada para o Brasil com sucesso (e também por todo o resto da esfera dos países controlados pelo Ocidente) dá testemunho de nossa situação de subordinação e da dominação unipolar do atlantismo anglossaxão.
Os EUA se mostram, com este rito diabólico, a verdadeira e derradeira fonte dos males do mundo contemporâneo.
Os deuses que os EUA adoram não são o(s) mesmo(s) cultuado(s) pelos povos das outras civilizações e sociedades tradicionais.
O sangue, o suor e a dignidade dos trabalhadores são consumidos aos borbotões, enquando o mercado financeiro tem lucros bilionários, e os povos do mundo tem seus grilhões ainda mais fortalecidos com este rito anual.
À noite, as manadas se sentam em suas salas para ligar a TV nova e assistir os seus jornais ou programas na CNN, BBC ou Globo.
Ali, essas massas aprenderão que famílias gays são normais, que Putin e Kim Jong un são malignos, que o Brasil precisa de mais privatizações: tudo intercalado por fofocas sobre celebridades.
Uma verdadeira insubordinação precisa ser dirigida contra a colonização espiritual, ideológica, psicológica, geopolítica, política, cultural e econômica a que nosso país está submetido.
Belíssimo texto, filosofia sem paralelos… no entretanto, fiquei curioso com o trecho: “aprenderão que famílias gays são normais”. Ficaria grato com um esclarecimento, sem do seus conservadorismo, e respeito, também sou em vários sentidos. Mas nunca pensei o equívoco que é de uma família gay.. adoraria mesmo tal defesa do ponto de vista!
Existem hoje duas grandes pseudoreligioes nos Estados Unidos.
1. O neopentecostalismo que realmente pouco de cristianismo tem, sendo muito mais semelhante a um transjudaismo do que a qualquer doutrina tradicional crista. Fato que se comprova pela quantidade de neopentecostais que atualmente buscam a conversao.
2. Uma para-religiao civica, onde os “founding fathers” tem caracteristicas semelhantes aos semi-deuses da grecia, e o texto revelado eh a constituicao americana. Basta visitar Washington para sentir a atmosfera religiosa que cerca todos aqueles monumentos.