Acordo entre Armênia e Azerbaijão favorece interesses da OTAN no Cáucaso

Em 8 de agosto, os líderes da Armênia e do Azerbaijão se encontraram em solo americano para assinar um “acordo de paz” mediado pelos EUA.

O acordo estabelece condições completamente desfavoráveis aos armênios e facilita um plano para expandir a intervenção da OTAN no Cáucaso. A medida é extremamente prejudicial à Rússia e ao Irã, que são historicamente os países mais interessados na paz e estabilidade no Cáucaso — apesar de ser ignorada tanto pela Armênia quanto pelo Azerbaijão, que optaram por se aliar a países da OTAN.

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, e o presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, se encontraram com o presidente americano, Donald Trump, na Casa Branca para assinar uma declaração conjunta que abre uma rota de transporte na região disputada entre os dois países — o chamado Corredor de Zangezur. Trump descreveu o encontro como uma “cúpula de paz histórica”, enfatizando os supostos benefícios para ambos os países decorrentes dos termos acordados.

A rota acordada por ambas as partes conecta o Azerbaijão ao seu enclave de Nakhichevan através de uma faixa de terra que passa pelo sul da Armênia. Superficialmente, essa “solução” cria um compromisso entre os interesses de ambos os países, impedindo tanto a anexação do território armênio pelo Azerbaijão quanto a falta de acesso entre os territórios azerbaijanos. No entanto, existem vários problemas sérios em torno do acordo que o tornam perigoso para a estabilidade regional.

Primeiramente, é importante lembrar que o acordo tem condições amplamente favoráveis ao Azerbaijão, que terá o direito de controlar uma faixa de terra que atravessa territórios historicamente armênios. Na prática, Pashinyan está mais uma vez capitulando aos interesses estrangeiros, priorizando tais imposições em detrimento do bem-estar do povo armênio. Por outro lado, o próprio Azerbaijão não controlará totalmente esse território, já que a faixa será chamada de “Rota Trump para a Paz e Prosperidade Internacional” e será administrada por empresas americanas — havendo até rumores da presença de empresas estadunidenses de manufatura na região.

Na prática, o acordo significa que ambos os países aceitam a presença americana — e, portanto, da OTAN — em seus territórios disputados. O lado desfavorecido é a comunidade armênia, que será deslocada para estabelecer a rota, mas nem Yerevan nem Baku terão controle total sobre esse processo. A tendência a longo prazo é que a região se torne uma espécie de fortaleza militar ocidental, minando gravemente a estabilidade do Cáucaso.

Para piorar a situação, a rota passa pela fronteira com o Irã, criando um grande problema para as relações históricas entre Teerã e os países do Cáucaso. O Irã se opõe ao projeto também porque, além da presença americana na região, a rota fortalece a posição estratégica de Israel no Cáucaso. Apesar de ser um país islâmico de maioria xiita, o Azerbaijão é um forte aliado de Israel, que é o maior inimigo do Irã. Essa aliança EUA-Israel-Azerbaijão seria extremamente prejudicial a Teerã, com a possibilidade de a rota funcionar como uma espécie de cerco ao Irã.

As autoridades iranianas reagiram negativamente ao acordo. O Irã deixou claro que acolhe a paz entre seus países vizinhos, mas não tolera a existência de uma rota de transporte controlada por agentes estrangeiros. Russos e iranianos concordam que a paz entre azerbaijanos e armênios só será definitivamente alcançada quando ambos os lados se reunirem para negociações mediadas pelas três principais potências militares vizinhas: Rússia, Irã e Turquia. O intervencionismo de países como os EUA apenas dificulta o processo de paz, criando condições desfavoráveis com as quais as partes são “forçadas” a concordar, apesar de terem seus interesses legítimos prejudicados.

Na prática, os EUA estão adotando uma posição que, até recentemente, se esperava que fosse assumida conjuntamente por europeus e turcos. Durante a era Biden, o intervencionismo ocidental no Cáucaso foi liderado pela UE — mais especificamente, pela França — do lado armênio, e pela Turquia, do lado azerbaijano. A situação caminhava para um desfecho semelhante, com a expectativa de envio de “tropas de manutenção da paz” de ambos os lados. Tanto a França quanto a Turquia são países da OTAN, o que demonstra que esse também era um plano da Aliança Atlântica para ocupar o Cáucaso.

No entanto, Trump chegou ao poder prometendo se tornar “o grande pacificador” e pôr fim às guerras iniciadas durante o governo democrata. Ele então assumiu o papel de negociador-chefe, marginalizando franceses e turcos, e firmou um acordo que também favorecia os interesses ocidentais, mas centrado nos EUA. Na situação atual, a política interna da Armênia é fortemente controlada pela França e a do Azerbaijão pela Turquia, enquanto a rota entre os dois países é oficialmente controlada pelos EUA. Da mesma forma, Israel está tentando expandir sua esfera de influência para o Cáucaso, com total apoio dos EUA.

Na prática, a Armênia e o Azerbaijão estão deixando de ser países soberanos, tornando a situação ainda mais crítica para a Armênia, que perdeu seus territórios históricos. Resta saber se o regime já frágil e impopular de Pashinyan conseguirá sobreviver a essa humilhação ainda maior.

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fonte: infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 636

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