A leitura da imprensa europeia — e mesmo de parte da brasileira — sobre o “fenômeno Bolsonaro” vai no sentido de que estamos diante da ascensão do mesmo fenômeno chamado de “nacional-populismo” em partes da Europa e do mundo, e que vem ameaçando o establishment político nas potências ocidentais.
Daí a comparação de Bolsonaro com a Frente Nacional francesa, com o governo húngaro ou até mesmo o paralelo com eleição de Trump — três movimentos com diferenças capitais, mas que são jogados no mesmo saco do “nacional-populismo”.
Até mesmo o músico Roger Waters, ex-integrante do Pink Floyd, enveredou recentemente por esse caminho, acrescentando o nome de Bolsonaro à sua crítica ao “fascismo” de Putin, Trump, Órban, Le Pen, etc.
O que define esses movimentos no Hemisfério Norte, porém, seria basicamente a oposição que fazem ao comopolitismo e ao neoliberalismo que impulsionam a globalização financeira e a expansão das identidades pós-modernas.
Ora, Bolsonaro não se adéqua nem mesmo a essa sacola do “nacional populismo”, ampla o suficiente para abarcar projetos com divergências cruciais.
Embora represente uma reação parcial da população brasileira às identidades do cosmopolitismo ocidental — parcial porque fica na superfície mais tosca da real submissão do país à indústria cultural de massas, bombardeada desde os centros do capitalismo internacional —, Bolsonaro tem a intenção explícita de vincular o país aos fluxos da globalização financeira.
Bolsonaro pretende dar um choque neoliberal no país, com liberalização comercial e adesão à americanização, com direito até mesmo à independência do Banco Central. Nesse sentido, está na contramão dos assim chamados “nacional-populismos”, ainda que em suas características mais genéricas.
Um nacional-populismo brasileiro teria de ser a conjugação do nacional desenvolvimentismo e do trabalhismo, defendidos por uma longa linhagem de nacionalistas de nosso passado, com uma fundamentação na valorização da cultura tradicional brasileira, para além do mero conservadorismo moralista com que o candidato do PSL se vende para as massas.
Um verdadeiro nacional-populismo brasileiro ainda não aconteceu nesta década, e terá de surgir em oposição ao neoliberalismo e à americanização pretendida por Bolsonaro.
Nesse sentido, erra novamente a mídia. Bolsonaro não é fascista. E não só não é fascista, como também nada tem a ver com populistas como Trump, Le Pen, Putin, Salvini, Órban, Farage e várias outras figuras chamadas de “populistas” pelo establishment internacional.
Essas figuras estão todas elas indubitavelmente acima de Bolsonaro no que concerne a sua proximidade a um pólo multipolar e iliberal.
Descartada toda a mitomania desesperada da esquerda histérica, resta entender que Bolsonaro não passa de um Macri brasileiro com fetiches militaristas. Nada mais, nada menos.
Nem Bolsonaro!
Nem Haddad!
Precisamos de um verdadeiro populismo brasileiro.