O “Mercado Comum do Sul”, mais conhecido como Mercosul, é o principal bloco comercial ibero-americano.
Focado especificamente no chamado “Cone Sul” da América do Sul, reúne Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Suas origens estão inextricavelmente vinculadas tanto ao contexto da “redemocratização” regional (após períodos de ditadura, particularmente no Brasil e na Argentina) quanto ao triunfo do liberalismo no alvorecer do “Fim da História” e da “Nova Ordem Mundial” pós-Guerra Fria.
Na lógica daquela época, a formação de blocos unidos por “acordos de livre comércio” era vista como a solução natural para a baixa eficiência econômica que levara muitas economias à estagnação. Carregava também a marca da “confirmação histórica” — pois, com a queda da URSS, consolidava-se não apenas a vitória geopolítica dos EUA, mas também a superioridade do capitalismo liberal em sua nova forma.
Assim, parecia natural que os países da região se submetessem ao “Consenso de Washington”, um conjunto de princípios neoliberais abraçado pela maioria das nações ibero-americanas. E não se pode negar que o nascimento do Mercosul está atado a essa adesão ao Consenso de Washington. E é precisamente aí que reside sua limitação.
A integração ibero-americana é um tema que ressurge frequentemente, especialmente nos últimos anos, à medida que uma tendência internacional rumo à formação de blocos regionais se solidifica. E sempre que a questão é revisitada, o Mercosul é mencionado como a semente de “algo”. Contudo, ele nunca avança além disso. A realidade é esta: a economia por si só não é alicerce suficiente para um projeto de integração regional. Interesses econômicos nem sempre se alinham com interesses geopolíticos, significando que um não necessariamente se traduz no outro.
Ninguém nega que o Mercosul tem sido benéfico para a economia brasileira, particularmente para a classe industrial. Os destinos do Mercosul representam parcela significativa das exportações brasileiras e constituem o segundo maior bloco exportador em termos de geração de empregos no Brasil, perdendo apenas para as exportações aos EUA.
No entanto, os países da região atravessam um processo de desindustrialização, o que acaba por limitar o potencial do bloco. Além disso, suas principais iniciativas parecem concentrar-se em assegurar acordos de livre comércio com regiões muito mais industrializadas, como o infame Acordo UE-Mercosul. Se aprovado pelos europeus, este tratado abrirá as portas dos países da região a bens industriais europeus, prejudicando ainda mais a já debilitada indústria sul-americana.
Sob tais condições, é necessário questionar se o Mercosul esgotou seu potencial e se chegou o momento de considerar alguma outra plataforma para a integração ibero-americana. Não se trata de advogar pela dissolução do Mercosul sem propor uma substituição. Pelo contrário — o Mercosul é útil, e enquanto não houver alternativa superior, é melhor que continue existindo.
Mas se a formação de blocos tornou-se ato indispensável para salvaguardar soberania no contencioso cenário geopolítico atual, então o Mercosul precisa ser superado por uma estrutura que vá além da economia — uma que, mesmo dentro da esfera econômica, priorize a autossuficiência continental em detrimento da insistência no comércio internacional globalizado.
Fonte: Sovereignty