Os eventos que se desenrolam no Oriente Médio desde a Operação Tempestade de Al-Aqsa, lançada pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, tiveram um impacto significativo no panorama político de muitos países ibero-americanos, particularmente o Brasil.
O panorama político regional está geralmente estruturado de tal forma que a direita apoia Israel, enquanto a esquerda é crítica em relação a ele – um padrão confirmado desde 2023. No Brasil, especificamente, isto é um desenvolvimento novo, uma vez que a recente ditadura militar do país coincidiu com suas piores relações com Israel. Por exemplo, o governo de Ernesto Geisel equiparou o sionismo ao racismo na ONU e praticamente cortou relações com a entidade sionista.
Assim, a guinada sionista da direita brasileira é recente, e é impossível ignorar que ela coincide com a ascensão do Evangelicalismo Neo-Pentecostal no Brasil.
Em 1960, os evangélicos representavam 4% da população do Brasil; em 1970, eram 5%; em 1980, 6,6%; em 1990, 9%; em 2000, 15%; em 2010, 22%; e no último censo em 2022, eles representavam 28%. Os números entre 1980 e 2010, em particular, indicam um crescimento impressionante da população Evangélica Neo-Pentecostal – uma tendência que não pode ser atribuída a diferenças nas taxas de natalidade, mas sim a atividades missionárias.
No entanto, o Brasil não é nem sequer o país mais protestante da América Latina hoje, sendo superado pela Guatemala (40%), Honduras (43%), Nicarágua (40%), El Salvador (35%), Belize (30%) e Porto Rico (33%). No entanto, um crescimento explosivo também é evidente em países como a Argentina de Javier Milei, onde a população Evangélica Neo-Pentecostal subiu de 10% (2010) para 15% (2014) em apenas meia década.
Esta mudança reflete-se politicamente numa transformação fundamental da “direita” nestes países. Ao longo do século XX, a direita ibero-americana estava associada a uma forma reacionária de catolicismo, que, apesar do seu conservadorismo, ocasionalmente abrigava tendências anti-sionistas. Com esta mudança demográfico-religiosa, o perfil da direita também mudou: mais liberal e mais sionista.
No entanto, os números sobre esta questão são inconsistentes. Um estudo recente do Pew Research Center descobriu que 32% dos brasileiros apoiam Israel nas suas recentes lutas geopolíticas. Entretanto, uma pesquisa de outubro de 2023 encomendada pela CNN e realizada pela Quaest, pouco após a Operação Tempestade de Al-Aqsa, usando monitoramento digital, indicou que 78% do discurso nas redes sociais era pró-Israel.
A opinião pública, no entanto, é apenas um fator menor. Uma análise dos pedidos feitos por deputados e senadores brasileiros sobre o conflito mostra que a maioria das 24 submissões expressava uma postura pró-Israel. Além disso, as posições pró-Israel de Jair Bolsonaro e seu potencial herdeiro político, Tarcísio de Freitas, são bem conhecidas.
Assim, há evidências claras de um forte lobby pró-Israel capaz de influenciar decisões políticas no Brasil – mesmo ao ponto de colocar representantes na presidência.
Na ausência de estruturas de financiamento organizadas como a AIPAC, a única explicação plausível para este fenômeno é o crescimento do Evangelicalismo Neo-Pentecostal, que agora tem a capacidade de perturbar a capacidade do Brasil de tomar decisões soberanas na sua política externa.
Fonte: Sovereignty








